Brasil-Argentina: 105 anos de rivalidade em dez episódios inesquecíveis

Brasil e Argentina encontram-se nas meias-finais da Copa América na madrugada desta quarta-feira e o DN recupera alguns dos duelos mais marcantes da rivalidade centenária entre as duas seleções.
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Esta madrugada, à 01.30 (SportTv1) em Portugal Continental, Brasil e Argentina defrontam-se naquele que é considerado o maior clássico de seleções da América do Sul, um duelo com 105 anos de muitas histórias que desperta paixões desde sempre. De um lado a canarinha de Tite, sem a estrela Neymar; do outro a alviceleste de Lionel Messi. Quem ganhar vai marcar presença na final da Copa América, agendada para domingo. Como se podia ler esta semana no jornal El País, são duas seleções no divã. A Argentina porque não conquista um título desde 1993; o Brasil porque ainda vive o fantasma da goleada de 7-1 imposta pela Alemanha nas meias-finais do Mundial de 2014... precisamente no Mineirão, estádio que será esta madrugada palco do jogo.

De Di Stefano a Pelé, de Maradona a Romário, de Messi a Neymar, a rivalidade entre os dois países é de tal ordem que nem as contas entre eles batem certo. Certo é que há mais de 100 duelos entre as duas seleções - a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) reclama mais quatro jogos do que os 104 reconhecidos pela FIFA, enquanto segundo a imprensa argentina são 106 duelos. O site português zerozero, especializado em estatística, contabiliza 104, como a FIFA, com 42 triunfos para o Brasil, 37 para a Argentina e 25 empates. Na Copa América são 32 jogos, 15 triunfos argentinos, nove vitórias brasileiras e oito empates.

Segundo explicou ao DN o jornalista brasileiro, Raphael Figueiredo, da TV Esporte Interativo, "oficialmente e segundo a FIFA foram disputados 104 jogos entre Brasil e Argentina". Porém, esses números variam de acordo com cada uma das federações: "O primeiro jogo oficial ocorreu em 20 de setembro de 1914, um amigável em Buenos Aires, onde a Argentina venceu por 3-0. Porém, os argentinos reconhecem nas suas estatísticas dois jogos ocorridos antes deste. Um em 1908 e outro em 1912. Ambos ganhos pelos argentinos. Só que aconteceram antes da fundação oficial da Confederação Brasileira de Futebol, que só ocorreu em 1914. Pelo lado brasileiro há quatro jogos que não são reconhecidos pelos argentinos, mas sim pela CBF, um em 1922, outro em 1923 e dois realizados em 1968. Os argentinos argumentam que não foram disputados com as seleções oficiais, mas sim por combinados de clubes representando os dois países. Daí que existe nas estatísticas de cada país reclame números diferentes."

10 jogos históricos entre os dois maiores rivais da América do Sul

1914: O primeiro jogo oficial vezes dois

A rivalidade futebolística entre Brasil e Argentina tem mais de 100 anos. E pode parecer inacreditável, mas tudo começou em clima de amizade, no dia 20 de setembro de 1914, quando foi realizado o primeiro jogo, reconhecido por ambas as federações, um particular em Buenos Aires que terminou com a vitória do Brasil, por 3-0. Este foi o primeiro jogo entre as duas seleções, segundo os registos, embora haja relatos de dois particulares antes deste e ainda antes de a seleção brasileira existir como tal. Sete dias depois do primeiro jogo, as duas equipas voltaram a encontrar-se naquele que foi o primeiro encontro oficial. Em jogo estava um troféu. A Copa Rocca, que o Brasil ganhou por 1-0 graças a uma atitude pouco vulgar nos tempos de hoje. Os argentinos chegaram a empatar, mas ninguém comemorou o golo. O então capitão argentino, Gallup Lanus, informou o árbitro do jogo que o lance fora irregular e que não aceitavam a sua validação. No final, o Brasil saiu vencedor.

1946: Pontapés, socos e perna partida

Nunca a rivalidade entre brasileiros e argentinos esteve tão acesa como na final do campeonato sul-americano de 1946. Nesse ano, enquanto a Europa contava os seus mortos na sequência da Segunda Guerra Mundial e reconstruía cidades arrasadas, a Argentina desfrutava de momentos de grande prosperidade também no futebol com a geração de Moreno, Pedernera Lostau, Labruna, Perucca, Sastre, Di Stefano, Carrizo entre outros. No dia 10 de fevereiro, no Estádio Munomental de Nuñez, em Buenos Aires, enfrentaram o Brasil e venceram por 2-0, conquistando a Copa América. Numa época em que ainda não existiam cartões amarelos e vermelhos, ficam para a história os pontapés e socos entre jogadores e uma perna partida. Jair Rosa Pinto partiu a perna a Salomón numa disputa de bola, o que deu origem a confrontos e bastonadas da polícia. O jogo levou a um corte de relações de dez anos. A Argentina não foi ao Brasil para o sul-americano (hoje Copa América) de 1949 nem ao Mundial 1950. O reencontro foi em 1956.

