A data: 23 de abril de 1982. O dia em que Jorge Nuno Pinto da Costa, que morreu no sábado, aos 87 anos, foi empossado pela primeira vez como presidente do FC Porto. O dia em que, nas palavras de Fernando Santos, se iniciou a “viragem” no futebol nacional, que levaria a uma “mudança radical” de paradigma. De acordo com o treinador, que orientou os dragões entre 1998 e 2001, o pentacampeonato ganho em 1999 é “prova do impacto” que o ex-presidente teve no futebol nacional. E, diz, era algo que Pinto da Costa “queria e desejava muito”.E foi “o amigo” Pinto da Costa que, diz o ex-selecionador nacional ao DN, fez Fernando Santos continuar no futebol. “Foi uma aposta de risco. Estava a ponderar se queria ou não continuar a ser treinador [após passagens pelo Estoril e Estrela da Amadora]. Com o convite que me faz, Pinto da Costa acaba por mudar a minha vida”. Fernando Santos, atualmente selecionador nacional do Azerbaijão, recorda ainda a relação com Jorge Nuno, de quem só pode “dizer bem”. “Acredito que nenhum treinador, daqueles que tiveram o prazer de trabalhar com ele, pode dizer mal. Estava sempre connosco a 200%. Era super solidário com os seus treinadores. Quando acreditava, acreditava mesmo”, recorda.."Morte de uma lenda". Imprensa internacional reage ao desaparecimento de Pinto da Costa.Fica, no entanto, uma mágoa. Tendo recebido a notícia quando acordou, devido ao fuso horário entre Portugal e o Azerbaijão, Fernando Santos não conseguirá estar no funeral (que se realiza esta segunda-feira pelas 11.00). “Para poder ir, teria de ter saído ontem [sábado], e não consegui a tempo”, admite o ‘Engenheiro do Penta’, como ficou conhecido pela conquista do título em 1999.No final da missa na Igreja das Antas, o cortejo fúnebre passa pelo Estádio do Dragão, antes de rumar ao Cemitério do Prado do Repouso, onde o corpo de Pinto da Costa será cremado. André Villas-Boas, atual presidente do FC Porto, não estará no funeral, como era desejo de Pinto da Costa. É um “momento sensível” e o líder azul e branco não quer “hostilizar”. “Foi uma palavra dita em vida, não quero ir contra o seu desejo”, admitiu no domingo.Mais perto de Pinto da Costa esteve outro Fernando. Neste caso, Fernando Póvoas, médico e “amigo de casa” do ex-presidente portista. Esteve, aliás, junto de Pinto da Costa no dia anterior à sua morte. “Recebi a notícia sem surpresa. Não tinha gostado de o ver no dia antes, já não estava bem. Dei-lhe um beijo na testa antes de me vir embora e sabia que podia ser o último”, diz ao DN. Com que imagem fica? A de “um homem muito solto, muito alegre. Era incapaz de dizer que não às pessoas que lhe pediam fotografias, por exemplo”. O legado de Pinto da Costa, na opinião de Fernando Póvoas, entrou para “a história europeia e mundial”. O médico converge com Fernando Santos sobre o papel do ex-presidente dos dragões: “Colocou o FC Porto no mapa tanto a nível nacional como internacional, no mapa. Estamos gratos por tudo que fez.”.André Villas-Boas reage à morte de Pinto da Costa: "O FC Porto abraçá-lo-á na eternidade".Já Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, confesso adepto dos azuis e brancos, realçou os 69 títulos no futebol profissional. No despacho onde definiu o luto municipal para esta segunda-feira, o autarca - que voltou a aproximar o FC Porto da política local, após anos de costas voltadas - lembrou “a incontornável figura da região e do país”, que teve “um contributo marcante para a visibilidade” do Porto no “panorama nacional e internacional”.No final do jogo frente ao Farense, que marcou o regresso dos dragões às vitórias, o treinador dedicou a vitória a Pinto da Costa e à sua família. “Desde 1982 foi uma pessoa que nos obrigou a ganhar mais. Este triunfo é para ele e para toda a sua família”, referiu Martín Anselmi. Até ao fecho desta edição, Benfica e Sporting não emitiram notas de condolências.A justiça para lá do futebolAlém do sucesso desportivo, os 42 anos de ‘reinado’ Pinto da Costa ficaram marcados também por processos judiciais.De todos, o caso Apito Dourado foi o mais mediático. Conhecida em 2004, a investigação recaiu em suspeitas de falsificação de documentos, corrupção e tráfico de influências. Quando soube que seria alvo de buscas, Pinto da Costa fugiu para Vigo, em Espanha. Dias depois, apresentar-se-ia na Polícia Judiciária, para ser ouvido, escoltado pela claque SuperDragões, cujo líder Fernando Madureira era um dos homens fortes junto da estrutura portista. Pinto da Costa seria ilibado de todas as acusações.Mas foi anos antes, em 1997 (dez anos depois do primeiro título europeu), que Pinto da Costa teve o seu nome associado a um processo judicial. Depois de ter sido descoberta nas Antas uma fatura das férias no Brasil do árbitro Carlos Calheiros. Em tribunal, Pinto da Costa diz que o clube pagou por engano e acaba por escapar à acusação.Pinto da Costa voltaria a ver o seu nome envolvido na Operação Pretoriano, cuja investigação incide sobre uma eventual tentativa dos SuperDragões de criar um clima de “intimidação e medo” numa Assembleia Geral do FC Porto. Em breve, Pinto da Costa seria ouvido sobre este processo, por videoconfêrencia..O regresso às vitórias.Menos de 24 horas após a morte de Pinto da Costa, o FC Porto venceu o Farense por 1-0 (golo de Francisco Moura) - os dragões não ganhavam há cinco jogos para a Liga (desde 28 de dezembro). O capitão Diogo Costa entrou em campo com uma coroa de flores e os jogadores usaram camisola onde constava uma imagem do antigo presidente.Com Carlos Nogueira