Pedro Proença pediu reunião urgente ao primeiro-ministro por causa de Fernando Gomes
A guerra entre Fernando Gomes e Pedro Proença já chegou a São Bento e promete deixar marcas no olimpismo e no futebol português. A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou, na segunda-feira, que pediu uma reunião urgente ao Governo para falar de Fernando Gomes, recém eleito presidente do Comité Olímpico de Portugal, que se desmarcou da candidatura de Pedro Proença ao Comité Executivo da UEFA e, dessa forma, poderá ter comprometido a eleição do sucessor.
Ao que o DN apurou, a audiência foi pedida ao primeiro-ministro Luís Montenegro, que há hora de fecho deste edição ainda não tinha respondido à carta do organismo que tutela o futebol nacional, que foi direto para o chefe do Executivo e assim contornou o secretário de Estado, Pedro Dias, e o ministro dos Assuntos Parlamentares, que tem a pasta do Desporto, Pedro Duarte.
Na base da recente discórdia entre os dois líderes das duas mais importantes instituições desportivas do País estão duas cartas e duas versões. Primeiro, Proença, o novo presidente da FPF, informou numa cartas às 55 federações europeias de futebol, que se congratulava por ter apoiado Fernando Gomes para o COP e ter recebido do seu antecessor “o apoio total para a [sua] candidatura ao Comité Executivo da UEFA”.
Contudo, Fernando Gomes, numa outra carta enviada às mesmas 55 federações, não só desmentiu como acusou Proença de lesar o seu legado. Uma frase que caiu mal na FPF, que reuniu de emergência para avaliar as consequências dessa carta enviada por Fernando Gomes e que podem deixar Portugal sem um lugar na mesa das decisões do futebol europeu.
Pedro Proença é um dos 11 candidatos a integrar o Comité Executivo da UEFA, nas eleições marcadas para a quinta-feira, em Belgrado, na Sérvia. São eleitos sete para um mandato de quatro anos. O líder da FPF, eleito no dia 14 de fevereiro, quer avaliar o impacto da atitude do antecessor “face aos compromissos assumidos, nomeadamente, a candidatura à organização do Europeu Feminino de 2029 e à organização do Campeonato do Mundo de Futebol de 2030”.
Basicamente o organismo federativo acusa o líder do olimpismo de prejudicar o futebol português e o desporto nacional e quer atenuar possíveis danos. Mas o que poderá acontecer ao recém eleito presidente do COP, a confirmar-se que lesou os interesses do futebol português e da FPF, uma das 34 federações com modalidades Olímpicas?
Segundo um ex-secretário de Estado do Desporto ouvido pelo DN, “o papel de um governante com a pasta do Desporto é de mero mediador”. E, mesmo que o organismo do futebol não tivesse pedido reunião de urgência ao Governo, o atual secretário de Estado, Pedro Dias, “podia e devia ter essa iniciativa”, para bem do desporto nacional. Porque, segundo este antigo governante, que pediu o anonimato, “a imagem e prestígio do futebol português e, por inerência, do desporto nacional foi colocada em causa” com a carta em que Fernando Gomes disse não apoiar Proença.
Para o antigo secretário de Estado do Desporto ouvido pelo DN, haja ou não consequência do envio da carta ao nível da eleição de Proença, “é preciso avaliar o impacto que pode ter na credibilidade do futebol português a nível internacional”. E defendeu que o atual secretário de Estado “não tem legitimidade política” para ser ele a reunir com Pedro Proença, uma vez que foi dirigente da FPF, sob a liderança de Fernando Gomes, durante mais de uma década.
Exposição ao Conselho de Ética
Reunida de emergência, na Cidade do Futebol, na manhã de segunda-feira, pela segunda semana consecutiva, depois de na semana passada ter sido alvo de buscas da Polícia Judiciária (PJ), por alegadas irregularidades na venda da antiga sede da FPF no mandato de Fernando Gomes, a direção da Federação considerou que a eleição de Pedro Proença para a UEFA ficou “seriamente comprometida pelo impacto da posição assumida pelo presidente do Comité Olímpico de Portugal”.
Também por isso decidiu “enviar uma exposição ao Conselho de Ética do COP”, liderado por Tiago Brandão Rodrigues - eleito pela lista de Gomes - “para avaliação da atuação do presidente do Comité Olímpico de Portugal”, No entanto, o Conselho de Ética não tem muita margem de manobra. Depois de analisar, caso considere que o líder do olimpismo nacional teve um comportamento pouco ético, o Conselho de Ética, segundo a legislação em vigor, poderá apenas fazer uma recomendação à Assembleia Plenária do COP, para que analise o comportamento do recém empossado presidente. Resumindo, Fernando Gomes pode apenas levar um puxão de orelhas por parte das federações desportivas.
Apesar disso, segundo o DN apurou, alguns líderes dessas federações, incluindo alguns que subscreveram a candidatura vencedora de Fernando Gomes, embora entendam que ele tem direito ao bom nome, não veem com bons olhos a “futebolização do olimpismo”, como apelidaram o comportamento de Fernando Gomes. De forma anónima, os dirigentes ouvidos pelo DN, mostraram o desagrado por ver os seus primeiros dias do mandato marcados por buscas da PJ e escândalos públicos ligados ao futebol, temendo que o passado na Cidade do Futebol volte e ensombre a instituição.
E, apesar do organismo federativo não ter mencionado no comunicado, onde anunciou o pedido de reunião ao Governo e a exposição ao Conselho de Ética, há ainda uma terceira via a explorar caso a guerra escale para um nível impossível de gerir, segundo soube o DN: a abertura de um procedimento disciplinar ao presidente Honorário da FPF, Fernando Gomes.
111 anos da Federação sem Fernando Gomes
Fernando Gomes não marcou presença na gala dos 111 anos da Federação Portuguesa de Futebol. Segundo fonte ouvida pelo DN, o agora líder do COP não quis ser um foco de desestabilização, mas os presentes não se coibiram de lhe mandar alguns recados.
André Villas-Boas, presidente do FC Porto, foi um deles, denunciando a “paz podre” que se vive. “O futebol português está gravemente doente e andamo-nos a enganar uns aos outros há bastante tempo. Não basta as recentes questões entre o antigo e o atual presidente da Federação Portuguesa de Futebol, mas também um certo desalinhamento entre os três grandes agora e continuarmos a adiar discussões da Liga sobre a centralização, sobre o VAR, sobre a tecnologia no futebol português que continua em atraso”, disse, antes de entrar na Arena FPF, onde, na noite de segunda-feira se celebraram os 111 anos da instituição.
Ainda ontem, as Associações Distritais e Regionais de futebol reuniram-se em plenário e defenderam que a eleição do líder da FPF para a UEFA “não pode ser posta em causa, pela sua importância e deve merecer o apoio daqueles que têm como objetivo a projeção e o desenvolvimento do desporto português e do futebol em particular”.
isaura.almeida@dn.pt