"Sócios gostavam de saber o que se passa antes de saberem pelo MP"
A entrevista de Rui Costa à BTV mexeu o universo benfiquista e o DN ouviu três figuras do clube sobre as revelações de Rui Costa. "Houve coisas de que gostei, outras não e outras que gostava de ter ouvido, mas não foram perguntadas", referiu Francisco Benítez, candidato derrotado nas últimas eleições do clube. José Manuel Capristano, antigo vice-presidente, fez um balanço "globalmente positivo" e Paulo Madeira, ex-jogador, defendeu que Rui Costa "explicou tudo muito bem".
"Gostei da predisposição que demonstrou para falar aos sócios, não os apelidando com aqueles nomes do costume. E também gostei de ter anunciado que a revisão dos estatutos está em marcha. Se for concretizada em fevereiro, como prometido, será ótimo, de outro modo estaremos a derrapar prazos", sublinhou Benítez. Que também apreciou "a preocupação revelada com o estado das modalidades, do anúncio de que o pavilhão vai passar a ser aberto aos sócios em todos os jogos" e que "o Estádio da Luz vai de facto ser renovado".
Pela negativa, o empresário lamentou "ter-se ficado a saber que o Benfica irá realizar uma auditoria às investigações dos factos que constam nos fortes indícios do Ministério Público (MP) na Operação Cartão Vermelho, ao invés de ser feita uma investigação minuciosa a todo o Grupo Benfica". No seu entender, "os sócios gostariam de saber o que se passa no clube antes de saberem pelo MP".
Mas o que mais lhe custou foi ter conhecimento de que o Benfica não vai constituir-se assistente no processo Cartão Vermelho. "Se o fizéssemos, podíamos ter a certeza mais rapidamente daquilo que todos presumimos, de que o clube foi roubado por algumas pessoas. E podíamos agir", realçou.
O candidato derrotado nas últimas eleições lamentou ainda "a confiança cega" de Rui Costa em Domingos Soares de Oliveira e Miguel Moreira: "Gostaria que houvesse uma alteração de comportamento para com duas pessoas que são arguidas e que alegadamente prejudicaram o Benfica."
Benítez criticou ainda Rui Costa por "ter confessado que assinou documentos apenas por ser administrador da SAD e quando ele disse que se fosse qualquer outra pessoa a estar no seu lugar também teria assinado". "Tal demonstra uma grande ligeireza e irresponsabilidade, pois não se pode assinar documentos de compra de passes de jogadores sem saber o que se está a assinar, sob pena de comprarmos um jogador por mais de 3 milhões de euros quando ele estava avaliado em 25 mil euros".
Por outro lado, entende que "foi a trapalhada total" quando Rui Costa abordou o processo de saída de Jesus: "Foi a parte pior da entrevista, porque entrou em contradições e mostrou que não teve rédeas na condução do processo, ao não conseguir segurar o balneário."
O empresário lamenta ainda "o registo "vieirista" de Rui Costa, dizendo constantemente que está a perder dinheiro por estar no Benfica". De resto, na sua opinião, o atual presidente devia fazer uma maior demarcação em relação ao antecessor. "A constituição da sua lista é um sinal claro de continuidade em relação a Vieira. Todos os benfiquistas já perceberam que é preciso mudar de página, mas Rui Costa parece que tem medo de cortar o cordão umbilical. Ele pode não ter lucrado nada, mas pelo menos foi cúmplice. O velho ditado diz que "ladrão não é apenas aquele que rouba mas também quem fica à espreita"", atirou.
O empresário gostaria ainda de perceber qual a relação que o Benfica pretende estabelecer com John Textor: "Rui Costa disse que a SAD nunca vai perder a maioria, mas isso é algo que nem me preocupa muito. O que me importa é que não seja perdido o poder executivo da SAD e isso não ficou claro."
José Manuel Capristano, antigo vice-presidente do Benfica, faz um "balanço globalmente positivo" da entrevista. "Mostrou que domina quase todos os dossiês e teve uma enorme importância a defesa que fez de Domingos Soares de Oliveira, o principal responsável pelo facto de o Benfica ter um ativo superior ao passivo, caso único nos grandes clubes portugueses". E não concorda que Rui Costa deva afastar-se de Vieira: "O segredo de justiça em Portugal é uma vergonha. Pessoas que ainda estão a ser investigadas são declaradas culpadas na praça pública. Ao assumir que será implacável caso algumas das acusações a Vieira sejam provadas, é óbvio que está a demarcar-se."
Capristano gostou também de ouvir que "será dada uma maior importância à formação no plantel principal". E ficou agradado com as explicações a respeito da saída de Jesus: "Não foram os jogadores que mandaram embora o treinador, porque foi ele que percebeu não ter condições para continuar, depois dos jogadores se terem unido." E assegura que Rui Costa é o homem certo, "pois é culto, ponderado e grande conhecedor do futebol, em termos nacionais e internacionais".
Paulo Madeira defende que "foi uma boa entrevista, em que foram focadas as questões da atualidade, com Rui Costa a explicar tudo com clareza". E ficou convencido de que não foram os jogadores a despedir Jesus, "pois foi Rui Costa quem tomou a decisão, ao perceber que o treinador não tinha condições para dar a volta à situação".
O ex-internacional português defende que "ao contrário do que já se andava a dizer, as escutas demonstram não existirem provas de que Rui Costa sabia de eventuais ilegalidades". E acrescenta: "As pessoas falam nas assinaturas dele... A verdade é que ele, como administrador da SAD, teve de assinar aqueles documentos, como assinou certamente muitos outros que não são do conhecimento público".