"Quem for para a Federação de rugby está obrigado a trazer dinheiro de imediato"

É já no dia 4 que terão lugar as eleições para a Federação Portuguesa de Rugby que põem frente-a-frente Carlos Amado da Silva e Lourenço Fernandes Thomaz. O DN colocou aos candidatos um conjunto de perguntas que pretendem esclarecer os projetos e rumos que desejam para o râguebi português nos próximos quatro anos.
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Antigo praticante do CDUL dos 7 aos 32 anos, internacional em todos os escalões em quinze e "sevens", Lourenço Fernandes Thomaz, 48 anos, e ex-vice-presidente federativo entre 2007 e 2009, encerrou em 2018 um ciclo iniciado em 2009 de nove anos como presidente do seu clube de sempre, no qual colocou de novo os universitários no topo do râguebi português graças à conquista de vários títulos nacionais e outros inúmeros troféus. Agora é o principal cargo da FPR que o sócio fundador da maior agência de publicidade portuguesa pretende assumir.

Que conjunto de medidas pensa implementar de imediato para tentar resolver a muito difícil situação financeira da FPR?

Aqui não há segredos, uma vez que a situação é urgente. Quem for para a FPR tem que obrigatoriamente trazer dinheiro de imediato. A nossa equipa trabalhou nesse sentido até porque sem esses apoios nem nos tínhamos candidatado. Neste momento, se é para ir para a FPR sem dinheiro então não vale pena ir. Naturalmente que este financiamento só será consequente se a federação for bem gerida e tiver um plano estratégico sustentado e participado. Se houver muito dinheiro e a FPR for mal gerida, esse dinheiro vai ser mal gasto e isso não trará nada de bom ao râguebi português. Note-se que a FPR é uma entidade pública sem fins lucrativos portanto quanto mais dinheiro angariar mais vai poder investir no desenvolvimento da modalidade que é o que nos fará crescer, com resultados evidentes nos clubes, especialmente nos que têm maiores necessidades.

Que modelo competitivo defende para as competições internas, nomeadamente no que respeita à Divisão de Honra? Como será possível reduzir o habitual período de férias entre épocas para a maioria dos jogadores que, no râguebi português, chega a atingir os cinco meses?

O modelo é o que defendo há cinco anos a esta parte. O mesmo modelo que tem sido apresentado aos clubes, o mesmo que foi apresentado e várias vezes enviado para as duas últimas direções da FPR, em que quase a totalidade dos clubes concordavam e nunca foi implementado. É o que tem merecido a aceitação de todos e que até acabou apresentado pela outra lista. Temos que ter "play-offs" a meio da época, para todas as épocas poder aferir a qualidade das equipas nesse mesmo ano, e não no ano anterior. E é esse conceito que tem que ser replicado nas outras divisões, nos sub-16 e sub-18.

Como será possível aumentar o apoio das Associações Regionais aos clubes? Vê utilidade na reativação das seleções regionais?

A FPR tem a obrigação de dotar as Associações Regionais de condições financeiras e institucionais para elas poderem assegurar o seu trabalho junto dos clubes, escolas, etc ... A verdade é que isso já não acontece há uma dezena de anos! As Associações (exatamente tal como os árbitros) têm que fazer parte - e não estar à parte. Devem fazer parte da estratégia, serem envolvidos nessa mesma estratégia, serem acarinhadas e poderem fazer o seu trabalho na área do desenvolvimento do râguebi, que é para isso que elas foram criadas. Seleções regionais? Claro que sim. Basta ver que os clubes estão parados há mês e meio e durante este tempo as seleções regionais deveriam estar a jogar entre si, a jogar com seleções regionais de Espanha, etc... E quando falo de seleções regionais quero dizer masculinas e femininas. Através destas equipas regionais será possível oferecer a mais jogadores, e especialmente a mais clubes, oportunidades reais de desenvolvimento dos seus atletas.

Partilha da opinião de que os "sevens" são o melhor meio de tornar o râguebi português mais conhecido internacionalmente? O que há a fazer para o regresso da nossa seleção às World Series? Haverá interesse em ter jogadores em exclusividade nos "sevens" via contratualização?

