"Um agente é uma mais-valia. Mas relação com o jogador tem de ir muito além dos números"

Pedro Nogueira lança esta quinta-feira o livro "Agente de Jogadores: Uma mais-valia ou um mal necessário", um olhar sobre esta atividade, com recurso a dezenas de depoimentos de várias personalidades do desporto português, e que segundo o autor tem uma imagem negativa junto das pessoas, mas é uma mais-valia.
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Começou por ser uma tese e agora com algumas reformulações foi passada para livro. Chama-se "Agente de Jogadores: Uma mais-valia ou um mal necessário", vai ser esta quinta-feira apresentado, e pretende esclarecer e dissecar a importância de um empresário de jogadores de futebol, as circunstâncias que envolvem esta atividade, a relação com os jogadores e os clubes, entre muitos outros temas. Pedro Nogueira, 28 anos, o autor do livro, tirou o curso de gestão de empresas e fez o mestrado em Desporto na Faculdade de Motricidade Humana. Apaixonado por futebol, chegou a tirar o curso de treinador de I nível, mas hoje em dia trabalha para uma marca desportiva e é responsável pelos mercados de Portugal, Espanha e América do Sul.

O livro está dividido em vários capítulos e subcapítulos, que passam pelos conceitos-chave para o entendimento da atividade de agente de jogadores e o seu enquadramento no futebol; se os agentes são saudáveis ou prejudiciais, as dinâmicas do agenciamento e os aspetos técnicos da atividade. Para isso conta com testemunhos e opiniões de dezenas de personalidades, desde empresários a jogadores como Luís Figo e Nuno Gomes, passando por dirigentes e presidentes de clubes. A ideia, diz nesta entrevista, era ouvir os três lados e dar a conhecer um pouco mais desta atividade que é vista pela grande maioria das pessoas de uma forma negativa.

Como surgiu a ideia de escrever este livro?

Nasce de uma tese, que fiz em 2014. É um tema que sempre me fascinou, pois identifico-me com a figura do agente, com o serviço e mais valia que pode acrescentar não só aos atletas, mas também aos clubes. Por outro lado é um tema que me apaixona por ser pouco explorado, porque praticamente não há nada escrito sobre o tema. Aliás, tive muitas dificuldades em consultar bibliografia. Quando se fala em empresários de futebol é mais de senso comum, as pessoas têm uma opinião muito negativa sobre estes agentes, que ganham muito dinheiro, que são dispensáveis e que não são saudáveis para o futebol. Por isso pensei numa série de temas de forma a esclarecer a dinâmica desta atividade, porque é que os clubes recorrem a agentes quando estes servem apenas de intermediários e não são representantes de jogadores, quanto é que ganham, quais são as vantagens para um jogador estar ligado a apenas um agente e muitos outros temas.

Porquê o título "Agente de Jogadores: Uma mais-valia ou um mal necessário"? Há dúvidas de que são uma mais-valia?

As dúvidas existem, é inegável e prende-se com o facto de a opinião generalizada das pessoas ser muita negativa, e por isso a pergunta é imediata. O livro procura de forma objetiva dar respostas através de testemunhos dos maiores players do mercado, sejam agentes, jogadores ou dirigentes de clubes. A minha preocupação foi passar os três lados e não apenas um, para as pessoas ficarem com uma visão global. No fundo acabo por explicar que na sua essência um agente pode ser claramente uma mais-valia.

Chegou a essa conclusão positiva... apesar de também existirem aspetos negativas nesta atividade...

É sempre muito redutor. Um político é uma mais-valia? Temos de ver caso a caso, mas na génese da atividade e depois de vermos o que a figura do empresário pode prestar ao futebol em geral, seja da parte dos jogadores, seja da parte dos clubes, pode ser uma mais-valia sim. É inegável.

Quantos anos demorou esta pesquisa e com quantas pessoas falou?

Acabaram por ser cinco anos de trabalho. Eu terminei a minha tese em julho de 2014, depois quando terminei não comecei a trabalhar no livro no dia a seguir, mas foi muito pouco tempo depois, penso que em outubro de 2014. Eu para a tese usei 23 entrevistas, e para o livro acabei por usar 56. Alarguei o âmbito de entrevistados, porque havia muita gente que eu queria ouvir, desde presidentes, empresários, diretores desportivos, jornalistas e advogados, para ter uma visão global de todas as partes.

