Verstappen encerra temporada com 15.ª vitória no dia do adeus de Vettel

O piloto neerlandês fechou da melhor forma a época em que se sagrou bicampeão de F1, numa corrida em Abu Dhabi em Sebastian Vettel se despediu das corridas.

O piloto neerlandês Max Verstappen (Red Bull) venceu este domingo o Grande Prémio de Abu Dhabi de Fórmula 1, 22.ª e última prova da temporada, estabelecendo um novo máximo de 15 triunfos na mesma época.

O piloto da Red Bull concluiu as 58 voltas ao circuito de Yas Marina em 1:27.45,914 horas, deixando o monegasco Charles Leclerc (Ferrari) na segunda posição, a 8,771 segundos, com o mexicano Sérgio Pérez (Red Bull) num inglório terceiro lugar, a 10,093 segundos do vencedor.

Leclerc e Pérez chegavam a esta derradeira jornada empatados no segundo lugar do campeonato, com 290 pontos, e o mexicano parecia levar vantagem na luta pelo vice-campeonato.

Partiu da segunda posição, ao lado do já campeão Max Verstappen, autor da 'pole position', e à frente de Leclerc. No arranque, até reagiu melhor do que Verstappen que, contudo, ao contrário do que prometera no Brasil, pouco fez para ajudar o companheiro de equipa a garantir a dobradinha para a Red Bull.

Pérez tentou chegar ao comando na primeira curva mas o neerlandês não esteve pelos ajustes e obrigou o mexicano a levantar o pé e a conformar-se com ser segundo na corrida.

A Red Bull optou por fazer parar Pérez mais cedo do que Leclerc, de forma a evitar a ultrapassagem nas boxes, e a estratégia parecia estar a correr bem, pelo menos até à segunda paragem.

É que o mexicano foi o único dos pilotos da frente a parar duas vezes, pois a Ferrari optou por mudar de estratégia e fazer Leclerc chegar ao final sem voltar a trocar de pneus.

Pérez parou pela segunda vez na volta 34 de 58 e regressou à pista em sexto. Encetou uma 'cavalgada' que só parou na traseira do Ferrari de Leclerc, que conseguiu defender a segunda posição na corrida e no campeonato, poupando os pneus o suficiente para chegar ao final apesar das 37 voltas de desgaste.

"Andei sempre a 110%. Fizemos a corrida perfeita. A única hipótese era ter uma estratégia diferente da dele e poupar pneus. Considerando onde estávamos no ano passado, foi uma melhoria grande", frisou Leclerc, no final.

Já Pérez mostrou-se resignado com o resultado. "As coisas são como são. Tenho de estar contente. Dei tudo esta época e volto mais forte para o próximo ano. Tivemos grandes momentos, grandes batalhas. No geral, ele foi um pouco mais forte", considerou.

O vencedor, Max Verstappen, frisou que foi uma corrida que "teve tudo a ver com gestão de pneus".

"É incrível voltar a ganhar aqui e conseguir 15 vitórias numa época é inacreditável. É uma motivação para tentar voltar a ter um bom desempenho no próximo ano", disse o bicampeão.

Esta prova marcou a despedida do antigo tetracampeão Sebastian Vettel (Aston Martin), que fechou na 10.ª posição, somando um derradeiro ponto.

"Gostei da corrida. Não tivemos a melhor estratégia, o que foi uma pena. Mas, no geral, foi um bom dia. Vou sentir mais falta do que aquela que me apercebo agora. Sinto-me um pouco vazio. Os últimos dois anos foram desapontantes desportivamente mas muito importantes para a minha vida. Somos uns privilegiados. Se tivermos o poder de inspirar pessoas com o que fazemos, se pudermos transmitir alguns dos valores importantes, isso é muito grande", comentou o mais novo campeão de sempre, que conquistou os títulos de 2010, 2011, 2012 e 2013.

Esta foi, também, a última corrida para o australiano Daniel Ricciardo (McLaren), que foi nono, para o alemão Mick Schumacher (Haas), que foi 16.º, e para o canadiano Nicholas Latifi (Williams), que desistiu a três voltas do fim.

Também o britânico Lewis Hamilton (Mercedes) desistiu com um problema hidráulico a três voltas do fim, acabando assim a primeira temporada em que não venceu nenhuma corrida desde que chegou à Fórmula 1.

Verstappen fecha como campeão, com 454 pontos e 15 triunfos, deixando Leclerc em segundo, com 308, e Pérez em terceiro, com 305. George Russell (Mercedes) foi o quarto, com 275, enquanto Hamilton foi apenas sexto, com 240.