Os sevens são um veículo importantíssimo para levar a imagem do râguebi português ao mundo e até em termos comerciais. Para voltarmos às World Series temos um projeto que tem sido apresentado aos clubes, delineado pela judoca Filipa Cavalleri, que além de ter participado em três Jogos Olímpicos, hoje em dia faz parte da Comissão Consultiva do COP. Para esse projeto andar para a frente é preciso os clubes estarem cem por cento disponíveis para o abraçar, e por isso esta tem que ser uma decisão em conjunto.

Que planos tem para, à semelhança da maioria dos nossos principais adversários, poder atrair e sustentar a presença de jogadores elegíveis para representar Portugal, aumentando a competitividade e capacidades das nossas seleções?

Portugal tem que contar com todos os jogadores elegíveis para a nossa seleção e todos aqueles que a equipa técnica assim entenda. Agora os compromissos (não só de dinheiro) com os jogadores que jogam fora de Portugal têm que ser honrados e isso há já muito tempo que não acontece.

Qual o seu projeto para a necessária melhoria da arbitragem? Como encara o recrutamento de árbitros (à semelhança da Bélgica, obrigando cada clube a dar um árbitro por equipa que participe num determinado escalão)? E advoga o intercâmbio com outras federações?

Em primeiro lugar há que explicar e informar todos de qual é o papel do Diretor Técnico de Arbitragem, qual o papel do Conselho de Arbitragem e qual o papel da Associação Nacional de Árbitros de Râguebi. Sinceramente acho que a maior parte das pessoas ainda não percebeu ... e para isso contamos com a Filipa Jalles que será a vice-presidente para a área da arbitragem. Depois, como é lógico, os árbitros têm que ter um patrocinador e essa situação já a temos acautelada. Um programa sustentável para os árbitros permitirá assegurar a presença de um árbitro em todos os jogos, independentemente do nível e da geografia. Sem árbitro, não há jogo. Não vejo qual o problema dos clubes da Divisão de Honra contribuírem com árbitros. Quanto ao intercâmbio, acho que primeiro temos que resolver o problema da arbitragem portuguesa e depois falarmos em intercâmbio.

Quanto à disciplina, que medidas pretende incrementar para tornar mais eficaz o efetivo pagamento de multas?

Várias medidas. A primeira delas é dizer que as multas não podem ser só em dinheiro porque senão vão continuar a existir infratores. As multas também têm que existir noutras formas, como por exemplo com a perda de pontos nas competições que disputam. E aí garanto-lhe que vão existir muito menos infrações.

Como vê a posição da FPR no seu relacionamento com a Rugby Europe e a World Rugby? Vamos lutar para ter de novo representantes nesses dois organismos?

Obviamente que sim. Para isso contamos com o antigo internacional António Cunha que já tem ótimas relações com essas entidades e será o vice-presidente para as relações internacionais. E contamos com todo o apoio do antigo presidente da FPR, Raul Martins, que já ocupou cargos nesses organismos, faz parte do nosso Conselho Geral e que tem sido uma grande ajuda nesta área.

Prevê mudanças na estrutura técnica da FPR? O Cargo de Diretor Técnico Nacional vai ser preenchido? Os selecionadores de quinze e "sevens" são para manter?

Na estrutura técnica da FPR prevejo várias mudanças. Para já vai haver "description jobs" para todos. Quem estiver na federação vai ter que trabalhar 9/10 horas por dia, as pessoas vão ter que andar pelo país, vão ter que ir às escolas, vão ter de dar formação e vão ter o seu dia a dia muito organizado e preenchido. Isso irá assegurar maior coesão e difusão do râguebi a nível nacional. Quanto aos treinadores de sevens e quinze, ainda não pensámos nisso. Infelizmente há coisas bem mais importantes a resolver e as nossas energias têm sido canalizadas para esses assuntos.

Qual é a sua posição quanto à necessidade da criação do cargo de CEO para a FPR?

A meu ver é essencial. A nossa lista tem pessoas excelentes nas diferentes áreas, mas é preciso trabalhar em equipa e para isso um CEO é fundamental. Nós não acreditamos num "one man show", ninguém faz nada sozinho. Faz todo o sentido a FPR ter um profissional responsável para executar e certificar-se que os planos e as atividades delineadas estão a ser implementados no terreno e na própria estrutura da FPR.

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