Teve muitas recusas?

Não, sinto que houve uma grande recetividade pela forma como eu abordei o tema, ou seja, em nenhum momento procurei fazer um trabalho subjetivo e polémico. Nada disso. Foi sempre numa perspetiva construtiva e de elucidação, e isso acho que acaba por ser benéfico para todas as partes.

O livro passa bons exemplos... pela negativa há só alguns relatos na parte de quando os agentes começam a representar jogadores ainda muito novos, menores de idade...

Sim, mas não são dados exemplos em concreto. Em situações de jogadores menores de idade existem sempre figuras no mercado que acabam por puxar o jogador e não oferecer a estabilidade necessária. Mas também existem uma série de exemplos dados no livro que são fundamentais para os jogadores jovens. Voltamos sempre aquela questão inicial de na essência o agente ser uma mais-valia, porque mesmo que seja muito jovem, se o agente lhe conseguir dar o suporte e conseguir garantir a estabilidade, como o presidente Júlio Mendes disse e o próprio Luís Figo, quer em termos de carreira quer em termos financeiros, acaba por ser uma mais-valia.

É possível no mercado atual um jogador não ter empresário?

É muito difícil e esse é um dos tópicos mais abordados no livro. Mas é preciso ver isso como um aspeto normal. O mercado está tão dinâmico e global, e aparecem tantos estímulos de tantas partes, com o jogador a ser aliciado por todos os lados, que se não tiver um elemento que consiga bloquear esses estímulos e tentar garantir alguma tranquilidade, acho que para o jogador acaba por ser prejudicial. Se não tiver ao seu redor pessoas que façam esse trabalho, o jogador vai acabar por perder o seu foco do treino, do desenvolvimento das suas aptidões e por consequência da sua carreira.

Um dos aspetos que salta à vista no livro é que a relação entre um jogador e o empresário não pode ser apenas profissional. É mesmo assim?

Sim. Numa profissão em que se tem de lidar com muita gente e sobretudo negociar, isso acaba por ser uma condição indispensável. A relação tem de ir muito além dos números, da assinatura de contratos, Estamos a falar de uma relação que se quer longa e de confiança, por isso é indispensável que essa relação não seja apenas profissional. Acaba por ser normal que se crie uma relação forte a nível pessoal para ter sucesso e a parceria resulte.

Por​​​​​​​ que é que os empresários são pessoas tão reservadas. Raramente dão entrevistas e pouco se mostram?

Não vejo motivo para que isso aconteça. Na minha perspetiva, e foi por isso também que escrevi o livro, deve ser uma profissão o mais aberta possível para também passar uma imagem de transparência. Tendo o agente hoje em dia um papel tão importante e sendo que vários dos agentes são mais mediáticos até do que alguns jogadores, acho que também nesse sentido, até por uma responsabilidade com as pessoas ligadas ao desporto, neste caso particular ao futebol, devem estar mais abertos. Era positivo que isso acontecesse.

Este livro nasce também porque aborda um tema de um mundo que pouco se sabe. Sentiu dificuldades na sua pesquisa?

Senti muitas dificuldades. Há muito pouca coisa escrita sobre o papel dos agentes de jogadores. Mas eu encarei isso como um desafio, nunca tive o intuito de fazer disto um trabalho muito académico. O facto de haver uma bibliografia muito reduzida sobre este tema para mim foi um incentivo, ou seja, permitiu-me cria criar o meu trabalho de investigação, a minha pesquisa. Foi de facto uma dificuldade, mas na verdade uma motivação, por ter conseguido reunir muita informação, mas também pelo facto de a minha tese e agora o meu livro poderem constituir uma referencia para futuras pesquisas.

Quem ler o livro fica a perceber melhor o que é ser empresário de futebol e tudo o que isso implica?

Espero que sim, em todos os momentos a minha maior preocupação foi fazer um trabalho o mais objetivo possível e baseado numa visão global, ouvindo as várias partes para perceber as diferentes perspetivas, tentar esmiuçar ao máximo o tema. Fiquei contente com o resultado final. Acho que quem consultar o livro ficará com uma maior perspetiva sobre o papel dos agentes de jogadores. Julgo que juntei um bom grupo de entrevistados e sinto que quem ler o livro ficará bem mais elucidado sobre esta profissão e todas as suas implicações.

