Treinadores da I Liga aguentam em média 416 dias no cargo

Técnicos do principal campeonato português abaixo da média europeia de permanência no cargo. Sérgio Conceição detém recorde de longevidade em Portugal.
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Os treinadores da I Liga portuguesa aguentam em média de 416 dias no cargo, de acordo com um estudo do Observatório do Futebol (CIES), um valor mais baixo do que a média europeia, mas superior a algumas ligas de topo (Portugal está no 44.º lugar da lista entre 90 países, e entre as 10 principais ligas europeias é sexto).

O estudo do CIES abrange 90 Ligas em todo o mundo de acordo com a média de tempo que os treinadores ficam no cargo (com dados atualizados até 1 de março), com Portugal a ficar abaixo da média europeia, que é de 506 dias.

Na I Liga portuguesa, a média é de 416 dias, com apenas 16,7% de treinadores nos cargos há dois anos consecutivos, e 44,4% em funções há menos de seis meses.

Sérgio Conceição, que chegou ao FC Porto na época 2017/18, é o treinador há mais tempo num clube, cumprindo a quinta época ao serviço do atual líder do campeonato, enquanto Rúben Amorim, do Sporting, atual campeão nacional, está desde o meio da temporada 2019/20 no comando dos leões.

Em dezembro, por ocasião de um espaço dedicado a Sérgio Conceição no Museu do clube, Pinto da Costa chegou a dizer que o técnico iria bater o recorde de longevidade no clube: "Vai alcançar um recorde que um dia será imbatível, nunca mais um treinador vai estar tantos anos seguidos no clube, para aí uns dez", referiu na altura.

Esta temporada, na I Liga, já se registaram 12 saídas de técnicos no escalão máximo do futebol português, caso do Benfica, que trocou Jorge Jesus por Nélson Veríssimo, em finais de dezembro do ano passado. Algumas equipas, como Moreirense, Santa Clara e B-SAD, já trocaram de treinador mais do que uma vez na presente época.

Nas principais ligas europeias, a Premier League inglesa é a que apresenta um valor superior, com 772 dias de média para os técnicos nos cargos, 45% em funções há dois ou mais anos, seguindo-se a Liga alemã, com uma média de 628 dias, e a Liga espanhola, com 617. Já a Liga francesa, com 385 dias, e a Liga italiana, 384, apresentam uma média inferior a Portugal.

Na análise a todas as Ligas do estudo do CIES, a Irlanda do Norte é o país que apresenta os valores mais elevados, com uma média de 1536 dias no cargo, enquanto no lado aposto surge a Arábia Saudita, com apenas 156 dias.

Refira-se que entre as ligas mais cotadas da Europa, o treinador que está há mais tempo no cargo é Diego Simeone, que treina o Atlético Madrid há mais de 10 anos. Na segunda posição surge Sean Dyche, do Burnley, da Premier League inglesa. Entre as 90 ligas estudadas, o técnico com maior longevidade é Jomo Sono, que treina o Jomo Cosmos, da África do Sul, quase há 30 anos.

O campeonato brasileiro também surge na cauda da tabela deste estudo, sendo a terceira competição em que os treinadores, em média, menos tempo estão nos cargos, com 163 dias.

No Brasileirão estão três treinadores portugueses. Abel Ferreira treina o Palmeiras há cerca de um ano e meio (desde novembro de 2020), enquanto Paulo Sousa e Vítor Pereira estão na época de estreia ao serviço de Flamengo e Corinthians, respetivamente.

Um dos maiores exemplo de longevidade de treinadores é o de Guy Roux, técnico francês que esteve 44 anos no comando do Auxerre, entre 1961 e 2005, 36 de forma consecutiva - interrompeu apenas a ligação por três motivos: o serviço militar, a ideia de ser diretor desportivo e uma operação ao coração.

Guy Roux tornou-se uma figura muito considerada e respeitada em França e ficou inclusivamente amigo de vários presidentes. Chegou a ligar para François Mitterrand quando Eric Cantona (foi seu jogador no Auxerre) deu um pontapé num adepto durante um jogo entre o Manchester United e o Crystal Palace em 1995 e corria o risco de ser preso; e foi condecorado por Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy, além de ser amigo de infância do antigo primeiro-ministro gaulês Lionel Jospin.

Em Portugal, o caso mais célebre é o de Augusto Mata, que ganhou até a alcunha de Ferguson português, pois treinou o Infesta durante 29 temporadas - de 1973-1974 até 2002-2003. "Passaram por mim centenas de jogadores. Treinei pais e mais tarde os filhos e isso marca sempre um treinador [...] todos nós sabemos que os treinadores vivem das vitórias, mas cá, mesmo quando os resultados não eram os melhores, houve sempre muita compreensão. As pessoas sempre se entenderam e com muito respeito. De vez em quando tínhamos pontos de vista diferentes, mas o bom senso acabou sempre por prevalecer", disse há uns anos, ele que nas duas primeiras épocas exerceu funções de jogador-treinador.

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