Peterhansel. O Sr. Dakar carimbou a 13.ª vitória no deserto
O nome de Stéphane Peterhansel confunde-se com o do próprio rali que neste ano se disputou entre Paraguai, Bolívia e Argentina. Não é de estranhar, portanto, que o francês que ontem carimbou, aos 51 anos, a sua 13.ª vitória na prova ostente a alcunha de Sr. Dakar.
Primeiro nas motas, agora nos carros, Peterhansel tem vindo a construir um palmarés impressionante numa competição em que participou pela primeira vez no longínquo ano de 1988. Ainda conseguiu vencer uma etapa nessa edição de estreia, mas terminou no 18.º posto. Só em 1991 festejou o primeiro de três triunfos consecutivos na classificação geral, aos comandos de uma Yamaha.
Estava a nascer uma lenda, como viria a ser notório algum tempo mais tarde. Depois de repetir a façanha, entre 1995, 1997 e 1998, Peterhansel decidiu mudar de categoria. Após um período de adaptação, começou a acumular êxitos também nos carros. De então para cá, voltou a vencer a corrida por sete vezes.
A experiência adquirida nas motos permitiu-lhe alcançar o sétimo posto na sua primeira aventura ao volante, em 1999, ainda a prova era disputada no deserto africano. No ano seguinte, o Sr. Dakar já subiu ao segundo lugar do pódio. A estreia a vencer nos carros, porém, só chegou em 2004, pela Mitsubishi.
De então para cá, Peterhansel foi acrescentando louros ao seu pecúlio, vencendo novamente em 2005 e 2007. O adeus da prova às areias africanas atirou a sua glória para um curto hiato, antes de retomar as celebrações em 2012. Seguiram-se vitórias em 2013, 2016 e neste ano, num dos despiques mais renhidos do seu historial.
"Foi muito intenso. Tirou-me anos de vida", comentou Peterhansel, sobre a luta pela vitória frente ao compatriota e colega de equipa Sébastien Loeb, que terminou a corrida a menos de seis minutos do seu companheiro da Peugeot.
"Foi uma grande luta com o Seb. Ganhei, mas foi por um pequeno detalhe. Provavelmente, garanti a vitória ontem [sexta-feira] quando ele teve um furo", explicou o vencedor. "Foi a vitória da experiência, de novo, porque em certas alturas sabia que não era suficientemente rápido para o acompanhar. É uma grande emoção, pois esta vitória não foi fácil de alcançar", acrescentou.
Peterhansel beneficiou de uma decisão que acentuou ainda mais esta luta. A organização decidiu devolver-lhe 14m13s no final da décima etapa, recompensando o francês pela boa vontade demonstrada ao parar para prestar ajuda ao motard Simon Marcic, que tinha sofrido um acidente grave. Essa compensação permitiu a Peterhansel resgatar a liderança, que manteve até final.
A disputa interna - que até pode ser alargada a Cyril Despres, terceiro classificado, igualmente ao volante de um Peugeot - foi dura, mas saudável. O diretor da equipa, Bruno Famin, decidiu não dar qualquer ordem aos pilotos. "Foi apenas uma luta entre dois pilotos, com o mesmo carro", vincou Peterhansel.
Três portugueses no top 10
Sem representantes a competir nos carros, a comitiva portuguesa alcançou resultados interessantes nas motas. Pela segunda vez na história, colocou três elementos nos dez primeiros. Paulo Gonçalves (6.º), Hélder Rodrigues (9.º) e Joaquim Rodrigues (10.º) reeditaram uma façanha de 2013. No entanto, esta foi a primeira edição desde 2006 em que não houve qualquer etapa ganha por um português.
Quem teve motivos para festejar foi Sam Sunderland (KTM), primeiro britânico a vencer a geral das motas no Dakar. O austríaco Mathias Walkner e o espanhol Gerard Farrés Guell completaram um pódio totalmente preenchido com as cores da equipa KTM.