Talento, audácia, resiliência, superação. Atletas pioneiras homenageadas pelo Comité Olímpico
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Talento, audácia, resiliência, superação. Atletas pioneiras homenageadas pelo Comité Olímpico

Da Ginástica em Helsínquia1952, ao Surf em Tóquio2020, 26 portuguesas fizeram história em Jogos Olímpicos. Portugal tem apenas cinco mulheres medalhadas: Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Vanessa Fernandes, Telma Monteiro e Patrícia Mamona.
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Dália Cunha, a irmã Natália Cunha e Laura Amorim foram as pioneiras das pioneiras. As três ginastas abriram o caminho à participação das mulheres portuguesas nos Jogos Olímpicos de Helsínquia em 1952 – 40 anos depois da estreia de Portugal (1912) - e foram esta sexta-feira homenageadas, tal como todas as outras atletas pioneiras em cada modalidade na representação de Portugal. O Comité Olímpico de Portugal (COP) quis destacar o Dia Internacional da Mulher recordando o talento, a audácia, a resiliência, a determinação e a superação das referências do Olimpismo no feminino.

Para Diana Gomes, presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, “o Dia Internacional da Mulher é assinalado por ainda ser necessário fazê-lo" e não esqueceu quem abriu o caminho: "Todos temos, sim, todos, homens e mulheres, de estar gratos pela coragem de quem ignorou o que se escrevia, o que se prescrevia, o que se diagnosticava. Quase 50 anos passaram desde a oficialização deste dia pelas Nações Unidas. Já quase duas gerações percorreram este tempo, mas todos nós ainda vivemos e convivemos com desigualdade de oportunidades.”

Cristina Almeida, diretora do Departamento de Estudos e Projetos do COP, defendeu que é preciso "celebrar os progressos alcançados" rumo à igualdade de género no desporto e no movimento Olímpico: "Este ano comemora-se um marco extraordinário que será alcançado em Paris. Pela primeira vez haverá paridade total de homens/mulheres dentro do campo de jogo, na participação de atletas. De 2% de mulheres nos Jogos de Paris 1900 a 50% nos Jogos de Paris2024.”

Sameiro Araújo e Filipa Cavalleri, Ana Celeste Carvalho, Ana Vital Melo, Elisabete Jacinto e Mónica Jorge, da Comissão Mulheres e Desporto do COP, fizeram a entrega das distinções às atletas homenageadas.

As ginastas Dália Cunha, a irmã Natália Cunha e Laura Amorim foram as pioneiras das pioneiras, em Helsínquia em 1952.

O paquete Serpa Pinto foi hotel e ginásio das ginastas

Dália Cunha, a irmã Natália Cunha e Laura Amorim viajaram no famoso paquete Serpa Pinto, que serviu de hotel e ginásio. “Foi uma semana a bordo inesquecível. Só a equipa da ginástica, seis rapazes e três raparigas, treinámos no convés. Levámos os aparelhos a bordo. Tínhamos as paralelas, a trave cavalo. Os movimentos livres faziam-se no espaço que sobrava, mesmo sem o estrado”, contou Dália numa entrevista citada no livro Olímpicas.

Dália tinha 23 anos e competiu no concurso individual de ginástica aplicada, classificando-se em 109.º lugar – Natália foi 124.ª e Laura 133.ª Filha de um sportsman da altura (Hélder Cunha), Dália viria a revelar-se uma atleta superdotada e rapidamente ganhou medalhas no atletismo e foi convidada para ir para o Sporting por Moniz Pereira. Corria, lançava o peso, nadava, fazia equitação,toureava a pé e a cavalo, mas era uma apaixonada pela patinagem. O sonho olímpico foi despertado por Joseph Sammer, um alemão que trocara Veneza pelo Ginásio Clube Português e que escolheu oito atletas para treinar. Uma era Dália, com quem viria a casar um ano após os Jogos de 1952. Foi mãe aos 28 anos e ainda voltou a competir e ir a Roma1960, onde voltou a ser 109.ª classificada. 

