15 factos que marcaram os 15 anos de Vieira na presidência do Benfica

Luís Filipe Vieira foi eleito há quinze anos presidente dos encarnados. Um consulado marcado pela transformação de um clube que vinha do período mais negro da sua longa história, mas que nos últimos tempos tem sido manchado por acusações de corrupção.
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Luís Filipe Vieira foi eleito a 31 de outubro de 2003 como 33º presidente da história do Benfica, sucedendo então a Manuel Vilarinho. 91,74% dos votantes elegeram então um líder que ninguém imaginaria que 15 anos depois continuaria à frente do clube, operando uma autêntica revolução numa instituição que estava a atravessar a maior crise da sua história, ainda reflexo da gestão ruinosa do polémico João Vale e Azevedo.

Foram muitos os episódios que marcaram a gestão de Vieira, alguns com grande impacto positivo na evolução do clube, mas também outros, mais recentes, que abalaram a imagem do Benfica e do próprio presidente. No dia em que na Luz se assinalam os 15 anos do consulado de Luís Filipe Vieira, o DN lembra 15 momentos que marcaram este período.

1 - Quebra do jejum de 11 anos

A época de 2004/05 foi o primeiro sinal do início do processo de reconstrução do Benfica. A equipa de futebol profissional não conquistava o título nacional desde 1993/94 e, onze anos depois, com o experiente Giovanni Trapattoni, a quem chamavam de "Velha Raposa", o Benfica voltou a ser campeão, superando na reta final do campeonato FC Porto e Sporting.

Um ano depois da conquista da Taça de Portugal e da tragédia da morte de Miklós Fehér no relvado de Guimarães, o Benfica voltava a festejar. No entanto, ficou célebre uma frase de Vieira, alguns meses depois, assumindo que o seu primeiro título de campeão tinha chegado cedo de mais... e a verdade é que teve de esperar mais quatro anos para poder voltar a festejar.

2 - Campanha de aumento de sócios

Com a conquista do título em 2005, Luís Filipe Vieira lançou uma campanha de angariação de novos sócios, denominada "Kit Novo Sócio", com o objetivo claro de aumentar as receitas das quotizações. Na altura, o Benfica tinha cerca de 100 mil associados pagantes e Vieira definiu uma meta ambiciosa com uma promessa: "O Benfica poderá rapidamente chegar aos 300 mil sócios, se isso não acontecer saio porque é sinal de que a visão que tenho para o projeto não faz sentido." A verdade é que essa meta nunca foi atingida e Vieira acabou por continuar como presidente, mas ainda assim, em 2006 entrou no Livro dos Recordes do Guinness como o clube com mais sócios no mundo - 160 mil sócios.

Atualmente já não detém esse estatuto, pois foi ultrapassado pelo Bayern Munique, mas em março deste ano, Domingos Soares Oliveira, administrador da SAD, assegurou que o clube da Luz estaria acima dos 205 mil sócios "com capacidade de voto e com quotas em dia".

3 - Inauguração do centro de estágio no Seixal

Um dos principais marcos da presidência de Luís Filipe Vieira foi a inauguração do centro de estágio, no Seixal, a 22 de setembro de 2006. Na altura, esta infraestrutura colocava um ponto final a um período em que a equipa principal não tinha casa própria e fazia os seus treinos em Massamá, no Monte da Galega ou no Estádio Universitário.

Terminava assim o tempo de andar com a casa às costas, mas o presidente tinha outros planos para o Seixal, pois começava nessa altura o plano de desenvolvimento da formação de futebolistas, que daria os seus frutos anos mais tarde com o surgimento de jogadores como Bernardo Silva, João Cancelo, André Gomes, Renato Sanches, Gonçalo Guedes, entre outros. E mais recentemente Rúben Dias e Gedson Fernandes.

Em 2013 foi concluída uma primeira operação de ampliação do centro de treinos, estando agora em fase de conclusão uma nova expansão do espaço, que passará a ter capacidade para albergar mais atletas.

4 - A criação da Benfica TV

No dia 10 de dezembro de 2008, Luís Filipe Vieira inaugurou aquele que foi o primeiro canal de televisão de clube a operar em Portugal. A Benfica TV, atualmente denominada de BTV, passou a ser um veículo estratégico, sobretudo quando passou a transmitir os jogos da equipa principal de futebol a partir da época 2013/14, altura em que adquiriu também os direitos de transmissão da Premier League e de outros campeonatos europeus e passou a ter dois canais Premium, chegando a ultrapassar os 300 mil assinantes em 2014.

