Federer e Nadal de um lado, Djokovic do outro. Desacordo sobre o futuro do ténis
Roger Federer e Rafael Nadal são protagonistas de uma das mais entusiasmantes rivalidades do desporto nos últimos anos. Dentro do court, foram várias as batalhas disputadas pelos craques, que parecem juntar-se agora... contra Novak Djokovic. O sérvio, atual número 1 do mundo e também ele um desportista de eleição, é atualmente o presidente do Conselho de Jogadores, órgão que participou na votação para a saída de Chris Kermode da liderança do ATP, numa reunião entre representantes dos jogadores e dos torneios.
A saída do britânico de 54 anos da presidência do ATP, longe de ser consensual, foi votada em Indian Wells durante a passada semana, não sendo de estranhar a posição de Djokovic, há muito relatada por vários meios de comunicação. Federer e Nadal, no entanto, não estão satisfeitos - apoiavam a continuação de Kermode - e reuniram-se inclusivamente na casa do suíço naquela zona da Califórnia, EUA. Além de beberem um café, como revelou o suíço, o encontro serviu também para alinharem posições.
"Bebemos café e tivemos uma longa conversa. Concordamos na maioria das coisas e temos de juntar ideias para termos um plano para o que achamos ser o melhor para o futuro do ténis. Estamos interessados em ajudar", revelou o suíço de 37 anos ao Tennis Channel.
Depois de vencer Peter Gojowczyk no seu primeiro encontro em Indian Wells, Federer disse existir muita "turbulência" nas questões mais políticas do ténis mundial, mostrando-se "preocupado". "Alguns jogadores discordam e os torneios e os atletas não têm a mesma opinião. É esta a situação. Não direi explosiva, mas já existe alguma incerteza", acrescentou.
Para o suíço, número 4 do ranking mundial, que já ocupou o lugar que Djokovic tem atualmente no Conselho de Jogadores, não é fácil compreender que o sérvio não se tenha encontrado com ele antes da decisão. "Tentei encontrar-me com o Novak antes da decisão. Infelizmente ele não tinha tempo. É difícil compreender, mas tudo bem. Ele tinha certamente muito para fazer com toda a situação. Ele sugeriu que nos encontrássemos no dia seguinte, mas já estava tudo decidido", revelou Federer, que quer saber o "motivo" da saída de Chris Kermode.
"Tenho de pensar se não deveria estar mais envolvido novamente, para o bem do tour. Porque muitos apoiavam Kermode. Nem todos têm as mesmas prioridades. Alguns pensam primeiro em dinheiro, uns no calendário dos torneios e outros estão mais preocupados com o poder", frisou.
Rafael Nadal, que deixou o Conselho de Jogadores em 2012, também foi bastante claro na sua opinião sobre o assunto que tem marcado o ténis mundial nos últimos dias. "Eu decidi ficar fora da política. Mas, ao mesmo tempo, estou desapontado porque ninguém me explicou o porquê, qual a razão pela qual não teremos Chris a conduzir o nosso desporto", revelou em Indian Wells, segundo o Telegraph.
"O Conselho de Jogadores representa os restantes atletas e as suas opiniões, não apenas a do Conselho. Normalmente, perguntam aos jogadores o que acham antes de uma decisão crucial como esta e espero que o tenham feito. Se sim, excelente, mas não aconteceu comigo. Tenho o meu telefone comigo e ninguém me mandou uma mensagem para saber a minha opinião", acrescentou Nadal, de 32 anos, número 2 do mundo, que já tinha expressado anteriormente preocupações sobre o assunto.
O tenista espanhola acrescentou ainda que se muitos jogadores vierem a afirmar que também não foram consultados, "quem está à frente do Conselho não está a trabalhar bem". "Eles representam-nos e, normalmente, têm de perguntar a nossa opinião. Acredito sinceramente que após 17 ou 18 anos neste desporto tenho uma boa perspetiva do que funciona ou não funciona tão bem. Ficarei satisfeito por saber o porquê da decisão e, obviamente, o que se está a passar", disse ainda
Também em Indian Wells, o atual presidente do Conselho de Jogadores, Novak Djokovic, foi questionado sobre o assunto, não revelando se estava a favor ou contra a saída de Chris Kermode, que tomou posse em 2014. O sérvio afirmou que a "estrutura tem falhas" e que falou com Nadal há alguns meses.
"Queria agradecer a Chris Kermode pelo seu contributo no crescimento do desporto. Ficou decidido dentro da estrutura de governação que é tempo de olhar para uma nova liderança", afirmou o sérvio, que não revelou a sua posição. "Não quero expressar se estava a favor ou contra. Sou presidente do Conselho de Jogadores e tenho responsabilidades, e confidencialidade, que tenho de respeitar. Se partilhar essa informação exponho-me e ficou suscetível de quebrar a confidencialidade da estrutura. Não vou arriscar isso porque respeito a estrutura", explicou, sem confirmar o sentido do seu voto.
"Acho que a estrutura tem falhas. O presidente tem de desempatar em muitos casos", explicou Djokovic sobre a organização da tomada de decisões no ATP Tour. "Por vezes existe conflito de interesses e o presidente tem de escolher entre jogadores ou torneios. Acho que temos de abordar essa situação. É tempo de fazer algumas mudanças para proteger o presidente e ter alguma participação independente", referiu.
Sobre os jogadores, o tenista sérvio disse que o Conselho falou "extensivamente" com os atletas, falando ainda de Roger Federer e Rafael Nadal. "Vale para os dois lados, certo? Se queriam falar sobre algo, podiam ter falado comigo. Falei com o Rafa em setembro e novembro. Não vejo nenhuma razão para que ele não me abordasse ou a outro qualquer membro do Conselho, que foi eleito por Federer, Nadal e todos os outros para representar os melhores interesses dos jogadores", frisou.
A tomada de decisões no ATP é feita por três representantes dos jogadores e três representantes dos torneios. Não vem de agora a alegada discordância entre Djokovic e Kermode, com o afastamento do britânico a gerar uma onde de discórdia, na qual alinharam, por exemplo, Stan Wawrkinka, numero 40 do ranking mundial e vencedor de torneios do Grand Slam, ou Lleyton Hewitt, australiano ex-número 1 do mundo, e vencedor do US Open e Wimbledon.