A primeira medalha surgiu 32 anos depois, em Los Angeles1984 com Rosa Mota, que é também dona do primeiro ouro (Seoul1988).  Portugal tem menos de 130 atletas Olímpicas e cinco medalhadas - Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Vanessa Fernandes, Telma Monteiro e Patrícia Mamona. No total de 24 medalhas olímpicas, quatro são de ouro, e dessas, duas são de mulheres: Rosa Mota (maratona,1988) e Fernanda Ribeiro (10 mil metros, 1996).

Rosa Mota está entre as maiores referências desportivas de Portugal. “A menina da Foz” é dona da primeira medalha Olímpica conquistada por uma mulher portuguesa. Um bronze em Los Angeles1984 e logo no ano de estreia da maratona como disciplina olímpica e do atletismo no feminino (32 anos após a estreia dasmulheres portuguesas). Nesse ano (Lopes conquistou o ouro e Leitão o bronze), a comitiva contou ainda com Aurora Cunha, Albertina Machado, Conceição Ferreira e Rita Borralho. Quando se sagrou campeã olímpica, em Seoul1988, e deu o primeiro ouro feminino ao País, já tinha 16 anos de atletismo. As quatro condEcorações com a ordem de mérito refletem o quão alto ergueu o nome de portugal. Para dar seguimento ao seu legado abriu uma escola de atletismo com o seu nome no porto para “formar campeões do dia a dia”.

Rosa Mota conquistou o primeiro ouro para Portugal. Foi na maratona em Seul1988.

Na Antiguidade Grega, as mulheres nem no recinto dos Jogos podiam entrar e na Era Moderna começaram apenas como espectadoras e só em Paris1900 se estrearam como participantes (22 entre 975 homens). Não eram vistas como atletas e não tinham direito a medalha, apenas um diploma. A história demorou tempo a fazer e foi necessária a ajuda de alguns homens. Em 1936 para evitar a humilhação de ver uma atleta judia ganhar uma medalha no salto em altura, Hitler baniu Gretel Bergmann dos JO. Foi substituída por Dora Ratjen, a “rapariga esquisita”, que um médico descobriu ser afinal um homem.

A história fez-se graças a atletas como a britânica Charlotte Cooper, a primeira campeã olímpica (ténis, Paris1900). Ou à francesa Alice Melliat - rosto da luta pela integração feminina nos JO-, mas também às 26 pioneiras e cinco medalhadas portuguesas e à recordista Susana Feitor (5 participações em 21 anos).

Lista de 26 pioneiras do Olimpismo português

Helsínquia 1952
Dália Cunha (Ginástica)
Maria Laura Amorim (Ginástica)
Natália Cunha e Silva (Ginástica)

Roma 1960
Maria José Nápoles (esgrima)
Regina Veloso (natação)

Los angeles 1984
Albertina Machado (atletismo)
Aurora Cunha (atletismo)
Conceição Ferreira (atletismo)
Isabel Joglar (tiro)
Rita Borralho (atletismo)
Rosa Mota (atletismo)

Seul 1988
Ana de Sousa (tiro com arco)
Teresa Gaspar (judo)

Atlanta 1996
Ana Barros (ciclismo)
Catarina Fagundes (vela)
Florence Fernandes (canoagem)
Joana Pratas (vela)

Nagano 1998
Mafalda Queiroz pereira (esqui)

Sydney 2000
Cristina Pereira (voleibol de praia), já falecida
Maria José Schuller (voleibol de praia)

Atenas 2004
Vanessa Fernandes (triatlo)

Pequim 2008
Ana Moura (badminton)

Londres 2012
Lei Mendes (ténis de mesa)
Luciana Diniz (equestre)

Tóquio 2020
Teresa Bonvalot (surf)
Yolanda Hopkins Sequeira (surf)

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