Cinco duelos para ajudar a decidir o FC Porto-Benfica
Separadas por um ponto, as duas melhores equipas do campeonato enfrentam-se este sábado (20.30) no Dragão para um clássico de extrema importância para as contas do título. Campeão contra vice-campeão, melhor defesa contra melhor ataque, uma equipa experiente contra uma formação de sangue muito renovado... são vários os pontos de abordagem possíveis para uma antevisão sobre o que vai a jogo.
Desde que Bruno Lage chegou ao comando técnico do Benfica, a equipa da Luz conseguiu reduzir de sete pontos para apenas um a diferencça que a separa do líder e campeão nacional, num percurso notável que conheceu apenas uma derrota pelo meio, na Taça da Liga, precisamente contra o FC Porto.
Agora, as equipas voltam a estar frente-a-frente para um clássico de alta tensão, onde se joga a liderança e, possivelmente, o título. Enquanto Sérgio Conceição e Bruno Lage preparam a melhor forma de surpreenderem o rival, o DN foca cinco duelos que podem ajudar a decidir o desfecho no relvado do Dragão.
O arranque de temporada não fazia prever que Seferovic e Soares chegassem a esta altura decisiva da época como os homens-golo de Benfica e FC Porto. O suíço estava mesmo com pé e meio fora da Luz, depois de uma época passada infeliz e com a chegada de novos nomes afamados para o ataque encarnado, como eram Castillo e Ferreyra. Já o brasileiro começou a época com mais uma lesão (tal como na temporada anterior), na Supertaça, que o obrigou a falhar sete jogos e a ficar mesmo de fora da lista de inscritos para a fase de grupos da Liga dos Campeões, o que motivou até algumas críticas de Deco, antigo jogador portista e empresário do avançado.
Soares entrou em ação apenas à sexta jornada do campeonato e começou logo aí a lembrar como é uma mais-valia na missão de derrubar muralhas contrárias. Curiosamente, foi lançado para fazer face à lesão de outro avançado portista, Aboubakar, no jogo com o Tondela, aos 64 minutos, e pouco mais de 20 minutos depois foi ele a desfazer o nulo que persistia perto do final.
Na Luz, Seferovic também beneficiou das lesões de Castillo e Jonas e do fracasso completo da aquisição de Ferreyra para saltar do fundo para o topo da hierarquia dos avançados encarnados. Depois de não ter sido utilizado nas primeiras duas jornadas, com V. Guimarães e Boavista, começou por ser solução de minutos finais nos jogos caseiros contra PAOK e Sporting e chegou à titularidade, na Liga, à 4.ª jornada, frente ao Nacional, abrindo caminho à goleada benfiquista (4-0) com um golo que pôs fim a um jejum pessoal de nove meses sem marcar.
Daí para cá, um e outro foram-se impondo como os homens de área das respetivas equipas que no sábado se enfrentam no Dragão, no clássico que pode lançar FC Porto ou Benfica para o título.
Soares chegou à titularidade precisamente no clássico da Luz, na primeira volta, num jogo que acabou por ser decidido por Seferovic, nem mais, quando o suíço fez o golo que valeu a primeira vitória do então treinador encarnado, Rui Vitória, sobre o FC Porto. Daí para cá, o brasileiro é o ponta de lança imprescindível para Sérgio Conceição no esquema de 4x4x2 que tem sido o figurino privilegiado dos portistas no campeonato. E só por uma vez, no Bessa, não foi titular em jogos da Liga.
O suíço Seferovic viu a recuperação de Jonas ameaçar-lhe o lugar em dezembro, mas desde a substituição de Rui Vitória por Bruno Lage no comando técnico não só recuperou a titularidade como disparou para números nunca vistos na sua carreira, o que faz com que chegue ao Dragão numa incrível sequência de oito jornadas consecutivas a marcar, com 11 golos desde esse Benfica-Rio Ave que marcou a estreia do técnico atual das águias. Além da veia goleadora impressionante do helvético, que o leva até a ter mais golos do que Messi ou Mbappé em 2019, Seferovic tem sido também uma valiosa muleta para a afirmação do adolescente João Félix - uma dupla que terá no clássico de sábado um exigente teste do algodão.
Quanto a Soares, é provável que volte a contar com o apoio de Marega, recuperado em tempo recorde de uma rotura muscular, nas mãos do "Dr. Milagre" Eduardo Santos, fisioterapeuta brasileiro que trabalha com Vítor Pereira nos chineses do Shanghai SIPG. Mas o brasileiro, que leva dez golos no campeonato, tem mostrado nos últimos jogos que mantém a eficácia goleadora seja qual fora a companhia.
