Do cardio à fisioterapia. É assim que eles se preparam para saltar dos penhascos
Não existe grande margem para erros. Atiram-se de penhascos a 27 metros de altura - o equivalente a um prédio de oito andares -, atingindo uma velocidade de aproximadamente 85 quilómetros por hora. Nos três segundos que demoram a entrar na água, fazem cambalhotas, piruetas e outras acrobacias. Para entrar no Red Bull Cliff Diving World Series, que passa pelo ilhéu de Vila Franca do Campo, em São Miguel, entre quinta-feira e sábado, os atletas precisam de estar em excelente forma, tanto física como psicologicamente.
"Nunca paro de fazer exercício para estar o mais possível em forma, para não ficar cansado nem fraco, porque a água às vezes é mais forte do que tu", diz Michal Navratil, cliff diver que passa pela etapa dos Açores. Num vídeo publicado no site da competição, o atleta da República Checa diz que os saltadores precisam de estar "mais fortes e mais duros" do que a água.
Os atletas batem na água com o dobro ou o triplo da força da gravidade. Gary Hunt, que já venceu por três vezes a prova açoriana, diz que "todas as articulações vão sentir impacto", por isso "as pernas precisam de ser fortes e as costas também". O britânico, que adora saltar de janelas e varandas, já foi sete vezes campeão do mundo da modalidade e mantém-se isolado na liderança com 400 pontos. Na primeira ronda da prova açoriana, cujo início foi antecipado para quinta-feira devido às condições climatéricas, Hunt ficou em terceiro lugar com 72.8 pontos, atrás de Jonathan Paredes (82.6) e Andy Jones (77).
Jessica Macaulay, britânica, de 26 anos, confessa que "estar em forma" é sua "preocupação número um". "Tento fazer muito cardio e exercícios de prevenção de lesões". Um dos segredos para estar no topo, revela, é o trabalho desenvolvido com os fisioterapeutas. "É muito fácil termos lesões", pelo que é muito importante para os atletas ter fisioterapeutas que os façam "sentir mais confortáveis".
Além do treino de qualidade, os cliff divers precisam de ter em atenção a alimentação e as horas de descanso. Só assim conseguem evitar dores, cansaço e lesões. "Ser forte, estar em forma e ser saudável são as coisas mais importantes no cliff diving", sublinha Johathan Paredes, de 29 anos, que foi campeão da modalidade em 2017. Mas isso nem sempre é fácil. Entre os desafios que os atletas encontram, o norte-americano Steve LoBue, de 34 anos, refere as viagens de avião e as "dietas estrangeiras - que podem ser muito saborosas mas nem sempre são as melhores para o teu corpo".
"Comunicar, concentrar e ouvir o nosso corpo" são as chaves para os atletas se manterem sem lesões, defende Rhiannan Iffland, a australiana que segue invicta com três vitórias em três etapas. Na primeira ronda da prova açoriana, a atleta ficou em primeiro lugar com 71.5 pontos, à frente de Eleanor Smart (61.1) e Lysanne Richard (55.9).
A preparação psicológica tem um papel igualmente importante neste desporto. "Se a tua mente for forte e se estiveres convencida a fazer isto, o teu corpo vai aceitar o desafio", diz Adriana Jimenez, a atleta mexicana, de 34 anos, que também irá disputar o pódio nos Açores.
Pelo ilhéu de Vila Franca do Campo passam 23 atletas de 14 países, entre elementos do quadro permanente os wildcards (convidados). Uma etapa com características especiais, já que é a única em que os cliff divers saltam diretamente das rochas, tal como nas origens da modalidade, que nasceu há mais de 200 anos no Havai. Além disso, os Açores são também a mais antiga referência no calendário da prova, pois recebem a competição há oito anos consecutivos.
O destaque deste ano é a ausência do colombiano Orlando Duque, que se viu obrigado a desistir devido a uma queda que sofreu no ano passado. Pela primeira vez fora do quadro permanente, só participa em algumas etapas como wildcard.
A etapa açoriana pode ser acompanhada a partir das 14.30 de sábado em AQUI