Flexões na meta. Americano dá show na maratona do queniano Kipchoge

Portugueses Rui Pedro Silva (123.º) e Ricardo Ribas (134.º) terminaram prova em sofrimento. Meb Keflezighi foi uma das figuras do dia
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O queniano Eliud Kipchoge confirmou ontem o favoritismo à conquista do ouro na maratona, ao vencer a prova com o tempo de 2:08,44 horas. O atleta africano era o dono da melhor marca do ano (2:03.05 na maratona de Londres) e ontem conseguiu cortar a meta isolado, depois de um ataque que lançou ao quilómetro 32 e que lhe permitiu afastar-se de um grupo de oito corredores que já se tinha destacado. O segundo lugar ficou para o etíope Feyisa Lilesa (2:09.54) enquanto que o bronze foi entregue ao americano Gallen Rupp (2:10.05).

Boa parte da prova foi disputada sob chuva. Tal como na maratona feminina, a corrida terminou no Sambódromo do Rio (onde acontecem os grandes desfiles de Carnaval no verão carioca) e foi o piso molhado junto à meta que fez aparecer um herói inesperado. Meb Keflezighi, nascido na Eritreia e hoje cidadão dos Estados Unidos, onde chegou aos 12 anos com a família após pedir asilo, fez no Rio a sua pior maratona olímpica. Mas não deixou de dar um show que cativou tudo e todos. Medalha de prata em Atenas 2004 e 4.º classificado em Londres 2012 (falhou Pequim 2008 devido a lesão), no Brasil estava a apenas cinco/seis metros de cortar a meta no 33.º lugar quando escorregou e ficou estatelado no chão após correr 42,125 quilómetros. Primeiro rastejou os poucos metros que o separavam do fim e depois, ainda deitado, com o tronco para lá da meta, fez três flexões para grande festa do público, num dos melhores momentos do dia. Muitas palmas e sorrisos que Meb, como é conhecido nos EUA, fez questão de retribuir já de pé. Depois ficou ainda largos minutos junto à linha de chegada, onde foi recebendo outros atletas com aplausos além de ajudar os que acabavam em pior estado físico, chamando a atenção das equipas médicas presentes no local. Um campeão, mesmo no 33.º lugar.

Já depois da corrida, Meb chegou junto do DN com as suas três filhas. Após um primeiro cumprimento, puxou de uma cadeira, tomou fôlego, e começou logo a descrever as dificuldades que sentiu para chegar ao fim.

"Tive de parar sete vezes para vomitar, a primeira a meio da prova e a última quando faltavam menos de dois quilómetros. Depois, na reta da meta eu percebi que o piso estava escorregadio e fui cuidadoso. Ouvia o público a puxar por mim e mesmo em cima da meta caí. Pensei: "Mais vale aproveitar e fazer umas flexões." Foi um bom final", conta, bem-disposto, reconhecendo que, aos 41 anos, "por mais que a experiência ajude a correr, o corpo já não corresponde". Por isso, o vencedor da maratona de Boston em 2014 (prova que ficou marcada pelo atentado bombista) quer despedir-se no próximo ano das corridas para se dedicar de vez à sua fundação (que apoia crianças carenciadas) e a dar palestras motivacionais em empresas e escolas. A despedida também foi calculada. Meb quer fazer mais duas maratonas para chegar à 26.ª da carreira aos 42 anos: são tantas maratonas como o número de milhas que tem a prova e tantos anos como a distância em quilómetros.

Desilusão nacional

Os atletas portugueses Rui Pedro Silva e Ricardo Ribas acabaram a maratona em sofrimento e muito longe dos lugares a que se propunham - entre os 50 primeiros, como revelou Paulo Bernardo, líder da equipa de atletismo muito embora Ricardo Ribas tenha apontado ao 18.º lugar. O primeiro foi o 123.º (2:30.52) e o segundo o 134.º (2:38.29), entre 140 atletas que terminaram a prova, com tempos bem acima dos seus máximos pessoais (2:12.15 e 2:13.21, respetivamente) e até da marca conseguida por Dulce Félix, 16.ª na maratona feminina (2:30.39). Pior para Portugal só em Barcelona 1992, quando todos os atletas desistiram. "Vinha com outros objetivos, mas a maratona é isto mesmo. Por volta dos 15 quilómetros comecei a sentir cãibras, depois foi gerir para chegar ao fim. Tinha de chegar ao fim, fosse com que tempo fosse", assumiu Rui Pedro Silva, que tinha desistido na maratona de Londres 2012.

Já Ricardo Ribas, companheiro da também maratonista Dulce Félix, disse que "nem em treinos" fez uma maratona tao lenta e que precisou de sofrer muito para chegar ao fim. "Prometi a mim mesmo que acontecesse o que acontecesse tinha de acabar. Fiz 18 quilómetros sem sumo nas pernas. É o físico, é o psicológico a querer parar, as pernas a quererem parar, são as pessoas a dizerem para não desistir. É como espremeres uma laranja e ela já não ter mais nada, quando ainda falta fazer mais dez quilómetros", explicou o atleta do Benfica.

No Rio de Janeiro

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