Vlachodimos e Casillas têm de estar atentos. Começa por S a ameaça às balizas na noite de sábado.
Golos
Soares - 10
Seferovic - 15
Remates
Soares - 56
Seferovic - 49
Golos de cabeça
Soares - 4
Seferovic - 1
Golos de pé esquerdo
Soares - 2
Seferovic - 11
Golos com o pé direito
Soares - 3
Seferovic - 2
Cruzamentos
Soares - 4
Seferovic - 28
Se a vertente tática e estratégica do jogo é cada vez mais preponderante na relação de forças entre as equipas em campo, continuam a existir intérpretes que, pela qualidade superior, conferem um toque de imprevisibilidade a qualquer plano. No sábado, no Dragão, concentram-se alguns dos melhores jogadores da Liga portuguesa, com capacidade para estilhaçar a ordem com uma qualquer genialidade. Mas se há de um lado e de outro quem tenha um especial poder de arrebatamento pela criatividade, então os nomes de Brahimi e João Félix serão aqueles que mais farão concentrar as expetativas sobre um rasgo, uma finta, um movimento de corpo que deite por terra os desenhos planeados ao milímetro por ambos os treinadores.
Entre eles, dez anos de diferença. Brahimi, de 29 anos, é um dos raros talentos de que o futebol português conseguiu usufruir em idade de maturação plena, enquanto o jovem Félix, de 19, ainda há pouco irrompeu entre os palcos de elite e já se teme que não continue a desfilar qualidade nos relvados nacionais por muito mais tempo.
Brahimi tem sido o criativo mais exótico do futebol português nos últimos anos, desde que chegou ao FC Porto no verão de 2014. Médio/extremo de finta imprevisível que consegue criar uma oportunidade do nada, o argelino já passou momentos difíceis no Dragão, incompreendido por uma plateia que não lhe perdoava o individualismo quando os resultados coletivos eram maus, mas com Sérgio Conceição esse talento superior tem servido para requintar aqui e ali uma equipa assente num futebol sobretudo rápido, forte e físico. Mas Brahimi alia à criatividade a dose de agressividade necessária para se assumir como uma peça fulcral deste coletivo.
A lesão em Roma, na primeira mão dos oitavos de final da Champions, deixou em dúvida o seu estado físico para o clássico com o Benfica, mas a forma como entrou para fechar a vitória sobre o Sp. Braga, na última terça-feira, com um belo golo, terá tranquilizado os adeptos e Sérgio Conceição. Brahimi está pronto para desequilibrar, resta saber se também para durar 90 minutos ou não. Esta época, o argelino já marcou por sete vezes na Liga portuguesa, a dois golos dos que fez na época passada (máximo pessoal), mas tem apenas uma assistência, um número que não faz jus à sua influência no jogo ofensivo da equipa.
Já Félix tem impressionado precisamente pelas múltiplas dimensões do seu jogo, com um impacto que se estende desde a criação até à finalização. Frente ao Chaves, na última jornada, chegou aos dez golos na época e oito deles são no campeonato - o que nenhum adolescente conseguia no Benfica há 40 anos (desde Chalana). E ainda soma quatro assistências, o que lhe confere já uma percentagem de 19% de influência nos golos marcados pela equipa (Brahimi fica-se pelos 17% neste capítulo).
Lançado por Rui Vitória nos minutos finais dos primeiros jogos do campeonato, Félix estreou-se a marcar logo no dérbi frente ao Sporting, à 3.ª jornada, salvando o Benfica da derrota em casa, mas foi só com a mudança de técnico, no início de janeiro, que conquistou um lugar cativo na frente de ataque dos encarnados, começando logo por marcar dois golos ao Rio Ave, na estreia de Bruno Lage. Daí para cá, não voltou a haver um onze do Benfica sem o jovem prodígio desviado ao... FC Porto.