Jorge Mendes é o melhor empresário do mundo?

Depende do que entendermos por melhor agente do mundo. Se falarmos do valor dos jogadores e da carteira de futebolistas, julgo que sim. Mas como é uma atividade tão pessoal, e como na minha perspetiva o papel de empresário vai muito para além dos números... é difícil falar das coisas a esse nível. Para ser sincero, e no meu ponto de vista, nesta atividade não interessam apenas os números, mas todo o acompanhamento e o papel que um agente tem na vida de um jogador.

Mas um empresário como Jorge Mendes abre as portas de clubes a jogadores. Ou não?

Sim, claro que sim, e há imensos exemplos que o provam. Só isso é uma grande mais-valia. Estamos a falar de um agente que chegou a um nível que consegue mover positivamente a carreira de muitos jogadores. E isso é inegável. É um dos poucos agentes no mundo que o faz de maneira tão clara, por isso tem qualidade.

Por exemplo, há quem diga que se João Félix não tivesse Jorge Mendes como empresário não teria ido para o Atlético de Madrid por aquele valor... e que se representasse Bruno Fernandes o jogador do Sporting já teria sido transferido. Concorda?

Sim, é possível que sim, mas isto é a minha opinião, pois não tenho o conhecimento dos negócios para dar uma resposta exata. Mas também acho que o acompahamento de um agente tem de ser visto de uma forma global, ou seja, neste caso concreto do Bruno Fernandes não pode ser esquecido todo o anterior trabalho e acompanhamento que o agente do Bruno lhe deu ao longo do tempo. E depois há uma questão importante de que eu falo muito no livro, que são as parcerias entre agentes que se fazem hoje em dia. Ou seja, num cenário hipotético de o Jorge Mendes poder fazer um negócio de 80 milhões não é por não ser agente do Bruno que vai deixar de o fazer. Pode encontrar formas de fechar negócio.

Até porque há empresários com relações privilegiadas com alguns clubes...

Exato. Uma coisa é olharmos para o negócio há 30 ou 40 anos, em que certa pessoa dizia que era representante de um determinado jogador e fazia a sua promoção. Hoje em dia estando o mercado muito mais complexo, sendo os clubes muito mais globais na forma como são dirigidos, com estruturas muito mais pesadas, é natural que os agentes estabeleçam relações com os clubes de futebol e não sejam só representantes de jogadores.

A realidade atual é muito diferente de há 30 anos...

As coisas mudaram bastante. Por um lado a quantidade de agentes e intermediários no mercado é incomparavelmente superior. Cresce quase diariamente. Por outro lado é significativo o aumento da informação, que hoje corre de uma forma muito mais veloz, é muito maior em termos de quantidade, até através das redes sociais, a forma como hoje em dia são feitos julgamentos sobre determinados tipos de transações. Depois há muito mais ferramentas. Antigamente não passavam muitos jogos na televisão, e hoje são diários, depois há ferramentas para ver jogos em todo o mundo. Tudo isto implica uma figura de agente muito diferente do que era há 30 anos.

Passagens do livro com testemunhos e opiniões de algumas personalidades ligadas ao futebol

Luís Figo (ex-jogador)

"[a estrutura de apoio do empresário ao jogador] é fundamental, de forma a dar atenção a todos os aspetos da carreira do jogador e não deixar que nada lhe falte. Se no início da sua relação com o jogador o agente lhe dá muita atenção, este não deve descuidar essa relação quando consegue assinar com outros jogadores, nem deve estar presente só no momento em que tem de renovar o contrato do jogador ou transferi-lo para outro clube: deve manter-se sempre dedicado".

"Tal como há bons jogadores e jogadores medianos, também há empresários que fazem bons trabalhos e outros que não, que utilizam unicamente os jogadores em prol dos seus interesses. No entanto, se o jogador estiver com um empresário conhecido, ser-lhe-á mais fácil ser promovido junto dos clubes de topo, através dos contactos desse empresário, do que se tiver de ser o jogador, apenas com a sua qualidade, a captar o interesse desses clubes".

