Martina Navratilova junta-se ao debate e critica Serena

Antiga campeã defende que o árbitro português Carlos Ramos aplicou as regras
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Haverá poucas vozes mais autorizadas do que a de Martina Navratilova para falar do incidente entre Serena Williams e Carlos Ramos na final feminina do US Open. Porque a checa naturalizada norte-americana foi uma das maiores campeãs da modalidade (18 títulos do Grand Slam), claro, mas também porque, tal como Serena, teve de derrotar o preconceito e lutar pela igualdade de tratamento ao longo de uma carreira na qual cedo se assumiu publicamente como homossexual, ainda no início da década de 1980.

Forte ativista cívica em defesa de variadas causas - seja pelos direitos humanos, pela igualdade de género ou pelos direitos da comunidade LGBT, entre outras - Martina Navratilova juntou-se ao debate sobre os incidentes da final do último sábado e defendeu o árbitro português Carlos Ramos.

"Serena Williams tem parte da razão", começa por escrever Navratilova num artigo de opinião publicado esta segunda-feira no jornal norte-americano New York Times. "Há uma grande diferença de tratamento para com as mulheres em relação a como o mau comportamento é tolerado ou não - e não apenas no ténis", concorda a antiga campeã, para depois, no entanto, criticar a forma como se comportou na final.

"Mas, nos protestos contra o árbitro durante a final de sábado do US Open, ela também está em parte errada", escreve Navratilova, para depois detalhar os seus argumentos na crítica a Serena. "Não me parece que seja boa ideia aplicar um critério de 'se os homens se livram sem castigo, as mulheres também deveriam livrar-se'. Parece-me que a questão que devemos colocar a nós próprias é: 'qual é a melhor forma de honrar o nosso desporto e de respeitar os adversários?'"

"A sr.ª Williams optou por discutir sobre o seguinte: insistiu que não fez batota, que não recebeu instruções do treinador e que, portanto, não deveria ter sido penalizada. Mas não importa se ela sabia que estava a receber instruções ou não. Ela estava, efetivamente, como o sr. Mouratoglou [o treinador] admitiu após a partida. E se ela sabia ou não, não é o importante. Portanto, nessa altura, ela recebeu um aviso - o qual não poderia ser anulado retroativamente - e atirou depois a sua raquete ao chão, uma violação automática. O sr. Ramos, efetivamente, não tinha outra opção que não retirar-lhe um ponto", explica Navratilova.

E acrescenta: "Foi aqui que a sr.ª Williams começou realmente a perder a compostura. Ela e o sr. Ramos começaram, efetivamente, a falar um por cima do outro. Ela insistia que não fez batota - completamente defensável, mas não era esse o ponto -, enquanto ele fazia um call sobre o qual, a determinada altura, foi muito pouco discreto."

Sobre o facto de Serena Williams ter chamado "ladrão" e "mentiroso" a Carlos Ramos, Navratilova considera que "é duvidoso e questionável saber se ela poderia ter escapado a uma sanção por isso se fosse um homem". Mas focar nisso, prossegue, "é não ver o ponto certo da questão".

"Se, de facto, os homens são tratados de forma diferente em casos de transgressão das regras, isso precisa de ser analisado e corrigido. Mas não podemos atuar de acordo com o que achamos que deveríamos poder fazer para escapar às regras também", aponta a antiga tenista, que ganhou 177 torneios WTa ao longo da carreira (recorde da Era Open).

"A sr.ª Williams foi maravilhosa na forma como se dirigiu à sr.ª Osaka no final da partida. Uma verdadeira campeã. Mas durante a partida... bom, já foi dito o suficiente", refere, num artigo no New York Times que pode ler aqui.

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