Sábado, terá a oportunidade de se estrear no relvado do Dragão como a nova joia da coroa encarnada e voltar a encontrar Brahimi, com quem já se cruzou na meia-final da Taça da Liga que os portistas venceram por 3-1, com um golo do argelino a abrir o marcador. Curiosamente, o primeiro golo de Brahimi ao Benfica, em nove jogos
Golos
Brahimi - 7
João Félix - 8
Remates
Brahimi - 35
João Félix - 31
Assistências
Brahimi- 1
João Félix - 4
Cruzamentos
Brahimi - 27
João Félix -19
Bolas perdidas
Brahimi - 119
João Félix - 46
Tão importante quanto marcar golos ou criar oportunidades será, naturalmente, anular bem o adversário. Mais do que isso, até, por vezes, impor-lhe respeito. Num clássico de intensa rivalidade e importância, de um lado e de outro interessa passar a mensagem de uma muralha de aço humana onde ninguém se vai encolher numa bola dividida. Tarefa para os durões de serviço, habituados a impor o físico sobre os adversários. Também por isso, mais expostos ao risco disciplinar.
Os registos do campeonato até aqui permitem identificar Felipe e Rúben Dias como os jogadores mais amarelados de FC Porto e Benfica, com sete e seis cartões amarelos, respetivamente. Estatísticas que encaixam também no perfil de defesas agressivos, a jogar muitas vezes no limite do risco, que um e outro desfilam em campo.
O brasileiro é o xerife de uma defesa portista que é, de longe, a menos batida da prova e das principais ligas da Europa, com uma média pouco superior a meio golo (0,52) sofrido por jogo. Num setor que esta época foi fortemente reforçado, primeiro com Eder Militão e desde janeiro também com Pepe, o nome de Felipe é o que se mantém imutável nas configurações de Sérgio Conceição para o eixo da defesa. Para sábado, falta saber se o técnico repõe a dupla com Militão (fora do onze nos últimos jogos devido a uma noitada) ou se mantém o regressado internacional português. Felipe, esse, parece inquestionável.
Inquestionável será também a presença de Rúben Dias como líder de uma defesa encarnada obrigada esta época a constantes alterações por lesões ou castigos, o que faz com que a equipa de Bruno Lage se prepare para entrar no Dragão com uma dupla de centrais ainda sub-21, com Rúben Dias a ter como parceiro no eixo alguém com quem ainda não há muito tempo fazia dupla nas equipas B e junior, Ferro. Depois de uma época de estreia a crescer ao lado de veteranos como Luisão e Jardel, o impetuoso jovem Rúben tem sido obrigado a amadurecer depressa esta temporada, para se afirmar como o líder necessário numa zona tão crucial.
Jogador mais utilizado da equipa neste curso, Rúben Dias já teve como parceiros de defesa Jardel, Conti, Lema, Ferro e até Samaris, no último jogo. Agora, vai testar o processo de amadurecimento com a estreia num clássico em casa do FC Porto. Tal como Ferro (Jardel não deve recuperar a tempo), que fará estreia absoluta contra os dragões na equipa principal. Pode estar aqui um fator de risco acrescido para o Benfica num duelo tão importante em ambiente fortemente adverso.
Do lado contrário, Felipe liderará uma defesa bem experiente e com vários quilómetros de rodagem entre a elite, seja ao lado de Pepe ou de Militão (ou talvez até de ambos).
Bolas ganhas
Felipe - 124
Rúben Dias - 127
Cartões Amarelos
Felipe - 7
Rúben Dias - 6
Faltas Cometidas
Felipe - 29
Rúben Dias - 36
Remates
Felipe - 14
Rúben Dias - 17
Golos
Felipe - 1
Rúben Dias - 2
Em qualquer equipa grande que se preze, o processo ofensivo não dispensa a presença de laterais com capacidade para subirem regularmente e servirem muitas vezes como o elemento desequilibrador no meio-campo contrário. Ora, tanto no FC Porto como no Benfica, é na esquerda que mora o lateral mais influente no processo de jogo coletivo das respetivas equipas, com Alex Telles e Grimaldo a revelarem-se peças imprescindíveis para os seus treinadores.
Prova disso é que tanto um como outro são os jogadores de campo mais utilizados por FC Porto (Telles) e Benfica (Grimaldo) na Liga. O brasileiro dos dragões não falhou ainda qualquer minuto do campeonato, enquanto o espanhol das águias foi apenas substituído aos 82 minutos de uma partida, diante do Aves, à 5.ª jornada.
Chegado ao FC Porto no verão de 2016, Alex Telles rapidamente se destacou pelas assistências para golo que o seu pé esquerdo consegue gerar. As subidas pelo flanco e a facilidade com que executa cruzamentos precisos para a área fazem do lateral uma das principais ameaças ofensivas do dragão. Esta época, volta a estar entre os melhores da equipa de Sérgio Conceição no capítulo das assistências para golo (cinco, a uma apenas de Otávio) e já teve influência em 13% dos golos portistas no campeonato.