5 - Modalidades mais competitivas

Ao contrário da aposta no futebol, os primeiros sucessos do Benfica de Vieira foram alcançados nas modalidades. No voleibol em 2005 (14 anos depois do último título), no andebol em 2007 (18 anos depois), no basquetebol em 2009 (13 anos depois) e no hóquei em patins em 2012 (14 anos depois).

No total foram 83 títulos conquistados nas cinco modalidades de pavilhão ao longo destes 15 anos, destacando-se entre eles três títulos europeus: um no futsal e dois no hóquei em patins. Além disso, Vieira promoveu a criação do Projeto Olímpico, tendo arrecadado três medalhas em Jogos Olímpicos por Telma Monteiro (2014), Vanessa Fernandes (2008) e Nélson Évora (2008).

6 - A contratação de Jorge Jesus

No verão de 2009, Luís Filipe Vieira anunciou a contratação de Jorge Jesus para treinador da equipa principal. Nos primeiros seis anos do seu consulado tinham passado pelo cargo José António Camacho, Giovanni Trapattoni, Ronald Koeman, Fernando Santos e Quique Flores. E apenas o italiano tinha conseguido chegar ao título. "Comigo o Benfica vai jogar o dobro e se calhar o dobro é pouco", disse Jesus no dia da apresentação. Dito e feito.

À Luz chegaram jogadores Ramires, Javi García e Saviola, que se juntaram a Di María, Cardozo, David Luiz, Pablo Aimar, entre outros, e os encarnados acabaram por conquistar o campeonato, iniciando um período de seis épocas de Jorge Jesus no comando técnico da equipa, a série mais longa que um treinador esteve no clube.

7 - O sonho antigo do museu

A 26 de julho de 2013, Luís Filipe Vieira cumpriu outra das suas promessas eleitorais: a inauguração do museu Benfica - Cosme Damião. Um projeto que já estava planeado no tempo de Manuel Damásio, mas que nunca chegou a ser concretizado. Finalmente o clube passava a ter um espaço para mostrar o seu espólio de troféus, mas também ter a possibilidade de contar a história de mais de 100 anos, inserido no contexto social e político. O museu entrou nos roteiros turísticos da cidade de Lisboa e em julho deste ano os encarnados anunciaram que tinha sido ultrapassados os 400 mil visitantes.

8 - A época negra e o regresso às finais europeias

O final da época 2012/13 foi de profunda desilusão na Luz. O Benfica de Jorge Jesus tinha a possibilidade de conquistar campeonato, Taça de Portugal e Liga Europa, mas no espaço de uma semana o sonho desmoronou-se com três derrotas por 2-1. Na visita ao Estádio do Dragão, um golo de Kelvin ao minuto 90+2 consumou a reviravolta no resultado com o FC Porto a ficar com o caminho livre para o título.

Quatro dias depois, em Amesterdão, outra vez no minuto 90+2, o Chelsea chegou ao triunfo e tornou o regresso a uma final europeia, 23 anos depois, um pesadelo. Passaram-se onze dias e na final do Jamor o V. Guimarães levantou a Taça de Portugal perante o desespero dos benfiquistas, com a contestação a Jorge Jesus a subir de tom. Contra a opinião de todos, Luís Filipe Vieira manteve o treinador por defender que o sucesso estava próximo...

9 - O triplete inédito

Após um ano de profunda desilusão, a época 2013/14 foi de sonho para o Benfica, com o clube a conquistar o inédito triplete (algo que nenhuma equipa havia conseguido em Portugal), ou seja, ganhou o campeonato, Taça da Liga e Taça de Portugal. O sucesso dava razão a Luís Filipe Vieira na decisão de manter Jorge Jesus.

Para a festa ser completa apenas faltou a conquista da Liga Europa, mas o Benfica voltou a baquear na final com o Sevilha, no desempate por penáltis. Na época 2013/14 iniciava-se um período de intenso domínio encarnado.

10 - A mudança de paradigma com Rui Vitória

O verão de 2015 foi quente na Segunda Circular. Luís Filipe Vieira tomara a decisão de prescindir de Jorge Jesus, após a conquista de dois títulos de campeão consecutivos. Em final de contrato, o treinador que marcou uma mudança na Luz, decidiu mudar-se para o rival Sporting, algo que não foi bem digerido entre os encarnados, levando mesmo ao corte de relações entre o técnico e o presidente, que deu origem a processos em tribunal.

Entretanto, Vieira assumira a mudança de paradigma no Benfica e apresenta Rui Vitória como treinador, que tinha como missão dar continuidade à senda vitoriosa do clube e começar a apostar na formação, depois de Jesus não ter apostado em talentos como Bernardo Silva e João Cancelo.

É então que começam a aparecer os primeiros jogadores made in Seixal na equipa principal: Lindelöf, Ederson Moraes, Gonçalo Guedes, Renato Sanches e até Nélson Semedo, que apenas tinha jogado na equipa B.