"A partir do momento em que se tem entre 26 e 28 anos e se está num patamar internacional elevado - acabando por se ser conhecido por todos os clubes -, acho que é mais importante ter um bom advogado do que propriamente um bom agente, porque nesse caso já não é necessário ter um empresário que abra portas. Nesse caso, o agente acaba normalmente por atuar sobretudo como uma pessoa amiga e próxima do jogador, porque depois de o jogador assinar um contrato de cinco ou seis anos com um grande clube o agente dificilmente poderá fazer alguma coisa: só poderá fazê-lo caso haja uma renovação ou uma transferência, mas, estando o jogador num clube grande, é mais difícil que este se transfira, porque surgem menos oportunidades para que isso aconteça".

"Se o agente tiver muitos problemas com o jogador, se não o ajudar quando ele precisa ou se tiver causado alguma complicação numa transferência, por exemplo, é lógico que o agente pode influenciar negativamente o jogador. No entanto, também pode influenciá-lo positivamente, caso por exemplo o jogador esteja a atravessar uma má fase e o agente esteja próximo de si, a dar-lhe confiança e moral e a ajudá-lo a ultrapassar essa fase negativa".

Nuno Gomes (ex-jogador)

"Nos anos 90, o agente não se preocupava com quaisquer assuntos da carreira do jogador que não estivessem relacionados com a sua transferência de um clube para outro ou com a renovação do seu contrato de trabalho. Nessa altura, não havia tanta exploração da imagem individual do jogador para vários fins como há hoje e, portanto, o empresário não se preocupava tanto com os contratos que o jogador pudesse fazer com empresas de artigos desportivos ou outros".

"O futebol é um mundo enorme mas, ao mesmo tempo, pequeno, em que toda a gente se conhece, acabando os jogadores por falar muitas vezes entre si e por ser aconselhados a não assinar com determinados empresários devido ao facto de, numa dada altura, esses empresários se terem portado mal com alguns jogadores. As situações acabam todas por se descobrir e, mais cedo ou mais tarde, o agente que não seja honesto vai acabar por cair".

"Muitas vezes, os jovens jogadores querem ter empresário por uma questão de estatuto, para poderem dizer uns aos outros: «Eu tenho empresário e tu não»; mas, por vezes, mais vale não ter ninguém do que ficar agarrado a uma pessoa".

Carlos Gonçalves (empresário de jogadores)

"Para nós, agentes, é fisicamente impossível dominar todos os mercados e, como tal, vamos tendo, nalguns países, parceiros - pessoas em quem nós confiamos e que nos ajudam a fazer determinado tipo de negócios -, porque estando esses parceiros em tais países acaba por ser mais fácil receber informação sobre o que se vai passando com os clubes locais e os seus atletas. No fundo, essas pessoas acabam por ser nossas auxiliares relativamente aos jogadores que representamos nos campeonatos dos seus países".

"Os futebolistas estão um pouco enquadrados no mundo dos entertainers, tal como os próprios artistas de cinema e músicos, que também têm agentes. Acho que o facto de trabalharem com agentes faz com que se possam dedicar à sua profissão sem terem outro tipo de preocupações."

"Quem fez o percurso de jogador de futebol, tendo adquirido contactos ao longo da sua carreira de jogador, acaba teoricamente por ter mais facilidades mas, depois, é uma questão de tempo e de credibilidade adquirida: as pessoas vão-nos conhecendo e vão-se identificando ou não com aquilo que fazemos, com a postura que adotamos nos negócios e com a qualidade da informação que lhes passamos, que é muito importante..."

"Não há procedimentos a tomar. A relação entre o agente e o jogador é uma relação de confiança e, se esta não for mantida, o facto de se ter um contrato de representação em vigor não quer dizer nada. Por exemplo, ao saber que o seu contrato de representação com o jogador expira dentro de 3 ou 4 meses, o agente pode deixar de trabalhar com qualidade...É por isso que o fundamental nesta relação é a confiança que se vai criando, através do histórico de operações do agente. Como sabemos, nem os casamentos são para a vida, quando mais este tipo de relações, que muitas vezes é formado com jovens que têm uma grande ambição e vontade e cuja cabeça pode oscilar com ofertas...".

Carlos Pereira (presidente do Marítimo)

"Aos agentes dos anos 90 eu até poderia chamar de "agentes da tanga". Hoje, contudo, aqueles que querem ser realmente considerados agentes não podem ser mais esse tipo de agente, porque os dirigentes também evoluíram de tal forma que já não são os "dirigentes da tanga" - já vêm de áreas como, por exemplo, o direito e as finanças - e, portanto, um agente desse tipo será um profissional de curta duração. Hoje em dia, o agente já está muito mais evoluído, acabando até por ser aconselhado jurídica e economicamente pelo seu staff".

