Nenê (esquerda), de 41 anos, é o goleador do estreante AVS e irá reencontrar o Santa Clara, de Adriano Firmino (direita)
Nenê (esquerda), de 41 anos, é o goleador do estreante AVS e irá reencontrar o Santa Clara, de Adriano Firmino (direita)MIGUEL PEREIRA / GLOBAL IMAGENS

Promovidos querem manter a tendência das últimas épocas e evitar o “sobe e desce”

Apenas em 2020/2021 as duas equipas que subiram acabaram por descer à II Liga. O veterano Nenê, melhor marcador no segundo escalão na última época ao serviço do AVS, conta ao DN como é a complicada luta pela manutenção na elite do futebol português.
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Nenê, veterano ponta-de-lança brasileiro, não marcou nas duas partidas do play-off com o Portimonense no final da época passada que levaram o AVS SAD ao acesso inédito à I Liga, mas foi muito por causa de seus golos - foram 23 no total - que a sua equipa alcançou tal façanha. Melhor marcador da II Liga 2023/24, Nenê prepara-se agora para voltar a disputar a elite do futebol nacional, competição que tão bem conhece dos tempos em que representou Nacional e Moreirense.

O desafio é manter o clube na I Liga, algo que os recém-promovidos têm conseguido com certo sucesso nos últimos anos. Na última época, por exemplo, os três que conseguiram o acesso no ano anterior (Moreirense, Estrela da Amadora e Farense) foram capazes de cumprir o objetivo da manutenção entre os grandes.

“O primeiro objetivo é a nossa permanência. Claro que temos condições de disputar coisas maiores, mas no mundo do futebol não é fácil. O AVS tem apenas dois anos de existência e houve uma reformulação grande da época passada para esta: novos jogadores e nova equipa técnica. Por isso é preciso ter os pés no chão, assimilar bem as mudanças de esquema tático, adaptar a um novo estilo de jogo para tentar não só a manutenção, mas surpreender com algo a mais”, disse ao DN o avançado de 41 anos.

Após conseguir duas vitórias nas partidas com o Portimonense, o AVS SAD juntou-se ao campeão Santa Clara e ao Nacional como clubes promovidos à elite, mas viu o treinador Jorge Costa sair do projeto para assumir um cargo diretivo no FC Porto. Vítor Campelos, que na última época esteve a serviço do Gil Vicente, assumiu o comando da equipa.

A estreia desta equipa estreante na I Liga é precisamente frente ao clube que projetou Nenê para a sua longa carreira na Europa: o Nacional. Foi no emblema da Madeira que deu os seus primeiros passos no Velho Continente  e onde se tornou melhor marcador da I Liga na época 2008/2009, com 20 bolas na rede numa campanha que levou o Nacional ao 4.º lugar no campeonato e a qualificação para a Liga Europa, pela terceira vez na história do clube.

Depois disso, Nenê esteve quase 10 anos em Itália, onde jogou no Cagliari, Verona, Spezia e Bari, antes de regressar a Portugal para defender Moreirense e Leixões após o que rumou ao Vilafranquense, clube que transferiu a sede para a Vila das Aves e se transformou em AVS SAD, em 2023.

“O Nacional é um clube que vou levar sempre comigo, seja agora, ainda a jogar, seja quando eu parar. A estreia vai ser especial também por isso: o pessoal acha que, pela idade, essas coisas passam, mas a minha ansiedade é grande para o jogo de sábado. É o meu regresso à I Liga, a estreia do AVS na elite e, ainda por cima, frente ao clube que me abriu as portas para fazer toda a minha carreira no futebol europeu. É um clube pelo qual tenho muito carinho, mas hoje defendo as cores do AVS e vou dar o meu máximo para ganharmos”, contou o veterano.

Para ajudar a cumprir os objetivos, o goleador que diz pensar em marcar “10 a 12 golos” esta época no campeonato terá a companhia de um compatriota que também está de volta a Portugal: o médio Lucas Piazón, que já teve passagens por clubes como Chelsea, Málaga e Frankfurt e que na última época esteve emprestado pelo Sp. Braga ao Botafogo, chega como principal contratação do clube nortenho.

Nacional tenta mudar de vida

Foram poucos os clubes nos últimos dez anos que não conseguiram manter-se na I Liga no ano seguinte à subida. União da Madeira (2015/2016) e Farense (2020/2021) foram dois deles e o Nacional, por sua vez, alcançou a marca negativa nas últimas duas promoções.
Após sagrar-se Campeão da II Liga em 2017/2018, o clube acabou no penúltimo lugar do escalão principal na temporada seguinte. Já em 2020/2021, o emblema madeirense amargou como Lanterna Vermelha da I Liga, após conseguir o acesso por ocupar o 1.º lugar no segundo escalão em 2019/2020. Este campeonato acabou por ser suspenso devido a pandemia de covid-19, pelo que os dois primeiros colocados no momento da paralisação foram automaticamente promovidos.