11 - Uma revolução nos direitos televisivos

Em dezembro de 2015, sete meses depois de ter assinado contrato de patrocínio com a Emirates, companhia aérea dos Emirados Árabes Unidos, Luís Filipe Vieira anuncia numa cerimónia no relvado do Estádio da Luz um acordo com a NOS para a venda dos direitos de transmissão televisiva dos seus jogos a partir de 2016/17.

O Benfica deixava assim de ser detentor dos seus próprios direitos, assinando um contrato de dez anos no valor de 400 milhões de euros. Era o início de uma autêntica revolução nos direitos de transmissão televisiva, uma vez que este contrato dos encarnados desencadeou uma série de outros acordos do género com Sporting, FC Porto e outros clubes profissionais.

12 - Finalmente, um tetracampeonato

Ao longo da sua história, o Benfica tinha estado seis vezes às portas de conquistar o quarto título de campeão nacional consecutivo, mas nunca conseguiu. O sonho de quebrar essa barreira surgiu em 2016/17, no segundo ano de Rui Vitória como treinador encarnado. Foi na tarde de 13 de maio de 2017 que os benfiquistas saíram à rua após uma goleada de 5-0 ao V. Guimarães, no Estádio da Luz. O Benfica alcançava o primeiro tetracampeonato da sua história, numa época em que arrecadou também a Supertaça e a Taça de Portugal.

13 - Recorde de transferências em 2016/17

Entre o final da época 16/17 e o início da seguinte, o Benfica faturou como nunca na venda de jogadores, uma estratégia que se havia iniciado sete anos anos, no final do primeiro ano de Jorge Jesus na Luz. Só que desta vez, os cofres do clube receberam qualquer coisa como 132 milhões de euros com as transferências de futebolistas.

A saída de Ederson Moraes para o Manchester City por 40 milhões de euros igualava o recorde do Benfica atingido com a saída de Axel Witsel para o Zenit em setembro de 2012. Além do guarda-redes brasileiro foram ainda transacionados Lindelöf (35 milhões de euros) para o Manchester United, Nélson Semedo (30,6 M€) para o Barcelona, Mitroglou (15 M€) para o Marselha, entre outros.

14 - O roubo dos emails e os casos de justiça

Em outubro de 2015, o então presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, denunciou em direto na TVI que o Benfica oferecia vouchers de refeição aos árbitros e delegados da Liga em todos os seus jogos da equipa principal e da equipa B. Foi um início do clima de suspeição que se abateu na Luz e que nos primeiros meses de 2017 teve um impulso, após um ataque um ataque informático, no qual um pirata roubou e-mails internos com informação confidencial do clube.

A 6 de junho desse ano, no Porto Canal, o diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, revelou um alegado esquema de corrupção de árbitros envolvendo a SAD benfiquista. A partir desse momento, desencadeou-se uma série de denúncias que caíram como uma bomba no consulado de Luís Filipe Vieira, afetando a imagem do clube, que passou a estar na ordem do dia pelas piores razões.

O Estádio da Luz foi alvo de várias buscas por parte da Polícia Judiciária e começaram a surgir vários processos. O que está agora na ordem do dia é o caso o e-toupeira, por alegado aliciamento de funcionários judiciais e no qual a SAD encarnada foi constituída arguida, tal como o assessor jurídico Paulo Gonçalves, que entretanto se afastou. Mas há ainda o Mala Ciao, por alegado suborno de atletas de outros clubes.

No dia 27 de janeiro de 2017 o processo dos vouchers acabou por ser arquivado pela justiça desportiva, mas os restantes escândalos obrigaram o Benfica a reforçar o gabinete jurídico para se defender, sendo que todos estes processos ainda vão demorar tempo até serem totalmente esclarecidos.

15 - Passivo reduzido e estádio pago

Ao assinar o contrato com a NOS em 2015, Luís Filipe Vieira anunciara que parte dessa verba do contrato de transmissão dos direitos televisivos dos seus jogos seria para abater o passivo. E a prioridade era abater o passivo bancário, cujos encargos com juros eram muito altos.

O primeiro sinal do cumprimento dessa promessa foi dado em março de 2018 com o anúncio de que o Estádio da Luz estava integralmente pago. Um mês depois surgia o anúncio na CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) que o Benfica reduzira o passivo em mais de 97 milhões de euros.

Já em setembro, o relatório e contas mostrava que pela primeira vez desde 2010/11 os encarnados apresentavam um passivo inferior a 400 milhões de euros, fixando-se em 398,3 milhões de euros. A SAD apresentou lucros pelo quinto exercício consecutivo.

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