A Red Bull venceu o Mundial de construtores, com 759 pontos, com a Ferrari em segundo, com 554 e a Mercedes em terceiro, com 515.

Sebastian Vettel, de implacável a ativista em 15 anos de Fórmula 1

A Fórmula 1 despediu-se de Sebastian Vettel, o seu mais novo campeão de sempre que, em 15 anos de carreira, foi de implacável piloto a inveterado ativista ambiental.

Aos 35 anos e já sem a chama que o fez conquistar quatro títulos mundiais consecutivos (2010 a 2013), Sebastian Vettel fecha uma etapa na sua vida para se dedicar mais à família e às causas que vem defendendo nos últimos anos, sobretudo as ambientais.

Filho de um carpinteiro e de uma dona de casa, Sebastian começou a competir nos karts com apenas sete anos. Chegou à Fórmula 1 pela mão da BMW Sauber, substituindo o lesionado Robert Kubica no Grande Prémio dos Estados Unidos de 2007.

Seguiu, então, para a Toro Rosso (atual Alpha Tauri), ao serviço da qual conquistou a primeira vitória para a equipa (GP de Itália de 2008), tendo, sido, também, o mais novo de sempre a conquistar uma 'pole position' (com 21 anos, dois meses e 10 dias).

Subiu à equipa principal, a Red Bull, no ano seguinte, em que lutou com o surpreendente Jenson Button (Brawn GP) pelo título mundial.

O ano de 2010 foi o da afirmação de um jovem piloto prodígio, calculista, inteligente e implacável. Que o digam os seus companheiros de equipa.

O australiano Max Webber nunca conseguiu sair da sombra do jovem prodígio germânico, que durante quatro anos foi batendo recordes de precocidade na disciplina máxima do desporto automóvel.

Os dois chegaram a chocar (literalmente) no Grande Prémio da Turquia de 2010, ano em que Vettel se tornou no mais novo campeão de sempre, com 23 anos, quatro meses e 11 dias, recorde ainda em vigor.

Durante quatro anos, Vettel dominou a Fórmula 1, conquistando quatro títulos consecutivos, ficando a apenas um dos cinco do argentino Juan Manuel Fangio e a três dos sete de Lewis Hamilton e Michael Schumacher.

Com Hamilton discutiu, em pista, os títulos de 2017 e 2018, quando já estava na Ferrari, para onde foi tentando seguir o caminho trilhado pelo ídolo de juventude e compatriota, Michael Schumacher.

Dono de um humor refinado, ficaram famosas as tiradas sarcásticas nas conferências de imprensa. Avesso a redes sociais (criou conta no Instagram em 2022, para anunciar a despedida das pistas), é zeloso da sua vida pessoal. Casou com uma antiga namorada dos tempos de escola, tem três filhos, duas raparigas e um rapaz.

Além do desempenho desportivo, Vettel ficou conhecido na Fórmula 1 por dar nomes femininos aos monolugares que pilotava a cada ano.

Sem conseguir o sucesso desportivo na Ferrari, foi perdendo espaço na escuderia do 'cavallino rampante' até sair, desmotivado, após o quinto posto no Mundial de 2020, batido pelo novo companheiro de equipa, o monegasco Charles Leclerc.

Rumou à Aston Martin para servir de mentor do filho do dono, o canadiano Lance Stroll, mas o fraco desempenho do carro precipitou a despedida das pistas.

À medida que via o fim de carreira a aproximar-se, Vettel foi abraçando causas políticas e ambientais. Tornou-se numa das vozes mais críticas da pegada ambiental da Fórmula 1, chegando mesmo a confessar já não se sentir confortável por fazer parte do Grande Circo.

Foi o primeiro a juntar-se ao protesto de Lewis Hamilton, que se ajoelhou em protesto contra as discriminações raciais, envergando a camisola com a frase 'black lives matter'.

A aproximação entre os dois antigos rivais ficou bem patente na despedida de Vettel, com um jantar que reuniu todos os 20 pilotos da grelha. O encontro foi promovido, e pago, por Hamilton e promete fazer escola para o futuro.

"Seb é um grande líder e fez um ótimo discurso, transmitindo as suas experiências ao longo destes anos aos mais jovens, porque eles são o futuro", frisou Hamilton.

Vettel deixa a Fórmula 1 com o registo de 53 vitórias, quatro títulos mundiais e 57 'pole positions'. Ainda detém o recorde de campeão mais novo de sempre e de maior número de 'pole positions' numa só temporada (15, em 2011).

"Ninguém se vai lembrar de mim no futuro. Há um limite, nada dura para sempre", disse, em jeito de despedida.

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG