Sporting podia ter comprado Geny Catamo por 600 mil euros... agora ofereceu 2,5M€
O Sporting podia ter comprado a totalidade do passe de Geny Catamo por 600 mil euros. Mas não o fez e agora está envolvido num imbróglio difícil de perceber e resolver. O clube leonino já quadruplicou o valor estabelecido no contrato inicial com o Amora, tendo oferecido 2,5 milhões de euros para tentar adquirir a totalidade dos direitos económicos do internacional moçambicano de 23 anos, avaliado em oito milhões de euros pelo site Transfermarkt. Mas o emblema do Seixal quer cinco milhões pelos 75% do passe.
Zuneid Rafik Sidat negociou o acordo com os leões e explicou ao DN todo o processo e como ofereceu 25% para garantir que o jogador ficaria em Alvalade o tempo suficiente para mostrar todo o seu talento, como se viu quando decidiu o dérbi lisboeta da 28.ª jornada da I Liga (2-1).
Nascido em Maputo, a 26 de janeiro de 2001 (23 anos), Geny Cipriano Catamo, filho de uma educadora (Quitéria) e de um polícia (Cipriano), começou a jogar futebol no Maxaquene - antigo Sporting de Lourenço Marques, onde despontou Eusébio -, mas rapidamente foi para a Associação Black Bulls, que tinha um protocolo com o FC Porto, e assim o extremo descobriu o caminho do futebol português em 2018.
“Não sei por que não ficou no FC Porto, apesar de haver o tal protocolo, mas depois disso recebi a chamada de um dos investidores do Amora a perguntar se teria espaço para o Geny. Eu já o conhecia e sabia do talento do miúdo, mas quis falar com ele, porque sei que o jogador moçambicano precisa de tempo para se adaptar a Portugal e sabia que ele era um jogador com uma autoconfiança e uma autoestima elevada. Percebi que poderia ser complicado para ele jogar numa divisão não-profissional. Disse-lhe que se fizesse o que sabia fazer e tivesse paciência acabaria no Benfica ou Sporting”, contou ao DN o antigo administrador do Amora, feliz por o tempo lhe ter dado razão.
No primeiro jogo como júnior do Amora, a equipa estava a ganhar e Geny aqueceu 45 minutos e não saiu do banco. No segundo jogo, a mesma coisa, a equipa ganhou e ele esteve 30 minutos a aquecer e não entrou.
“Ele estava cego, partia tudo, se isso fosse possível. Eu e o treinador tivemos uma conversa com ele, e percebeu que a equipa era o importante. No jogo a seguir estávamos a perder 1-0 com o Sacavenense e o treinador lançou o miúdo. Meu Deus, sozinho virou o jogo. Foi uma coisa abismal, há muitos anos que não via um júnior sozinho virar o jogo daquela forma”, relembrou Rafik Sidat.
O interesse do Benfica e o empréstimo ao Sporting
Geny começou então a destacar-se e teve a oportunidade de treinar com a equipa principal do Amora. “O Pedro Russiano disse-me: ‘O miúdo tem de jogar aqui, não sai mais daqui.’ E ele ganhou o espaço dele assim.”
Entretanto surgiu o interesse do Benfica, mas as conversas não evoluíram e, em 2019, surgiu o Sporting. “O acordo foi simples: empréstimo de um ano com opção de compra. E no final dessa época o Sporting podia exercer a opção de compra de 90% do passe do jogador, ficando o Amora com 10%. Mas nessa altura o Amora só já tinha 15% dos direitos económicos e os outros 85% eram, e são, da Associação Black Bulls. E é esse o contrato que está registado na FIFA”, segundo Rafik Sidat, que recusou revelar os valores de cada tranche acordada.
Dos juniores, o extremo passou para a Equipa B leonina e depois foi cedido ao Vit. Guimarães (dez jogos e um golo) e Marítimo (11 jogos e um golo) até voltar a Alvalade.
A certa altura, o então líder do Amora percebeu que o Sporting não iria exercer a opção de compra. “Falei com o Paulo Gomes, diretor da Academia, e propus oferecer 25% dos direitos económicos, podendo o Sporting comprar o restante ao longo dos três anos, conforme estava parcelado no acordo inicial. Por isso o Sporting tem 25%. Sem o contrato que fizemos, provavelmente o Sporting já teria dispensado o Geny”, garantiu Rafik.
Entretanto, os investidores moçambicanos saíram do Amora e venderam a sua participação, e os leões assinaram contrato com Geny - renovado em dezembro, válido até 2028 e com uma cláusula de rescisão de 60 milhões de euros - e tentaram adquirir a totalidade do passe... mas esbarraram num verdadeiro imbróglio burocrático.
“Apareceu em cena um senhor acionista do Amora a tentar inflacionar o valor, quando ele só tem de receber e pagar aos Black Bulls e aos antigos donos o resto. O Amora é um veículo para receber e pagar, porque os contratos estão registados. As pessoas que estão lá não têm direito a nada. Eu acredito que isto se vai resolver, mal ele saia do Amora”, crê o empresário moçambicano.
Para tentar desbloquear a situação, o Black Bulls pediu esclarecimentos à FIFA para perceber se pode fazer o negócio diretamente com o Sporting, porque não quer prejudicar o clube leonino ou o jogador, que agora é representado pelo irmão de Daniel Carriço, ex-jogador dos leões. “O Sporting tendo 25% dificilmente vai vender o jogador, mesmo que apareça amanhã o Real Madrid interessado”, atirou Rafik, lembrando as declarações de Rúben Amorim a dizer isso mesmo.
isaura.almeida@dn.pt