E agora, o que se segue para José Mourinho?
Assim que esta terça-feira foi despedido do Manchester United, José Mourinho tornou-se automaticamente um dos treinadores mais apetecíveis do mercado internacional, tendo visto no mesmo dia o seu nome ser associado ao Real Madrid, clube que orientou entre 2010 e 2013.
Os resultados aquém do esperado por parte dos merengues continuaram apesar da troca de Julen Lopetegui por Santiago Solari e a imprensa espanhola não tardou a apontar o setubalense de 55 anos ao cargo. Esta quarta-feira na Marca, o colunista Juanma Rodríguez classificou o técnico de "Don José Mourinho, o terror do antimadridismo" e recordou que 'Mou' "conserva o recorde pontos e de golos marcados na Liga Espanhola", em alusão aos 100 pontos e 121 remates certeiros de 2011/12, época em que o Real Madrid quebrou a hegemonia do Barcelona de Pep Guardiola. No As, Alfredo Relaño avisa Solari para se apressar a mostrar trabalho, "porque Mourinho anda a solta e isso é um perigo".
Entretanto, o El País adianta que o Real Madrid já tinha sondado o treinador português em outubro para assumir o cargo a partir da próxima temporada. Questionado sobre o assunto, o lateral esquerdo e um dos capitães, Marcelo, abriu a porta ao seu antigo treinador: "É um grande treinador e está sem clube... Eu não decidido se ele volta a Madrid ou não, mas agradeço-lhe tudo o que ele fez por mim."
Olhando para os clubes europeus com treinadores em perigo, o Bayern Munique é, a par do Real Madrid, o nome que salta à vista. Niko Kovac não está a ter um começo fácil na Baviera, estando já a uma distância considerável do líder Borussia Dortmund no campeonato, o que o coloca sob pressão por parte da dupla responsável pelas grandes decisões no emblema germânico, Uli Hoeness e Karl-Heinz Rummenigge.
O casamento entre Mourinho e Bayern não se adivinharia fácil, até porque o treinador português gosta de escolher jogadores a dedo, não olhando a custos, mas os bávaros não são de entrar em loucuras: o recorde de transferências é de (apenas) 43,5 milhões de euros, verba paga ao Lyon em 2017 pelo passe de Corentin Tolisso.
E o próprio treinador, no passado, já torceu o nariz a essa possibilidade. "Treinar o Bayern? Disse que não teria graça porque ganharia o campeonato alemão todos os anos. Prefiro continuar numa liga mais equilibrada", disse ao Lancenet em dezembro de 2015, aquando de uma viagem ao Brasil, numa altura em que também estava desempregado. "O que é certo é que eu não vou treinar na Alemanha", vincou em janeiro de 2013, quando ainda estava no Real Madrid e pouco tempo depois de Guardiola ter sido anunciado como treinador do Bayern. No entanto, em setembro do ano passado, mostrou um discurso diferente: "No passado, eu quis ser treinador em diferentes sítios. Quando cheguei ao Chelsea em 2004, nunca pensei em ficar 20 anos. Nunca. Quando cheguei a Itália, pensei sempre em ir para Espanha. Neste momento, quando me perguntam se quero ir para França ou Alemanha eu digo: porque não?", afirmou em entrevista ao jornal The Times.
França seria precisamente outro possível novo destino entre a elite do futebol mundial, mas não se adivinha que Thomas Tuchel, que está a guiar o Paris Saint-Germain a uma liderança destacada no campeonato e aos oitavos de final da Liga dos Campeões, possa deixar o cargo a breve prazo. E havendo um fair play financeiro para impedir o surgimento de novos ricos, não haverá alternativas à altura do currículo de 'Mou' em solo gaulês.
A escolha de el dorados em detrimento da vertente desportiva não tem feito parte da carreira de Mourinho, que há dois anos considerou ser demasiado novo para rumar à China. "O dinheiro da China é atrativo para todos, mas gosto mais do futebol ao mais alto nível. Sou demasiado novo para ir para um sítio como a China. Quero ficar no local onde é mais difícil ganhar", afirmou à Sky Sports, um mês depois de ter revelado que recusou uma proposta para rumar ao gigante país asiático mas que não critica quem decide aceitar. "Já recusei uma boa proposta para ir para a China, mas não critico quem decide ir. É a escolha deles, a vida deles. Só eles podem dizer o que querem para o futuro. Há treinadores na Premier League que têm criticado mas eu não faço isso", vincou em janeiro de 2017.
