Seleção atrás do sonho de Santos, no meio do furacão lançado por Ronaldo
A seleção nacional já está instalada no Qatar, onde na próxima quinta-feira, frente ao Gana, inicia a oitava participação numa fase final de um Campeonato do Mundo, a sexta consecutiva (o grupo H conta ainda com o Uruguai e a Coreia do Sul). Numa autêntica fortaleza no meio do deserto, a cerca de 30 quilómetros de Doha, o selecionador nacional, Fernando Santos, trabalha uma equipa que procura cumprir um sonho: conquistar o título de campeã do mundo. Por mais de uma vez o treinador expressou esse desejo, garantindo que os seus eleitos o acompanham nesse desígnio. "Todos os jogadores vêm com uma fome enorme de tornar Portugal campeão do mundo", assegurou.
O sonho alimenta a equipa das quinas naquele que será o último Mundial de Cristiano Ronaldo, futebolista que marcou a seleção durante quase duas décadas e tornou-se um ícone à escala planetária, considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos.
Aos 37 anos, CR7 chega ao Qatar debaixo de uma enorme pressão. Mais do que nunca, está obrigado a mostrar as suas qualidades, sobretudo depois de uma entrevista polémica em que criticou o seu clube, o Manchester United, mas também o treinador, Erik ten Hag, em quem diz não confiar. Regressar a Old Trafford parece neste momento algo impossível e a bomba que largou tornou-o ainda mais o centro das atenções. Será que esse ambiente tenso em redor do jogador vai afetar o rendimento da seleção no Qatar? Essa é uma pergunta que só terá resposta lá mais para a frente, mas há quem diga que CR7 vai aproveitar o torneio para mostrar que não está acabado.
Depois de se ter tornado o melhor marcador de sempre de seleções, com 117 golos, Ronaldo aponta agora para ser um dos cinco futebolistas com mais Mundiais disputados (cinco), mas procura ainda ultrapassar Eusébio como melhor marcador português em Campeonatos do Mundo e como único português a marcar quatro golos numa partida. Na mira tem também a marca de Diego Maradona de 16 jogos como capitão no torneio, mas para isso precisa de chegar aos quartos-de-final. Focos de motivação não faltam ao número 7 de Portugal, que cada vez mais se alimenta de recordes.
Com uma média de idades de 26,34 anos, Fernando Santos mantém a aposta em alguns jogadores que lhe permitiram conquistar o título europeu em 2016. Pepe, com 39 anos, e Cristiano Ronaldo, 37, mantêm-se como imprescindíveis para o selecionador, tal como William Carvalho, Raphaël Guerreiro, Danilo Pereira, João Mário e até Rui Patrício, guarda-redes que entretanto perdeu a titularidade para Diogo Costa, um dos vários futebolistas da mais nova geração que começa a destacar-se, onde também se incluem Diogo Dalot, Nuno Mendes, Vitinha, Matheus Nunes, João Félix, Rafael Leão, Gonçalo Ramos e António Silva, o benjamim da equipa das quinas.
No meio está uma outra geração de futebolistas já consagrados, que alinham nos mais competitivos campeonatos europeus, casos de Rúben Dias, João Cancelo, João Palhinha, Bernardo Silva, Rúben Neves, Bruno Fernandes e André Silva. É nesta mistura geracional que Santos vai procurar o equilíbrio para levar Portugal ao sucesso, ainda que tenha perdido o avançado Diogo Jota, que, por lesão, não está no Qatar. Renato Sanches e Gonçalo Guedes ficaram de fora da convocatória por opção do selecionador nacional.
Com tanto talento nos convocados, a seleção terá como objetivo mínimo fazer melhor do que nos últimos três Campeonatos do Mundo, nos quais foi eliminada por duas vezes nos oitavos-de-final - em 2010, pela Espanha, e em 2018, pelo Uruguai - e por uma vez na fase de grupos, no Brasil 2014. Ou seja, Portugal tem ficado muito aquém das expectativas desde a segunda melhor participação de sempre, em 2006 na Alemanha, quando a seleção orientada por Luiz Felipe Scolari ficou em quarto lugar, depois de perder com a equipa da casa no jogo de atribuição do último lugar do pódio.
Aliás, a nossa equipa só por duas vezes chegou longe nesta prova, pois em 2002 (Coreia do Sul e Japão) e em 1986 (México) não conseguiu ultrapassar a fase de grupos, mantendo-se como melhor participação de sempre o Mundial de 1966, em Inglaterra, onde Eusébio e companhia brilharam e levaram Portugal ao terceiro lugar, perdendo apenas com a seleção da casa em Wembley, nas meias-finais, numa partida que ficou marcada pelas lágrimas de revolta do Pantera Negra. No jogo de consolação, Portugal venceu a URSS e ficou no último lugar do pódio. Uma estreia de sonho à qual se seguiram 20 anos de ausência da prova.
Com um total de 30 jogos disputados em fases finais, Portugal soma 14 vitórias, seis empates e 10 derrotas, contabilizando 49 golos marcados e 35 sofridos. Eusébio continua a ser o que mais golos marcou em fases finais, nove num só torneio, algo que até hoje ninguém conseguiu. Ronaldo contabiliza sete, mas em quatro fases finais.