A temporada 2020/2021, diga-se, foi a única nos últimos anos nas quais os dois clubes promovidos na época anterior foram despromovidos. Nas outras, pelo menos um dos que sobe consegue manter-se.

Após ter sido vice-campeão da II Liga na temporada passada, o clube presidido por Rui Alves aposta na capacidade do treinador Tiago Margarido para não repetir as duas últimas campanhas na elite do futebol português. A última época foi a primeira do jovem de 35 anos enquanto treinador principal da equipa e os números foram surpreendentes para um dos clubes que contava com um dos orçamentos mais baixos da competição: em 34 partidas foram 21 vitórias, oito empates e apenas cinco derrotas.

Apesar de garantir a permanência de Tiago Margarido - com quem renovou o contrato até junho de 2026 - o clube da Choupana não conseguiu segurar o seu melhor marcador da última época, o venezuelano Jesús Ramírez, autor de 17 golos na II Liga, que estava emprestado pelos mexicanos do Morelia e assinou com o Vitória de Guimarães. Miguel Baeza, médio espanhol formado no Real Madrid e que chega do Celta de Vigo, é uma das principais contratações para esta temporada.

Santa Clara com sotaque brasileiro

Atual Campeão da II Liga, o Santa Clara regressa à elite do futebol português com maiores expectativas. Após apenas três derrotas no campeonato da última época, o emblema açoriano, comandado pelo também jovem treinador Vasco Matos, manteve a base da equipa campeã, inclusive os três defensores que fizeram parte do onze ideal da última edição da II Liga: Pedro Pacheco, o capitão Paulo Henrique e o brasileiro Lucas Soares.

Além de Lucas Soares, o plantel do Santa Clara conta com nada mais, nada menos do que 17 brasileiros, sendo também a SAD presidida por Bruno Vicintin, empresário natural de São Paulo que comprou parte das ações do clube há cerca de dois anos.

Após conseguir o 6.º e 7.º lugares na I Liga, respetivamente nas épocas 2020/2021 e 2021/2022, o emblema dos Açores teve uma campanha “trágica” em 2022/ 2023, acabando despromovido ao terminar no último lugar. O ano demolidor na II Liga e a organização da SAD dão esperança para que a campanha deste ano possa ser parecida com as quatro anteriores à última despromoção.

A estreia é domingo com o Estoril, sendo que os atuais Campeões da II Liga têm na segunda jornada uma receção ao FC Porto, no Estádio de São Miguel, em Ponta Delgada. Um início exigente, mas também uma boa oportunidade para começar já a mostrar aos adeptos que os açorianos chegaram à elite para ficar.
nuno.tibirica@dn.pt

Moreirense é um exemplo a ser seguido

Quando Gonçalo Franco marcou o 2.º golo da equipa do Moreirense na vitória sobre o Estoril por 2-1, o clube de Moreira de Cónegos bateu o recorde de pontos de uma equipa recém-promovida à I Liga, nos últimos anos. Antes disso, a melhor campanha no escalão principal num recém-promovido pertencia ao Famalicão, que na temporada 2019/20 alcançou o 6.º lugar, com 54 pontos, muito à custa de uma equipa com vários jogadores talentosos, como Pedro Gonçalves e Toni Martínez, mas também o defesa argentino Neuhén Pérez, os médios Uros Racic e Guga Rodrigues e os atacantes Diogo Gonçalves, Rúben Lameiras e Fábio Martins.

Na última época, o Moreirense atingiu a mesma classificação, mas com um ponto a mais do que o clube de Vila Nova de Famalicão, quatro anos antes. O emblema alviverde é um exemplo a ser seguido por Santa Clara, Nacional e AVS de que é possível sonhar mais do que apenas com a permanência no ano seguinte ao acesso. Esta temporada, a vida do Moreirense tende, no entanto, a ser mais complicada do que na última.

É que viu o treinador Rui Borges mudar-se para o V. Guimarães. Para o seu lugar, o clube presidido por Vítor Magalhães contratou César Peixoto, que regressa ao clube após três anos. Gonçalo Franco, autor do golo que garantiu o recorde de pontos ao Moreirense na principal competição nacional, foi outro que deixou o clube, mudando-se para o Swansea City, clube galês que disputa o Championship, o segundo escalão inglês. Neste sentido, manter o nível da última época não será tarefa fácil...

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