1957: A estreia do Rei Pelé

Os 2-1 para a Argentina, no Maracanã, a 7 de julho de 1957, foi "memorável" para Pelé, que se estreou e fez o primeiro golo pelo Brasil frente aos argentinos com apenas 16 anos. Silvio Pirilo, então selecionador, colocou-o em campo no lugar de Del Vecchio. O Brasil perdeu, mas ganhou o jovem que viria a ser considerado o melhor de todos os tempos e que após esse jogo saiu aclamado. Labruna abriu o marcador para os argentinos aos 30 minutos do primeiro tempo. Pelé empatou na segunda parte e, em seguida, Juárez colocou a Argentina novamente na frente. No segundo jogo da Copa Roca (era a duas mãos) o Brasil venceu por 2-0, com golos de Pelé e Mazzola e ficou com o título de campeão da Copa Roca de 1957.

1974: O primeiro duelo no Campeonato do Mundo

Foi a 30 de junho de 1974 que começaram os confrontos entre as duas seleções em fases finais de Campeonatos do Mundo. Em Hannover, na Alemanha, o Brasil ganhou por 2-1. No primeiro tempo, Rivelino tabelou com Jairzinho e fez o 1-0. De livre, Brindisi surpreendeu o guarda-redes Leão e empatou o encontro. No segundo tempo, Jairzinho cabeceou para o 2-1 e apurou o Brasil. Este foi o primeiro confronto na principal competição de seleções e foi também o primeiro Mundial do Brasil após a reforma de Pelé, que disse adeus em 1971.

1978: A batalha de Rosário

Rezam as crónicas que o superclássico do dia 18 de junho de 1978 não foi o mais bonito, mas foi certamente um dos mais tensos. Sob violenta ditadura comandada pelo general Jorge Vidella, a Argentina entrou pressionada a vencer a qualquer preço, o que levou a que a partida se jogasse debaixo de um "clima bélico", no estádio Gigante de Arroyito, em Rosário, daí ter ficado conhecida pela Batalha de Rosário. Os dois rivais estavam no mesmo grupo de qualificação, quem "sobrevivesse" estaria a um passo da fase final do Mundial, mas o jogo acabaria empatado (0-0).

1982: O pontapé na barriga de Batista que expulsou Maradona

Mais um confronto memorável entre as duas seleções, em pleno Mundial de Espanha, com os rivais a encontrarem-se na segunda fase de grupos da prova. Zico, Serginho Chulapa e Júnior marcaram os golos da emblemática vitória por 3-1, sobre a Argentina, no Mundial1982. A partida da fase de grupos da competição ficou ainda marcada pela expulsão de Diego Maradona, por um pontapé na barriga de Batista. Apesar do triunfo, nem Brasil nem Argentina se qualificaram, já que a Itália venceu ambos e passou como líder do grupo.

1990: Maradona elimina o Brasil com ajuda de Caniggia

Em 1990, a seleção brasileira vivia uma crise geracional e a Argentina tinha o melhor jogador do mundo, Diego Armando Maradona. As duas seleções encontraram nos oitavos-de-final do mundial e o astro argentino resolveu o jogo, mesmo sem ser ele o autor do golo do triunfo. Aos 35 minutos, El Pibe dominou uma bola no meio de campo, passou por quatro brasileiros e ofereceu o golo a Caniggia. Dos quatro confrontos entre brasileiros e argentinos em mundiais, este foi o único em que um dos lados eliminou o outro em um confronto direto. Ou seja, a Argentina conseguiu, enfim, eliminar o Brasil nas oitavas de final do torneio.

1995: A mão de Túlio

A 17 de junho de 1995 jogou-se a partida do famoso golo da mão de Túlio Maravilha. A Copa América de 1995, disputada no Uruguai, reservou um grande clássico entre Brasil e Argentina nas quartas de final, que ficou na memória dos adeptos. Os argentinos marcaram logo aos dois minutos de jogo, por Balbo, mas o Brasil empatou com Edmundo. Depois Batistuta recolocou a Argentina na frente, e Túlio, dominando a bola com a mão, empatou perto do fim. O lance irregular levou a decisão para os penáltis, e aí o Brasil venceu por 4-2.

2004: A final da Copa América

Foi talvez a grande partida do Superclássico na Copa América. A Argentina venceu por 2-1 com um golo de Delgado no fim. As duas seleções tinham alguns dos melhores jogadores de sua história. Nesta final, os grandes favoritos eram os albicelestes de Marcelo Bielsa, que enfrentaram a jovem e alternativa seleção de Carlos Alberto Parreira. Kily González marcou para a Argentina, Luisão (Benfica) empatou ainda no primeiro tempo. Depois, já na segunda parte, César Delgado, fez o 2-1 para os argentinos e Adriano, já depois dos 90 minutos mandou o jogo para prolongamento e penálties. Nas grandes penalidades César foi decisivo e o Brasil saiu com a taça do Estádio Nacional de Lima, no Peru.

2006: A estreia de Messi com o Brasil

Em 2006, Messi ainda não era Messi, mas já prometia ser. Estreara no Barcelona havia apenas dois anos numa equipa com, Ronaldinho, Eto'o, Deco e companhia quando a 3 de maio de 2006 o camisola 10 teve a oportunidade, frente ao Brasil, no segundo particular da era Dunga. E o argentino sentiu o peso do confronto, num jogo em que o Brasil ganhou por 3-0. Hoje aquele que é considerado um dos melhores do Mundo tem já nove duelos com a canarinha: três vitórias, um empate e cinco derrotas.

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