Marcar três golos a equipas inglesas. Os exemplos para o FC Porto se agarrar

O FC Porto tem nesta quarta-feira uma missão complicada frente ao Liverpool e precisa de vencer por três golos de diferença para se apurar para as meias-finais da Champions. Nas provas da UEFA, seis equipas portuguesas conseguiram marcar três ou mais golos a clubes ingleses em 19 ocasiões. Conseguirão os dragões repetir a proeza?
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O FC Porto precisa de marcar nesta quarta-feira três golos ao Liverpool e não sofrer nenhum para se apurar para as meias-finais da Liga dos Campeões (ou então vencer por três golos de diferença) - na primeira mão, em Anfield, os dragões perderam por 2-0. Uma missão hercúlea, sobretudo tratando-se do atual líder da Liga inglesa. É verdade que nunca uma equipa portuguesa conseguiu esta façanha frente aos reds, mas a história das competições europeias mostra que em 19 ocasiões os clubes lusos conseguiram apontar três ou mais golos contra conjuntos ingleses, apesar de nem sempre o resultado ter sido suficiente para passar a eliminatória.

Comecemos precisamente pelo FC Porto, que em quatro confrontos foi capaz deste feito. A maior goleada dos dragões a equipas inglesas aconteceu já neste século, na época 2016-2017, quando receberam e venceram o Leicester de Claudio Ranieri - que ostentava o título de campeão inglês - por 5-0 na fase de grupos da Liga dos Campeões, com golos de André Silva (2), Corona, Brahimi e Diogo Jota.

Mas há mais três casos que podem servir de inspiração para esta quarta-feira. Em 1984-1985, na já extinta Taça das Taças, a equipa na altura liderada por Artur Jorge bateu nas Antas o Wrexham por 4-3, mas o resultado não chegou porque na primeira mão disputada fora perderam por 1-0. Depois há ainda um histórico 4-0 ao Manchester United também na Taça das Taças de 1977-1978 (com três golos de Duda) que permitiu anular a derrota por 4-2 sofrida na primeira mão e um 4-0 ao Wolverhampton na Taça UEFA de 1974-1975, que também chegou para passar à segunda ronda da prova.

O Benfica e o Sporting também têm boas memórias de resultados por três ou mais golos contra emblemas britânicos. Em relação às águias, o mais memorável é provavelmente o 1-3 em Highbury frente ao Arsenal de David Seaman e Tony Adams na Taça dos Campeões Europeus, num jogo com golos de Isaías (2) e Kulkov que só foi decidido no prolongamento e permitiu ao clube da Luz seguir em frente na prova. Já o resultado mais volumoso diante de equipas inglesas aconteceu neste século, na temporada 2009-2010, com um concludente triunfo sobre o Everton por 5-0.

No Sporting, o confronto mais emblemático foi sem dúvida o 5-0 ao Manchester United nos quartos-de-final da Taça das Taças de 1963-1964. Os leões tinham perdido o jogo da primeira mão em Old Trafford por 4-1 e poucos acreditavam no milagre. Mas ele aconteceu, numa partida épica em Alvalade com três golos de Osvaldo Silva. O Sporting haveria de vencer a prova nesse ano. Já neste século, os leões conseguiram por três vezes bater equipas britânicas, sempre em jogos da Taça UEFA - 3-0 ao Everton em 2009-2010; 4-1 ao Newcastle em 2004-2005 e 3-2 ao Middlesbrough na mesma temporada.

Sp. Braga, V. Setúbal e V. Guimarães são os outros representantes portugueses que conseguiram marcar três golos a clubes britânicos em provas europeias. Os arsenalistas neste século venceram o Birmingham fora por 1-3 na Liga Europa e o Portsmouth na Liga Europa por 3-0. Os feitos do V. Setúbal são mais antigos. Em 1973-1974 bateram no Bonfim o Leeds por 3-1, seguindo em frente na Taça UEFA depois de terem perdido o primeiro jogo por 1-0. Antes, em 1968-1969, venceram em casa o Newcastle por 3-1, resultado que contudo não foi suficiente porque na primeira mão foram derrotados por 5-1. O V. Guimarães também tem um confronto contra britânicos em que a equipa marcou três golos - foi um empate a três bolas com o Southampton na Taça das Cidades com Feiras de 1969-1970.

Dragões nunca viraram um 2-0

Nesta quarta-feira, frente ao Liverpool, o FC Porto vai ter de fazer o que nunca na história das provas europeias conseguiu: virar um resultado desfavorável de 2-0 na primeira mão num jogo fora de casa. Os dragões já viveram este cenário em quatro ocasiões. A primeira vez aconteceu na época 1975-1976. Na terceira eliminatória da Taça UEFA, o FC Porto treinado pelo jugoslavo Branko Stankovic foi derrotado na Alemanha por 2-0, golos de Horst Bertl e Georg Volkert (de penálti), numa partida em que a UEFA decidiu após o jogo punir Oliveira com quatro jogos de suspensão, Tibi e Gabriel com três e Dinis com dois. Desfalcado no jogo da segunda mão, nas Antas, os dragões venceram por 2-1 (golos de Júlio e Cubillas), mas não chegou para o apuramento.