"Se o agente não for verdadeiro em uma, duas ou três situações rapidamente desaparece do mercado, porque os presidentes e os departamentos de futebol vão conversando uns com os outros e, enquanto a boa fama se demora a conquistar, a má fama adquire-se rapidamente".

Júlio Mendes (presidente demissionário do V. Guimarães)

"É de facto importante, desde logo, a perceção que se tem acerca da seriedade do agente. Eu, por exemplo, fui sempre incapaz, enquanto presidente do Vitória, de trabalhar com um agente que não me inspirasse confiança, com um agente que fosse capaz de tentar encontrar soluções ou construções rebuscadas para que se conseguisse contratar um jogador e de dar forma a um determinado contrato que estivesse no limite da lei".

"Quando o jogador não tem empresário, a negociação fica toda mais fácil para o clube, porque nesse caso o clube irá lidar cara-a-cara com o jogador e sabe de antemão que o atleta não terá ninguém detrás de si a picá-lo, a dizer-lhe o que deve ou não fazer mas, para o jogador, ter um empresário é ótimo, porque lhe serve de cobertura e faz com que o atleta sinta que tem em si um encosto, alguém que o pode ajudar. No fim de contas, o jogador necessita sempre de ter alguém com quem possa dialogar, seja um empresário, o seu pai, um amigo ou outra pessoa".

Paulo Barbosa (empresário de jogadores)

"A reputação tem que ver com os resultados do trabalho que nós fazemos e hoje, no meio dos jogadores, sabe-se quais são as pessoas que podem ajudar os atletas a resolver os problemas, porque os jogadores falam entre si, e isso tem força junto dos atletas"

"Eu nunca fiz contratos de representação com os jogadores. Todos os jogadores com quem trabalho são livres, já que há comigo sempre um pacto de cavalheiros. Sei, no entanto, que nos dias de hoje muitos jogadores são assediados e pressionados no sentido de mudar de representante, ora com promessas de outros empresários, ora inclusive com pressões do seu próprio clube. Pessoalmente, nunca tive esse problema, porque quem quiser trabalhar comigo, trabalha, e quem não quiser, não trabalha. Eu penso que os jogadores, nos dias de hoje, têm a noção de quem lhes pode resolver os problemas, quem os pode colocar nos vários clubes, e não é necessário que um jogador mude de agente, porque os agentes podem colaborar entre si. Não há nenhum agente no mundo - tirando os vigaristas - que tem soluções para tudo e, por isso, não há qualquer razão minimamente razoável para que um agente que tenha uma solução para um jogador não consulte o agente do jogador e, em conjunto, façam a transação".

Catio Baldé (empresário de jogadores)

"Um jogador jovem cujo empresário não tenha um bom carro e não vista bem, ao ver que o empresário do colega tem um grande carro e está todo bem vestidinho, muitas vezes deixa-se influenciar e pensa: «O empresário dele é melhor do que o meu». No dia seguinte, o empresário desse jovem corre o risco de perder o atleta, porque estamos a lidar com miúdos de uma faixa etária perigosa. Há, por exemplo, empresários que vão buscar miúdos a clubes como o Carcavelos e os metem em grandes clubes como o Sporting e, depois, quando esses miúdos crescem e começam a ser chamados à seleção, têm de ir com eles ao centro comercial para lhes comprar grandes roupas e grandes chuteiras, pois caso não tenham poder financeiro para acompanhar a pedalada vão acabar por perder o jogador".

"Um miúdo da academia do Benfica ligou-me no outro dia e disse-me: «O empresário do meu colega comprou-lhe um iPad e um telemóvel». O que é que farias na minha situação? Neste caso, ou ajudas o jogador - porque os pais não têm essa possibilidade e ele não ganha para isso - ou, se não lhe compras o que ele quer, vais acabar por perder o jogador para outro empresário". "Sabes quantos telemóveis é que eu já comprei? Muitos!. Por força das circunstâncias sou obrigado a fazê-lo mas, muitas vezes, faço-o contra a minha vontade".

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