Dos EUA a Porto Rico são mil ouros de distância
Quando Michael Phelps subiu ao pódio olímpico pela 28.ª e última vez (e agora é mesmo a sério, garante ele), na madrugada de domingo, os EUA já tinham soltado os confetti para um (outro) momento histórico. O ouro de Phelps e dos seus colegas da estafeta de 4x100 metros estilos foi o 1001.º ouro da história olímpica norte-americana. Ou terá sido esse mesmo o milésimo? Bom, o que realmente importa é que, tal como se previa, os Estados Unidos ultrapassaram já, nestes Jogos do Rio, a marca histórica das mil medalhas de ouro ganhas desde que James B. Conolly conquistou a primeira, no triplo salto do Jogos Olímpicos de Atenas em 1896, há 120 anos.
Oficialmente, pelas contas acreditadas pelo Comité Olímpico norte-americano, foi outra nadadora emblemática a assinalar a milésima medalha do mais precioso metal dos Jogos: Simone Manuel, que no Rio de Janeiro já fizera história ao tornar-se a primeira negra campeã olímpica da natação, tocou a parede da piscina para dar a vitória da estafeta 4x100 estilos femininos aos EUA e carimbar o feito.
A contabilidade não é pacífica. À partida para estes Jogos Olímpicos, divergiam as opiniões sobre o número exato de medalhas de ouro dos norte-americanos. O historiado Bill Mallon contava 976; a plataforma Gracenote mais duas, 978.
[artigo:5339201]
A divergência remonta aos Jogos de 1904, em St. Louis. Com a recusa de várias nações em participar, a competição fez-se sobretudo entre clubes norte-americanos e um deles ganhou a prova de ginástica com um atleta austríaco, Julius Lenhart, na equipa. Perante a proximidade da milésima medalha de ouro, e querendo festejar essa efeméride com precisão, o Comité olímpico norte-americano pediu a Bill Mallon, o seu historiador oficial, que revisse a sua contabilidade. Mallon cedeu apenas numa e "aceitou" como norte-americana a medalha ganha na competição de ginástica por equipas em 1904, uma vez que cinco dos seis elementos eram dos EUA. Mas a medalha individual ganha por Lenhart não.
Assim, ficaram 977 os ouros americanos antes do Rio 2016. E a campainha da milésima vitória soou assim que Simone Manuel tocou a parede. "Mil medalhas de ouro é uma conquista extraordinária tornada possível pela grande cultura desportiva dos homens que construíram o nosso país", reagiu o presidente executivo do comité olímpico norte-americano, Scott Blackmun.
[citacao:Agora, sim, saio como eu queria]
Mais de metade destes mil ouros dos EUA foram conquistados no atletismo (323) e na natação (246). E nenhum outro atleta contribuiu tanto para esta marca quanto Michael Phelps, que se despediu logo a seguir com uma última conquista, nos 4x100 estilos masculinos - e que seria, essa sim, a milésima medalha de ouro dos EUA, se Bill Mallon não tivesse revisto as suas contas. "Agora, sim, saio como eu queria", despediu-se o maior campeão olímpico da história, com 23 ouros e um total de 28 medalhas.
Quase em simultâneo, as ruas de San Juan, capital de Porto Rico, encheram-se de festa. Mas não pelo milésimo ouro. Apesar de pertencer aos EUA desde 1897, o arquipélago caribenho é um território não incorporado. E, portanto, compete como uma nação própria. Ora, momentos antes da marca norte-americana, a tenista porto-riquenha Monica Puig surpreendia com a vitória no torneio feminino, dando a primeira medalha de ouro de sempre a Porto Rico. É o quinto país a estrear-se no lugar mais alto dos pódios olímpicos nestes Jogos do Rio, depois do estreante Kosovo, de Singapura, do Vietname e das Fiji.