Mais do que um jogo. Inter à procura de acabar com o domínio da Juventus de Ronaldo
O Inter Milão tem este domingo (19.45 horas) o verdadeiro teste às suas capacidades de tentar destronar a Juventus do domínio absoluto que tem exercido no futebol italiano, onde conquistou os últimos oito títulos de campeão. Os nerazzurri vão entrar em campo na liderança do campeonato com seis vitórias em outros tantos jogos, com mais dois pontos de vantagem sobre a Juve.
Este é um dos jogos que desperta mais paixões em Itália, sendo por isso sido apelidado de "Derby D'Itália" há mais de 50 anos. Normalmente, o termo dérbi é dado a confrontos entre equipas da mesma cidade, mas a grande rivalidade entre aqueles que eram considerados os clubes com mais adeptos do país, levaram a que este duelo ficasse assim batizado. Ainda para mais porque sempre representou um confronto entre as duas cidades mais industriais e economicamente mais poderosas do país e também porque durante décadas foi também um duelo de famílias poderosas: Agnelli e Moratti.
A rivalidade entre as duas famílias tornou-se mais intensa na época de 1960/61, numa altura em que a Juventus liderada por Umberto Agnelli procurava o seu segundo título consecutivo e Angelo Moratti começava a construir a melhor equipa da história do Inter, que havia de ser campeã europeia à custa do Benfica, em 1965. Os dois clubes encontraram-se a 16 de abril de 1961, na 28.ª jornada, com o Estádio Comunale de Turim sobrelotado, o que provocou uma invasão de campo ainda na primeira parte, levando a que a partida fosse cancelada, com a federação a dar a vitória ao Inter, que assim diminuía para dois pontos a desvantagem para a Juventus.
Só que um recurso de Umberto Agnelli levou a que a federação acabasse por decidir que o encontro teria de ser repetido. No dia seguinte a essa decisão na secretaria, que obrigou a que fossem retirados dois pontos ao Inter, realizou-se a última jornada do campeonato com a Juve na liderança com esses dois pontos de avanço. Mas à mesma hora que a Juventus empatava em casa com o Bari, o Inter perdia em Catania, entregando de imediato o título à Vecchia Signora, que ficava com três pontos de avanço, numa altura em que cada vitória valia ainda dois pontos.
O jogo de repetição realizou-se a 3 de julho, já com o título atribuído. Em protesto contra a decisão federativa, Angelo Moratti, presidente do Inter, obrigou que a sua equipa entrasse em campo com os juniores, daí resultando a maior goleada da história destes duelos: 9-1 para a Juventus, pois claro. Se na vida empresarial, as famílias Agnelli e Moratti já disputavam a supremacia, depois deste episódio a rivalidade estendeu-se também para o futebol.
É comum dizer-se em Itália que quando um dos rivais está numa onda de sucesso, o outro está em crise. E os últimos anos provam isso mesmo, pois o Inter emergiu em 2005/06 quando a Juventus caiu na segunda divisão devido a um escândalo de corrupção. Os nerazzurri conquistaram então cinco scudettos consecutivos, rompendo com um jejum de 16 anos. Em 2010/11, o AC Milan quebrou esse domínio do Inter, emergindo depois a Juve com uma série de oito títulos que dura até agora.
É esse domínio da Vecchia Signora que está em jogo este domingo. Em caso de triunfo, o Inter aumenta para cinco pontos a vantagem sobre o rival e assume-se, de facto, como o grande candidato a acabar com o domínio da Juve. Após saída de José Mourinho após a conquista da Liga dos Campeões em 2010, o Inter entrou numa sequência de nove épocas de contínuas frustrações, durante as quais apenas venceu uma Taça de Itália e uma Supertaça.
Mas neste ano, a administração do clube resolveu investir forte na formação de uma equipa capaz de regressar à ribalta, apostando na contratação do treinador Antonio Conte, responsável pelo início do domínio da Juventus quando conquistou os três primeiros títulos desta série de oito. Será assim uma noite em que o técnico italiano terá a missão começar a destruir o "monstro" que ajudou a criar. Além disso, o Inter investiu 155 milhões de euros em novos jogadores, dos quais 65 milhões foram para garantir o avançado Romelu Lukaku, que chegou do Manchester United.
A Juventus apostou entretanto no treinador Maurizio Sarri, para continuar o ciclo vitorioso de Conte e Massimiliano Allegri, apresentando como grande trunfo Cristiano Ronaldo, a quem juntou alguns reforços para rejuvenescer a equipa como foram os casos de o defesa holandês Matthijs De Ligt ou o médio francês Adrien Rabiot, gastando um total de 188,5 milhões de euros.
São estes dados que estarão este domingo no relvado do Giuseppe Meazza, naquele que será o 219.º jogo oficial entre os dois rivais, sendo que a Juventus tem uma larga vantagem de triunfos: 101 contra 62 do Inter.
O Inter Milão vai ficar para sempre ligado à história da carreira de Cristiano Ronaldo. A 14 de agosto de 2002, num jogo de qualificação para a Liga dos Campeões, entre o Sporting e o clube italiano, CR7 estreou-se nas competições da UEFA, sendo lançado no jogo de Alvalade pelo romeno Laszlo Bölöni quando estavam decorridos 58 minutos, substituindo o espanhol Toñito.
Eram os primeiros passos daquele que é hoje um dos melhores jogadores da história do futebol, ainda que nessa partida não tenha conseguido fazer a diferença, pois registou-se um empate a zero. Dessa equipa nerazzurra faziam parte estrelas como Francesco Toldo, Javier Zanetti, Christian Vieri e Sérgio Conceição, atual treinador do FC Porto. Ronaldo não viajou depois para Itália para a partida da segunda mão e o Inter acabou por vencer por 2-0, seguindo em frente para a fase de grupos da Champions.
Cristiano Ronaldo fez depois mais cinco jogos com o Inter e nunca perdeu, somando três empates e duas vitórias, com dois golos marcados, o último dos quais na época passada, uma a igualdade 1-1 no Estádio Giuseppe Meazza, numa altura em que a Juventus já tinha o título no bolso. Isto depois de na primeira volta CR7 ter sido titular na vitória da Juventus em casa perante o Inter, por 1-0, com um golo de Mandzukic a passe de João Cancelo.
Os outros dois jogos com o Inter Milão foram para os oitavos-de-final da Champions. Ronaldo representava o Manchester United e foi a Itália empatar a zero, resolvendo a eliminatória em Old Trafford com um triunfo por 2-0, com Vidic a abrir o marcador e Ronaldo a fechá-lo, após um passe de Rooney. Do outro lado, o Inter era treinado por José Mourinho e contava no seu plantel com outra estrela portuguesa, Luís Figo, além do guarda-redes Júlio César, o eterno Javier Zanetti e um tal de Zlatan Ibrahimovic.