Jogadores do Cosmos recordam Seninho, o Travolta elegante que nunca se zangava

Quatro jogadores da célebre equipa de Nova Iorque dos anos de 1970 e 1980 contaram histórias do extremo português que morreu no início do mês.
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O New York Cosmos, clube dos Estados Unidos que entre 1970 e 1985 juntou algumas das maiores estrelas do futebol mundial, publicou no seu site oficial uma homenagem a Seninho, jogador português que se notabilizou no clube entre 1975 e 1982, e que morreu no início deste mês.

O clube destaca os títulos que o antigo extremo do FC Porto ganhou no clube, onde foi três vezes campeão da NASL (a liga profissional de futebol naquela altura) e faz um pouco a história do atleta nascido em Angola.

Werner Roth, antigo capitão e defesa-central da equipa, recorda o primeiro golo de Seninho com a camisola do Cosmos. Foi num jogo de exibição com a equipa das estrelas da FIFA, no qual Johan Cruyff jogou pelos nova-iorquinos. A estrela holandesa fintou três adversários em direção à bandeirola de canto e, de repente, cruzou a bola para a entrada da grande área, onde estava o português que "já estava a atacar a bola e rematou um foguete ao canto superior direito da baliza". "O Seninho jogou a um nível completamente diferente", assumiu Roth, que desde logo ficou impressionado pela qualidade do extremo que tinha chegado do FC Porto.

"Era um grande jogador de equipa, não era nada egoísta com a bola. Tinha velocidade, habilidade e remate certeiro. Não podíamos dar espaço porque ele aproveitava", assume Werner Roth, atualmente com 72 anos.

O antigo médio Boris Bandov, um bósnio naturalizado americano, recorda Seninho com "um cavalheiro" e conta um episódio que envolveu Allie Sherman, que era treinador dos New York Giants, equipa de futebol americano. Conta Bandov, que o técnico disse certo dia que "não tinha nenhum receiver [recetor] tão bom como Seninho, com aquela mudança de velocidade, que se quisesse seria um dos melhores da NFL", a liga profissional de futebol americano.

Bandov lembra que Seninho "era conhecido pelos companheiros como Travolta, por causa do seu amor pela dança de discoteca". "Costumávamos ir para as Bahamas na pré-temporada e lá ficávamos durante um mês. Um dia, estávamos em uma discoteca. Éramos cinco ou seis jogadores, entre os quais o Giorgio Chinaglia... e havia muitas raparigas na discoteca. O Seninho era sempre educado em tudo o que fazia. No centro da pista, havia um grande espelho redondo e ele pediu a uma rapariga estranha para dançar, ela aceita, mas quando ele repara no espelho, começa a dançar em frente ao espelho, largando a rapariga que... fugiu. E então o Giorgio deu-lhe um raspanete", conta o antigo médio, agora com 66 anos.

Boris Bandov revela ainda que costumavam chamar Seninho de "Elegante" porque fazia questão de andar sempre bem vestido, "na moda".

Ainda assim, não escapou de uma situação embaraçosa em Toronto, num jantar do Soccer Bowl 81. O antigo avançado canadiano David Norris lembra que todos os jogadores foram vestidos com smoking. "Os smokings foram entregues nos nossos quartos e, quando estava a vestir-me, verifiquei que o meu era muito pequeno. Era tarde de mais para trocá-lo... até que vejo o Seninho com um smoking demasiado grande para ele... tinham-nos trocado. Foi uma risada. Eu sei que foi Boris quem trocou os fatos e eu e o Seninho éramos sempre as vítimas", contou.

"Acho que o Seninho nunca teve uma discussão em sua vida", complementa Bandov, que recorda as gargalhadas do português.

Quem mais ficou chocado com a notícia da morte do antigo futebolista português foi Chico Borja, avançado equatoriano também naturalizado americano, que era um novato em 1982 e dividia o quarto com Seninho. "Ele estava sempre feliz, sempre a sorrir, nunca deixava as coisas o incomodarem. Quando me deram a notícia, doeu-me. Ele era mais do que um amigo, tornou-se num irmão mais velho quando entrei no Cosmos", revela o antigo futebolista agora com 70 anos..

Werner Roth, Boris Bandov, David Norris e Chico Borja foram apenas alguns dos jogadores que partilharam o balneário do New York Cosmos com Seninho, que jogou ao lado de estrelas como os holandês Johan Neeskens, o brasileiro Carlos Alberto, o alemão Franz Beckenbauer ou o italiano Giorgio Chinaglia.

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