Villas-Boas, ambições limitadas e os suspeitos do costume

Alguém trava a hegemonia de Peugeot e KTM? Há muitos candidatos, mas as lesões travaram os portugueses. Rali arranca amanhã
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Entre 340 inscritos (141 nas motos, 92 nos carros, 107 nas outras três categorias), há uns bem mais mediáticos do que outros. Lá fora, pergunta-se se alguém consegue derrubar a hegemonia da Peugeot e da KTM. Cá dentro, olha-se para a prova mundial de todo-o-terreno com ambições limitadas e curiosidade pela estreia do treinador André Villas-Boas. A edição 2018 do Rali Dakar parte amanhã, de Lima, capital do Peru.

Pela décima vez, desde que abandonou em 2009 a sua matriz africana, o Rali Dakar percorre os terrenos mais desafiantes da América do Sul - com passagem por Peru, Bolívia e Argentina, até 20 de janeiro. Sem grandes mexidas no grupo de favoritos (já lá vamos), a novidade é que, neste ano, Portugal está sub-representado. Apenas vão competir, sob as cores nacionais, André Villas-Boas (Toyota) e Carlos Sousa (Renault Duster), nos carros, Joaquim Rodrigues (Hero), nas motos, e Pedro de Mello Breyner (Yahama), na nova categoria de SSV (ver texto à direita). O motard Fausto Mota (KTM) - que é natural de Marco de Canaveses, mas vive no País Basco desde os 16 anos - corre desta vez sob bandeira espanhola.

A passagem de André Villas-Boas dos bancos dos estádios de futebol para o volante de um Toyota Hilux, da Overdrive Racing (onde terá Rúben Faria como copiloto) merece nota de destaque, num ano em que a armada portuguesa chega desfalcada a Lima - após ter conquistado 14 etapas e 22 classificações finais de top 10 na série sul-americana do Dakar. Apaixonado pelas provas motorizadas, o treinador (que deixou em novembro o Shanghai SIPG, da China) vai seguir as pisadas do tio Pedro Villas-Boas, um dos pioneiros portugueses no rali (foi co-piloto na edição de 1982, a primeira com presença de representantes nacionais).

"O meu tio também se estreou com 40 anos, como eu, e esta é a 40.ª edição do rali: é curioso como todos os números se ligam. O nosso objetivo é acabar a prova, que é um compêndio de aventura, de desafio e de esforço físico e mental", perspetivou o técnico, citado pelo diário espanhol La Vanguardia. Villas-Boas tinha como objetivo inicial competir nas duas rodas, mas, devido à escassez de tempo para se preparar, decidiu-se pelo automóvel, onde terá a companhia do experiente Rúben Faria (nove presenças como motard, tendo sido 2.º em 2013).

Carlos Sousa sonha com o top 10 Entre os carros, além do novato Villas-Boas, estará o veterano Carlos Sousa. Após quase dois anos de afastamento da competição automóvel, o piloto está de regresso, para a 18.ª presença no Dakar - onde, por 11 vezes, terminou no top 10. "Primeiro vou-me adaptar a tudo o que é novidade. Mas quero andar o mais rápido possível. Sonho com um resultado nos dez primeiros. Tenho consciência de que é uma expectativa muito elevada, mas acredito nessa possibilidade e na competitividade do Duster", diz o piloto, de 51 anos, que foi quarto classificado na edição de 2003.

Carlos Sousa tem o melhor currículo dos pilotos nacionais em prova, devido à ausência daqueles que nos últimos anos colecionaram sucessos nas motos: Paulo Gonçalves, Hélder Rodrigues (ambos lesionados) e Rúben Faria (que deixou a competição de duas rodas, para ser copiloto de Villas-Boas). A ausência de Speedy Gonçalves, que foi 2.º em 2015 e partia para a 12.ª presença no rali, só foi confirmada ontem.

O motard da Honda, que sofrera uma queda há duas semanas, magoando-se no joelho e no ombro, ainda viajou para o Peru. Contudo, perante a dureza do trajeto - principalmente as dunas da primeira semana, demasiado exigentes para o ombro debilitado -, não reuniu condições para lutar pelo topo. "O Paulo não queria fazer o rali só pelas estatísticas. Por isso, vai mesmo ficar de fora", confirmou, ao DN, fonte da assessoria do piloto.

Anteontem, tinha sido Mário Patrão (KTM) a anunciar a desistência do Dakar, após ter sido submetido a uma cirurgia de emergência, devido a uma rutura nos intestinos - na véspera de viajar para a América do Sul. Assim, a representação portuguesa nas motos ficou reduzida a Joaquim Rodrigues. O motard, de 36 anos e que se estreou no ano passado com um 12.º lugar, diz que o objetivo é "terminar todos os dias e chegar ao fim". No ano passado fiz uma boa corrida, se fizer outra igual já fico muito contente", fixa o piloto da Hero, citado pela Lusa.

Alguém derruba Peugeot e KTM?

Quem também quer igualar o ano passado é o francês Stéphane Peterhansel, recordista de triunfos no Dakar: 13 no total (seis nas motos, de 1991 a 1998, sete nos carros, de 2004 a 2017). O veterano, que procura o terceiro triunfo seguido pela Peugeot, será o principal alvo a abater na edição de 2018 do rali.

"Há 30 anos que venho ao Dakar e, desde então, só falhei um. Não há qualquer saturação. Tenho sempre uma grande vontade de ganhar", diz o gaulês, de 52 anos, que vai procurar defender a hegemonia da Peugeot, no ano em que a construtora se despede do Dakar (vai abandonar a competição todo-o-terreno, passando a dedicar-se só ao Mundial de ralicrosse).

Sébastien Loeb, Cyril Despres e Carlos Sainz também defenderão a honra da marca francesa. Os Mini (Nani Roma, Mikko Hirvonen e Orlando Terranova) e os Toyota (Nasser al-Attiyah, Giniel de Villiers e Bernhard ten Brinke) são os candidatos a destronar a Peugeot.

Ainda mais difícil de quebrar parece ser o domínio da KTM, vencedora das últimas 16 edições nas duas rodas. "A nova mota é incrível. Para nós, é um grande passo em frente", refere o britânico Sam Sunderland, de 28 anos, que se estreou a ganhar o rali, ao serviço da marca austríaca, em 2017.

Como ele, também os colegas Toby Price, Matthias Walkner e Antoine Meo terão algo a dizer na luta pela vitória. Challengers serão os pilotos de Honda (Kevin Benavides, Joan Barreda, Michael Metge, Ricky Brabec), Yamaha (Adrien van Beveren, Xavier de Soultrait), Husqvarna (Pablo Quintanilla) ou Slovnaft (Stefan Svitko) -notando-se, claro, a falta de um português...

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