De uma infância de bullying, pobreza e violência a estrela do draft do futebol americano

Javon Kinlaw, jogador de futebol americano, está a três semanas de ser o próximo defesa dos San Francisco 49ers.
Publicado a

Esperança e resiliência são as palavras que melhor definem Javon Kinlaw, um rapaz de 22 anos da Carolina do Sul, com uma infância dura, que está muito perto de ser a estrela do próximo draft da Liga Profissional de Futebol Amerciano (NFL). Foi selecionado em 13º no geral pelos San Francisco 49ers, que é considerada a equipa com uma das melhores defesas do campeonato e que perdeu para o Kansas City Chiefs no último Super Bowl.

"De onde eu venho, não podemos confiar em ninguém. Se acabamos por confiar na pessoa errada, acabamos mortos", atirou o jogador numa entrevista à televisão ESPN, antevendo que a sua vida está prestes a mudar para sempre: "Agora eu sei que vou conseguir um bom dinheiro. Foi muito difícil, cheguei ao fundo do poço. Estive onde ninguém deveria estar. Morava em porões e agora, não importa qual for o valor deste contrato, serei grato pelo que vou conseguir, um lugar para morar."

Kinlaw, o mais novo de três irmãos, contou à ESPN como era a vida em Washington, cidade onde a família mudava de casa constantemente e as condições de habitação deixavam muito o desejar, sem água, nem eletricidade. "Tínhamos um fogão a gás. Acendíamos o fogão com um fósforo ou algo assim, pegávamos numa panela grande, fervíamos a água, misturávamos com um pouco de água fria, colocávamos num balde, subíamos ao andar de cima, e tomávamos banho assim."

Aos 8 anos, a casa onde morava com a mãe e o irmão entrou em colapso. Mudaram-se para outra onde usavam a mangueira do vizinho para encher baldes de água. Quando o ano letivo começou, Kinlaw teve de usar as roupas dadas. Alternava entre um par de calças, sweats e algumas t-shirts. "Não acho que tenha sido tão mau, para mim foi o que era. Não me importava, já estava habituado. Podem dizer que é horrível, mas para mim não foi assim tão mau", explicou.

Em 2008, mãe de Kinlaw, Leesa James conseguiu um trabalho num empreendimento comercial em Maryland, através de uma pessoa amiga, mas as coisas voltaram a descarrilar e a família foi obrigada a deixar a casa. Durante alguns meses, graças a um amigo de confiança foram viver para um porão inacabado em Behram. "Foi um salto de fé que não deu bom resultado. Era o meu único trabalho, só eu é que estava tentar sustentar-me e aos meus filhos ao mesmo tempo. Às vezes, confiamos nas pessoas que pensamos que têm as intenções certas de ajudar, mas isso não funciona bem dessa maneira. Ficámos literalmente sem teto durante um tempo", contou a mãe.

As coisas só começaram a melhorar quando a família se mudou para Charleston, Carolina do Sul. Começou a frequentar a Goose Creek High School, e apesar de ter uma média de notas baixas, o talento para o futebol começou a despertar. Foi então que recebeu uma visita do técnico Will Muschamp da Carolina do Sul, que lhe ofereceu uma bolsa de estudos. E assim, ainda meio sem saber as regalias inerentes à bolsa, deixou o colégio onde estava para se juntar ao Jones County Junior College, no Mississípi onde entrou no programa de Desenvolvimento da Educação Geral (GED).

Apesar de ser um atleta emergente, a escola não foi fácil. Kinlaw chegava a faltar à escola para encontrar lugares quentes, como o metro, para passar uns minutos, e sofreu bullying por parte dos colegas, que gozavam pelo excesso de peso que tinha e as roupas que usava. Isso fez com que se mudasse com o pai para a Carolina do Sul. O pai começou a ter problemas com o álcool e ele ia ganhando cada vez mais peso. Chegou a pesar 138 quilogramas, mas começou a treinar e a perder peso. "Foi quando comecei a apaixonar-me pelo futebol americano", confessou o atleta, a quem a determinação da mãe serviu de inspiração.

Diário de Notícias
www.dn.pt