No entanto, o cenário poderá ter mudado um pouco, depois de dois anos e meio desgastantes em Old Trafford. O clube que tem dominado o futebol chinês nos últimos anos, o Guangzhou Evergrande, falhou a conquista do oitavo título nacional consecutivo em 2018, para alegria do Shangai SIPG de Vítor Pereira. O treinador italiano Fabio Cannavaro, que não conseguiu manter a onda vitoriosa de Marcello Lippi e Luiz Felipe Scolari, tem o lugar em perigo.
Apaixonado pela competitividade e equilíbrio da liga inglesa, não será de descartar a continuidade de José Mourinho em Inglaterra, até porque a família dele vive em Londres. À primeira vista, nenhum treinador dos principais clubes está em perigo, mas há um que está apontado ao... Manchester United. Mauricio Pochettino, que orienta o Tottenham, faz parte das várias listas de possíveis futuros treinadores dos red devils na próxima época que têm sido avançadas pela imprensa. A confirmar-se, o banco dos spurs ficaria livre.
Enquanto esteve em Manchester, Mourinho mostrou-se alguns jogadores dos londrinos, como Toby Alderweireld, Eric Dier e Harry Kane, e teceu rasgados elogios à equipa de White Hart Lane. "Eles têm uma excelente equipa, uma das melhores da liga. Têm um plantel fantástico, um bom treinador e estabilidade, uma vez que têm o mesmo técnico e o mesmo plantel há muito tempo", referiu em outubro de 2017.
Um dos países em que José Mourinho foi mais bem-sucedido e deixou mais saudades foi em Itália, onde conquistou dois campeonatos, uma Taça, uma Supertaça e uma Liga dos Campeões ao serviço do Inter, entre 2008 e 2010. Curiosamente, o treinador Luciano Spalletti ficou com a sua posição mais fragilizada depois de ter falhado o apuramento para a fase a eliminar da Champions, mas o cenário do calcio é bem diferente do que quando o treinador português assinou pelos nerazzurri. A Juventus não tem dado hipóteses à concorrência, o Nápoles e a Roma têm sido as equipas que mais se têm aproximado e os clubes de Milão parecem estar ainda a milhas de distância de se intrometerem na luta pelo título, apesar dos sinais de retoma.
Turim seria um destino interessante no plano desportivo, mas Massimiliano Allegri está de pedra e cal no cargo e o treinador português é persona non grata para os adeptos bianconeri, tendo ambos trocado provocações nos recentes confrontos entre Juventus e Manchester United na Liga dos Campeões. "Vim aqui fazer o meu trabalho e fui insultado durante o jogo todo. Penso que não ofendi ninguém. Foi apenas um gesto para quem ofendeu a minha família e a família do Inter de Milão durante 90 minutos", justificou.
E se Mourinho quiser experimentar o cargo de selecionador? Em 2019 vão jogar-se Copa América, Taça Asiática, Taça das Nações Africanas, Gold Cup (CONCACAF), a fase final da Liga das Nações e o apuramento para o Euro 2020, o que deverá significar o fim de ciclo para alguns selecionadores, especialmente se as coisas não correrem bem.
Convites não lhe têm faltado. O primeiro foi da Federação Inglesa, em 2007, após ter deixado o Chelsea pela primeira vez. Em 2010, esteve perto de comandar a equipa das quinas de forma interina, após a saída de Carlos Queiroz. Em abril de 2016, rejeitou um convíte da Síria e, há dois meses, a Federação dos Estados Unidos mostrou-se interessada em o contratar, mas acabou por anunciar Gregg Berhalter como novo selecionador.
No entanto, em 2014 remeteu a possibilidade de orientar uma seleção mais para o final da carreira: "Quero acabar a carreira como selecionador. Não é durante a carreira, é para acabar. Durante a carreira não quero, não tenho qualidades para isso porque um selecionador tem de se adaptar ao facto de jogar uma vez por mês e treinar só duas. Não tenho isso, não me sei adaptar. Não é trabalho para mim."
E se José Mourinho decidir experimentar algum dos maiores clubes de uma liga sempre financeiramente atrativa como a russa? Ou decidir imitar Jorge Jesus e aceitar uma proposta milionária oriunda de um país do Médio Oriente? Ou rumar ao futebol dos Estados Unidos? Ou abraçar um desafio numa equipa não tão poderosa numa das principais ligas? Ou... regressar a Portugal? Em teoria, tudo é possível. Mas só os próximos dias poderão trazer maior luz sobre o que será o futuro imediato do Special One.