Números semelhantes apresenta Grimaldo no Benfica. O lateral espanhol tem quatro assistências feitas para golo e já teve influência em 14% dos golos das águias, tendo feito ele próprio o gosto ao pé por quatro vezes já, enquanto Telles ainda só leva um golo no campeonato.
As semelhanças entre o contributo de ambos para as equipas estende-se também ao domínio das bolas paradas, onde tanto Alex Telles como Álex Grimaldo se têm revelado especialistas, fazendo bom uso da precisão dos respetivos pés esquerdos. Livres à entrada das áreas, neste sábado, é bem provável que sejam batidos por estes dois laterais esquerdinos que se fazem destacar mais pelo contributo no ataque do que na defesa.
Bolas ganhas
Alex Telles - 88
Álex Grimaldo -138
Bolas perdidas
Alex Telles- 61
Álex Grimaldo- 111
Assistências
Alex Telles - 5
Álex Grimaldo - 4
Cruzamentos
Alex Telles - 114
Álex Grimaldo - 69
Faltas Cometidas
Alex Telles - 27
Álex Grimaldo - 17
Remates
Alex Telles - 16
Álex Grimaldo - 30
Golos
Alex Telles - 1
Álex Grimaldo - 4
Esta surge, à partida, como uma comparação desfasada entre jogadores tão distintos e de posições bem diferentes. A relevância estatística de Pizzi no futebol do Benfica e o seu estilo futebolístico teriam outros candidatos portistas para um frente-a-frente tão ou mais pertinente. Desde logo, ao nível das assistências, o brasileiro Otávio, o rei portista dos passes para golo neste campeonato. Ou então médios com maior responsabilidade na ligação ao ataque, como Óliver ou Herrera.
Também Marega poderia justificar um parceiro de análise como Rafa, elemento que no Benfica estica a profundidade do jogo tão bem explorada pelo maliano no FC Porto. Mas Pizzi e Marega aparecem aqui unidos pela influência que revelam no produto final entregue pelas respetivas equipas. Influência comprovada pelos números, de resto.
No Benfica, Pizzi distribui golos pelos colegas como ninguém mais neste campeonato. São já 12 as assistências do médio encarnado ao longo das 23 jornadas decorridas, de acordo com as estatísticas disponibilizadas pelo site da Liga Portugal - um novo máximo pessoal e uma das melhores marcas dos últimos anos na liga portuguesa, quando ainda falta um terço para jogar. A isso, o médio acrescenta golo, oito já, só no campeonato (dez no total), o que faz com que a sua influência direta nos golos da equipa se situe nos 31,5%.
Oito das assistências de Pizzi foram contabilizadas já desde a entrada de Bruno Lage, tal como três dos golos, o que mostra que o médio não sofreu com a alteração tática do novo técnico, que o desviou para a direita do 4x4x2. No papel, só, pois na prática Pizzi continua a movimentar-se por todo o lado do meio-campo, na ligação com o ataque, mantendo a influência no processo ofensivo encarnado.
Do lado portista, percebe-se bem o destaque de Marega como o mais influente jogador nos golos marcados pela equipa de Sérgio Conceição. O avançado maliano personifica este FC Porto, que deposita na profundidade conferida pelo atacante o traço mais definidor da sua identidade de jogo. Marega é força, velocidade e agressividade num corpo difícil de parar quando embalado para a baliza. E os dragões apostam nessa explosividade para esburacar defesas contrárias.
Por vezes, nem o próprio corpo de Marega aguenta o ritmo, como voltou a acontecer no início de fevereiro, em Guimarães, o que deixou em risco a presença do jogador neste clássico. Mas, ao que parece, uma recuperação "milagrosa" nas mãos do preparador físico do Shanghai SIPG deixou-o pronto a enfrentar o Benfica neste jogo de crucial importância. Com sete golos e cinco assistências no campeonato, Marega é o jogador mais influente na produção ofensiva dos campeões nacionais, com 26% de participação direta nos golos.
Com o título em equação, é justo que FC Porto e Benfica possam ter em campo os seus jogadores mais influentes. A equipa que melhor conseguir aproveitar isso ficará, muito provavelmente, mais perto do triunfo.
Remates
Marega - 50
Pizzi - 35
Golos
Marega - 7
Pizzi - 8
Assistências
Marega - 5
Pizzi -12
Cruzamentos
Marega - 29
Pizzi - 49
FaltasCometidas
Marega - 26
Pizzi - 23
* Fontes dos números utilizados: site da Liga Portugal e zerozero.pt