Nélson Veríssimo, o sexto bombeiro de serviço da história do Benfica
Nélson Veríssimo, de 43 anos, deverá tornar-se no sexto treinador interino da história do Benfica se até ao próximo sábado, às 21.15 horas, a SAD liderada por Luís Filipe Vieira não apresentar o sucessor de Bruno Lage. Nesse cenário, o antigo defesa-central que pertence aos quadros técnicos do clube da Luz desde 2012, irá sentar-se no banco para orientar a equipa frente ao Boavista, em jogo da 30.ª jornada da I Liga, pelo que se juntará a nomes como Cândido Tavares, José Valdivieso, Mário Wilson, Shéu Han e Fernando Chalana como bombeiros de serviço em momentos de crise, entre trocas de treinadores.
Uma função ingrata que regra geral não produz bons resultados, apesar de nas épocas 1951-52 e 1958-59 os técnicos de transição tenham conquistado a Taça de Portugal. No primeiro caso, Cândido Tavares foi escolhido para render o inglês Ted Smith pela segunda vez nessa temporada, pois em dezembro de 1951 o técnico principal tinha regressado a Inglaterra sem dar qualquer satisfação aos dirigentes do Benfica, tendo depois regressado em março como se nada fosse para reassumir o cargo.
Na altura, os dirigentes não deram qualquer explicação para o sucedido, mas a verdade é que assim que terminou o campeonato, Smith foi demitido, cabendo a Tavares liderar a equipa nos jogos da Taça de Portugal (na altura disputava-se após o término do campeonato). Foram sete jogos com cinco vitórias, a última das quais na final do Jamor frente ao Sporting, por 5-4.
Sete anos depois, a história repetiu-se quando o argentino José Valdivieso foi chamado para orientar a final da Taça de Portugal, seis dias depois de Otto Glória ter eliminado o Sporting nas meias-finais. O Benfica preparava-se para contratar Bela Guttmann para a época seguinte e, por isso, o carismático treinador brasileiro já nem foi ao Jamor. Os encarnados acabaram por levantar o troféu com uma vitoria por 1-0 frente ao FC Porto.
Foram os dois únicos casos bem-sucedidos no reino da águia. Mário Wilson foi o bombeiro de serviço (assim foi designado) por duas vezes, a primeira das quais a meio da época de 1996-97, quando o então presidente Manuel Damásio despediu o brasileiro Paulo Autuori e estava na iminência de contratar Manuel José. Foi apenas uma jornada, em janeiro de 1997, mas o Velho Capitão acabou por perder esse jogo de transição, em casa, com o Belenenses (1-2).
Passaram apenas oito meses e Mário Wilson estava novamente a ser chamado por Damásio para acudir a uma situação ainda mais complicada, afinal Manuel José foi demitido após uma derrota em Vila do Conde. Um desaire que acabaria por ditar também a queda da direção. O Velho Capitão teve então uma comissão de serviço mais longa, com seis jogos nos quais venceu três e empatou três. Nesse entretanto, Vale e Azevedo venceu as eleições e assumiu a presidência do Benfica, tendo contratado o escocês Graeme Souness para técnico principal.
O final de reinado de Souness na Luz não foi pacífico e no final da temporada 1998-99 bateu com a porta, em litígio com o polémico Vale e Azevedo, que recorreu a Shéu Han para os últimos quatro jogos da época, dos quais venceu dois, não evitando que o Benfica terminasse em terceiro lugar do campeonato.
O último interino da história do Benfica tinha sido Fernando Chalana, que foi chamado por duas vezes por Luís Filipe Vieira, já como presidente do clube. A primeira comissão de serviço foi em 2002-03, quando Jesualdo Ferreira foi demitido após ser eliminado da Taça de Portugal, na Luz, perante o modesto Gondomar. Enquanto decorriam as negociações com o espanhol José Antonio Camacho, o histórico número 10 encarnado assumiu a equipa num jogo com o Sp. Braga, que terminou com uma vitória encarnada por 3-0, numa partida que ficou assinalada pela descoberta da vocação de Miguel, que deixava de ser um mediano extremo para se tornar num excelente defesa-direito.
Curiosamente, no final da época 2007-08, Camacho dava por finalizada a sua segunda passagem pelo Benfica, após um empate em casa com a União de Leiria. Vieira voltou a recorrer a Chalana, que comandou a equipa nos dez jogos que restavam, dos quais apenas conseguiu vencer três, tendo perdido quatro, sendo que dois desses desaires resultaram na eliminação da Taça UEFA perante os espanhóis do Getafe e nas meias-finais da Taça de Portugal com o Sporting.
Nélson Veríssimo terá pela frente seis jogos. E se na I Liga não restará mais do que assegurar o segundo lugar e a consequente qualificação para a 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, o técnico terá ainda a final da Taça de Portugal, com o FC Porto, que se vencer repetirá as façanhas de Cândido Tavares e José Valdivieso.
Natural de Vila Franca de Xira, Nélson Veríssimo começou a sua carreira de futebolista no Atlético Povoense, mas aos 12 anos mudou-se para as camadas jovens do Benfica onde fez todos os escalões de formação até chegar a profissional. Estreou-se na equipa principal a 9 de março de 1996 pela mão de Mário Wilson, que o lançou como titular numa partida com o Desp. Chaves, na Luz, que os encarnados venceram por 2-0. Foi o primeiro de três jogos consecutivos de águia ao peito nessa temporada, sendo que na seguinte foi jogar para o Alverca, que na altura era equipa satélite do Benfica, embora tenha sido chamado por Paulo Autuori para um jogo dos encarnados com o Boavista.
A carreira de futebolista de Veríssimo, a quem os colegas carinhosamente chamavam de "doutor", foi dividida entre a I Liga (221 jogos) e a II Liga (149 partidas) também com as camisolas da Académica, V. Setúbal, Fátima e Mafra, onde em 2012 terminou uma carreira que teve como pontos altos a conquista de duas Taças de Portugal, pelo Benfica e o V. Setúbal.
Foi já com o curso de treinador que regressou ao clube da Luz, mais concretamente ao Seixal, onde integrou a equipa técnica de Luís Norton de Matos para orientar a equipa B dos encarnados. Foram sete épocas e meia como adjunto, depois de Hélder Cristóvão e de Bruno Lage.
Quando em janeiro de 2019, Rui Vitória foi despedido da equipa principal do Benfica após uma derrota em Portimão, Bruno Lage foi chamado para substituí-lo, mas Veríssimo manteve-se na equipa B assegurando a transição da equipa para Renato Paiva, que entretanto subiu dos juniores. Foi a sua primeira experiência como treinador principal e nos três jogos à frente da equipa empatou com o FC Porto B no Olival, e perdeu com Sp. Braga B e V. Guimarães B.
Acabaria por seguir para a equipa técnica de Bruno Lage, que várias vezes enalteceu o seu trabalho na preparação das bolas paradas da equipa. Agora, terá de ser ele a comandar a nau encarnada que navega por mares bastante revoltos, afinal nos últimos 13 jogos só venceu um... ganhar ao Boavista já seria um ponto de viragem para o Benfica e, consequentemente, para o homem da casa Nélson Veríssimo.