Em 1981-1982, nos quartos-de-final da Taça das Taças, depois de eliminarem a Roma, os dragões cruzaram-se com o Standard de Liège. Os belgas venceram o primeiro jogo por 2-0 (um dos golos foi apontado por Gabriel na própria baliza) e depois, nas Antas, registou-se um empate a dois golos, mas de nada valeram os golos marcados por Jacques e Walsh. Pela segunda vez o FC Porto não conseguia dar a volta a uma desvantagem de 2-0 no jogo da primeira mão.

Na temporada 1985-1986, a sorte foi madrasta para os dragões então treinados por Artur Jorge, que logo na segunda eliminatória da Taça dos Campeões Europeus tiveram de medir forças com o Barcelona de Terry Venables, numa equipa em que, entre outros, pontificava o alemão Bernd Schuster. Em Camp Nou, o FC Porto saiu derrotado por 2-0, golos de Schuster e Marcos Alonso que Zé Beto não conseguiu travar. Mas na segunda mão, nas Antas, esteve quase a fazer-se história, com dois golos de Juary (67' e 70') a permitirem aos dragões empatarem a eliminatória. O golo do escocês Steve Archibald, aos 78', deitou por terra as esperanças portistas, apesar de aos 89' Juary ainda ter marcado o terceiro dos dragões. Mas a vitória por 3-1 não foi suficiente.

A última vez que o FC Porto se viu com uma desvantagem de 2-0 numa eliminatória foi na temporada 2015-2016. Nos 16-avos da Liga Europa, os dragões deslocaram-se a Dortmund para defrontarem os alemães treinados por Thomas Tuchel, atual treinador do PSG. Sob o comando de José Peseiro, o jogo terminou com o triunfo dos germânicos por 2-0, com golos de Piszczek e Marcos Reus. Na segunda mão, no Dragão, o Dortmund voltou a vencer, desta feita por 1-0, num golo dividido entre Aubameyang e Casillas - a bola bateu nos ferros e depois no guardião espanhol.

Exemplos que servem de inspiração

Apesar de a história não favorecer o FC Porto, não faltam exemplos de reviravoltas históricas na Liga dos Campeões que podem servir de inspiração à equipa de Sérgio Conceição. A maior de sempre aconteceu na época 2016-2017, nos oitavos-de-final da prova, quando após ser goleado por 4-0 em Paris diante do PSG, o Barcelona conseguiu um verdadeiro milagre e cilindrou os franceses em Camp Nou por 6-1, com o golo que apurou os catalães a ser marcado já nos descontos por Sergi Roberto.

Mas houve mais. Na época passada, o Barcelona venceu confortavelmente a Roma na Catalunha, por 4-1, nos quartos-de-final da Champions. Ninguém acreditava num milagre, mas ele aconteceu, com os romanos a vencerem o jogo da segunda mão em casa por 3-0 e a seguirem em frente na prova. O Deportivo da Corunha, em 2003-2004, também conseguiu uma reviravolta histórica. Perdeu por 4-1 com o AC Milan em Itália e bateu os rossoneri por 4-0 em Espanha no jogo da segunda mão.

Com dois golos de diferença são vários os exemplos e um deles até envolveu o FC Porto, mas pela negativa. Na temporada 2014-2015, nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, os dragões venceram em casa o todo-poderoso Bayern Munique por 3-1. Mas no jogo decisivo, na Alemanha, foram goleados por 6-1 (!).

Há também um jogo célebre envolvendo uma equipa portuguesa nas provas europeias que está na história como uma das maiores recuperações de sempre. Em 1961-1962, na já extinta Taça das Taças, o Leixões, naquela que era a sua primeira participação na prova, foram esmagados (6-2!) pelos suíços do La Chaux-de-Fonds. Ninguém acreditava numa reviravolta, mas a verdade é que ela aconteceu naquele dia 5 de outubro de 1961, em pleno Estádio do Mar. A equipa de Matosinhos, que era treinada pelo espanhol Filipo Nuñez, bateu os suíços por 5-0 e apurou-se - Osvaldo Silva fez o 2-0 ainda antes do intervalo, com Oliveirinha, que tinha feito os dois golos dos leixonenses na primeira mão, a marcar por duas vezes no segundo tempo, e com Ventura a fazer o outro golo da equipa portuguesa.

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