Slot acabou com ‘heavy metal’ de Klopp e fez do Liverpool campeão com novos ritmos

O Liverpool igualou este domingo o Manchester United como clube como mais títulos de campeão inglês. São 20 troféus conquistados numa história com quase 133 anos de um dos emblemas mais populares de Inglaterra que, à partida para esta época, enfrentava o desafio sempre complicado do fim de uma era de nove anos marcantes. A festa aconteceu no mítico estádio Anfield, interrompendo um ciclo de quatro anos de domínio do Manchester City, com uma goleada sobre o Tottenham, por 5-1, com golos de Luis Diaz, Mac Allister, Gakpo, Salah e Udogie (própria baliza).

Quando na tarde de 19 de maio de 2024, o alemão Jürgen Klopp se despediu dos adeptos no relvado de Anfield, após nove anos à frente da equipa, poucos adeptos acreditavam num futuro de sucessos imediatos e foi até, com algum custo, que Klopp conseguiu que cantassem em uníssono o nome do seu sucessor, o neerlandês Arne Slot, que vinha de três épocas e um título de campeão ao serviço do Feyenoord.

Aquele momento surpreendente em que Klopp começou a cantar a música que lhe era dedicada pelos adeptos, trocando o seu nome pelo de Arne Slot foi um dos mais mágicos que há memória no futebol. Nunca antes uma passagem de testemunho tinha sido feita de forma tão perfeita e original.

No início de uma nova era, Slot não fugiu ao peso da responsabilidade e admitiu que Klopp deixara “um espaço grande por preencher”, mas sempre destacou que o facto de o Liverpool ser “uma equipa com cultura vencedora” foi o motivo pelo qual tinha aceitou o desafio. “Posso ser o sucessor de alguém muito bem-sucedido. Olho para isso como a situação ideal, porque é uma oportunidade de ganhar alguma coisa”, assumiu o neerlandês.​

Salah imparável

Com esta mudança, o Liverpool assumia também o final de um conceito de futebol assente no gegenpressing (pressão a todo o campo) muito intenso, com transições atacantes muito rápidas, a que muitos chamavam de futebol heavy metal. A ideia de jogo de Arne Slot manteve o sentido ofensivo, mas com um estilo mais ritmado, com posse de bola mais estruturada, melhor jogo posicional e mantendo a pressão que era herança de Klopp, mas em doses mais equilibradas.

O maior mérito do novo treinador foi manter as melhores virtudes que a equipa exibiu durante nove anos, juntando-lhe as suas ideias que se traduzem num jogo mais flexível e equilibrado, não tão agressivo como antes.

Ao nível da personalidade, Slot não é tão carismático e emocional como Klopp, mas a sua forma de ser calma, mais analítica e apelando a uma vertente mais tática e disciplinada do jogo acabou por convencer os jogadores a aceitar a mudança.

O resultado foi uma equipa mais equilibrada e resistente quando está sob pressão, com reflexos óbvios numa defesa que se tornou mais sólida liderada pelo neerlandês Virgil van Dijk, um meio campo mais controlador com o argentino Alexis Mac Allister a assumir um papel decisivo, mas o húngaro Dominik Szoboszlai muito importante na ligação com o ataque.

Na frente, o egípcio Mohamed Salah continuou a ser estrela, menos explosivo mas mais criador, o que o tornou ainda mais decisivo, como o comprova o recorde de 46 participações em golos na Premier League, correspondentes a 18 assistências e 28 golos. No plantel há ainda o português Diogo Jota, que se sagrou este domingo campeão pela primeira vez na carreira - jogou 23 jogos e marcou seis golos no campeonato.

Liderança à 10.ª jornada

O Liverpool de Arne Slot iniciou a Premier League 2024/25 em grande estilo, com três vitórias nas três primeiras jornadas e sem sofrer golos. Contudo, ao quarto jogo, em Anfield, surgiu o primeiro revés com o Nottingham Forest de Nuno Espírito Santo. A derrota por 0-1 fez ressurgir as dúvidas entre os adeptos, mas não em Arne Slot, que continuou o seu caminho de mudança.

A 2 de novembro, com um triunfo complicado (2-1) em Anfield frente ao Brighton, conjugado com a derrota do Manchester City em Bournemouth, o Liverpool subiu ao primeiro lugar, de onde nunca mais saiu.

Entre a derrota com o Forest e o final do ano de 2024, o Liverpool alcançou 12 triunfos e três empates - fora com Arsenal e Newcastle e em casa com o Fulham de Marco Silva - e conseguiu uma importante vantagem de sete pontos para o segundo classificado, o Arsenal.

Dois empates contra treinadores portugueses marcaram o início de 2025 de Arne Slot: o primeiro, em casa, com o rival Manchester United, onde tinha acabado de chegar Ruben Amorim, e o outro fora com o Nottingham Forest. Aliás, a equipa de Nuno Espírito Santo foi, até ao momento, uma das duas que o Liverpool não conseguiu vencer esta época na Premier League, a outra foi o Fulham de Marco Silva, que no início de abril aplicou a outra derrota aos novos campeões.

Sempre com uma vantagem pontual confortável para o Arsenal, o principal concorrente na luta pelo título, a confirmação da conquista do título surgiu ontem com a vitória frente ao Tottenham, que marca o fim do ciclo de quatro conquistas do Manchester City e, ao mesmo tempo, faz esquecer a desilusão da eliminação da Taça de Inglaterra frente ao Plymouth Argyle, do segundo escalão, a final da Taça da Liga perdida com o Newcastle (1-2) e a eliminação da Champions frente ao PSG, depois de uma fase de liga em que foi primeiro e da qual se destaca uma histórica vitória (2-0) com o Real Madrid, a 6 de novembro, algo que não acontecia há 15 anos, e que representou, para muitos, um ponto de viragem na mentalidade competitiva da equipa.