Jan Oblak, de 31 anos, é o porto seguro de uma seleção que está a surpreender no Europeu.
Jan Oblak, de 31 anos, é o porto seguro de uma seleção que está a surpreender no Europeu.EPA/OLIVIER MATTHYS

Oblak, o “trabalhador incansável” que lidera a Eslovénia desde a baliza

O adversário da seleção nacional nos oitavos de final joga de acordo com as “características do seu guarda-redes que, numa equipa em bloco baixo, é dos melhores do mundo”, defende o treinador Nuno Presume, que trabalhou com ele no Olhanense.
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Quando o francês Clement Turpin apitou para o final do encontro em Colónia, a festa dos homens vestidos de azul não escondeu o feito que tinham acabado de conseguir. À quarta participação numa fase final de uma grande competição internacional, a Eslovénia, um dos países resultantes da cisão da Jugoslávia – cuja seleção independente se estreara de forma oficial em 1992 –, conseguiu por fim passar a fase de grupos e chegar às partidas a eliminar do Campeonato da Europa, ainda por cima num duelo com a Inglaterra.

Com três empates, um deles cedido já na compensação perante os antigos “irmãos” sérvios, numa altura em que parecia ir condenar Eslovénia a mais uma saída precoce, o conjunto orientado por Matjaz Kek acabou por terminar no terceiro lugar do Grupo C em igualdade quase total com a Dinamarca (perdeu o segundo posto por ter visto mais um cartão amarelo que os nórdicos, curiosamente mostrado a um elemento da equipa técnica) e acabou por cair no caminho de Portugal, que defronta esta segunda-feira em Frankfurt, às 20.00 horas.

“Foi um beijo do destino e tivemos alguma sorte, a mesma que nos faltou frente à Sérvia. Não esperava chegar aos oitavos, mas mostrámos com o nosso jogo que merecíamos passar e agora temos pela frente um dos favoritos à vitória no Euro”, reconheceu o selecionador esloveno, que está na sua segunda passagem pelo cargo, que desempenhou entre 2007 e 2011, altura em que apurou a equipa para o Mundial 2010 – onde a Eslovénia obteve o seu único triunfo em fases finais, perante a Argélia.

Curiosamente, as duas seleções até se defrontaram recentemente, em março, e a equipa de Kek não fez a coisa por menos aplicando a primeira derrota a Roberto Martínez desde que este assumiu o comando da seleção das quinas: 2-0 em Ljubljana, com golos de Adam Cerin e Timi Elsnik nos derradeiros 20 minutos. O treinador espanhol testou aí o sistema de três centrais, o mesmo que utilizou perante a Geórgia, com um resultado igual, quer no desfecho, quer nos números, quer na pouca capacidade de criar perigo. E nem um penálti por marcar a favor da equipa das quinas escapou às semelhanças com o jogo de quarta-feira em Leipzig.

Já Kek tem mantido a sua ideia assente num 4x4x2, com uma organização defensiva bem montada e orientada da baliza pelo guarda-redes e capitão Jan Oblak (“criado” praticamente em Portugal e que alinhou no Benfica) e uma equipa capaz de sair em transições perigosas, normalmente através de Sesko, talvez o jogador mais talentoso da equipa que atua na Alemanha ao serviço do RB Leipzig e que faz dupla no ataque com outro jogador bem conhecido dos adeptos portugueses, Andraz Sporar, que passou por Sporting e Sp. Braga.

Sesko é a referência da Eslovénia para os ataques rápidos.
(DAMIEN MEYER / AFP)

Uma equipa à medida

Atualmente no Atlético Madrid, onde está desde 2014, o guarda-redes esloveno chegou a Portugal ainda muito novo, com 17 anos, contratado pelo Benfica ao Olimpija Ljubljana por quatro milhões de euros (dados do Transfermarkt), tendo sido emprestado sucessivamente até regressar à Luz, onde partilhou balneário com Bernardo Silva, João Cancelo, Nelson Semedo e Rúben Amorim, conquistando a titularidade da equipa principal a meio da temporada 2013/14, quando substituiu Artur Moraes no jogo da 13ª jornada frente ao Olhanense. Curiosamente, foi no clube algarvio – ainda passou por União de Leiria e Rio Ave – que se cruzou com Nuno Presume, treinador e atual comentador no Canal 11.

“Trabalhei com ele meia temporada. O Oblak veio do Beira-Mar porque não jogava e ali acabou por não jogar também, nem um minuto sequer, pelo fator idade e também porque já apareceu a meio da época. Na altura registou uma evolução extraordinária porque foi orientado pelo Diamantino Figueiredo, o nosso treinador de guarda-redes que está agora com o Sérgio Conceição. Ele tinha uma noção clara do potencial do Oblak. Apesar de lá ter estado só seis meses, o Diamantino estava sempre a referir todo o potencial que ele tinha”, começa por dizer ao DN o antigo adjunto de treinadores como José Peseiro, Daúto Faquirá ou Renato Paiva

Ainda assim, Nuno Presume confessa que a carreira posterior do agora capitão da Eslovénia acabou por surpreender toda a gente: “Um jogador tão jovem é sempre uma incógnita. Mostrava muito potencial e, sobretudo nas outras dimensões, ou seja, na capacidade de trabalho, na dimensão relacional – era muito tranquilo e de relação fácil com toda a gente – e sobretudo pela categoria que tinha entre os postes, perspetivava-se que pudesse chegar longe. Tão longe como chegou, confesso, acho que ninguém diria.”

Obviamente que, por essa altura “ainda não demonstrava a capacidade de liderança que tem hoje em dia, pois era muito novo”. Mas Nuno Presume recorda outras características de Jan Oblak: “O que ele mostrava era um comportamento de excelência: uma atitude muito nobre em treino, para com os colegas e ainda era um trabalhador incansável.” Isso torna-o num jogador de “uma importância extrema para a equipa”. “A Eslovénia joga de acordo com as suas características. O forte dele não passa por ser afirmativo e positivo na construção, ou seja no jogo com os pés, algo que já vem da forma como joga no Atlético de Madrid, onde não dão muita importância a isso. É um jogador que, jogando num bloco baixo, entre os postes, é dos melhores do mundo. E este tipo de jogo apresentado pela Eslovénia favorece bastante as suas características. É a referência maior da equipa, que atua num 4x4x2 com o tal bloco baixo, tendo Sesko, mais que Sporar, como referência maior para as transições rápidas que a Eslovénia tanto gosta.”

Ter bola contra quem não a quer

Quanto ao jogo de segunda-feira, Nuno Presume mostra-se algo preocupado, até por recordar o tal particular de março. “Pensei que os erros que a seleção cometeu nesse jogo estivessem relacionados com o facto de ser um jogo de preparação, mas depois desta última partida com a Geórgia fiquei com algum receio de que não tenham só a ver com aspetos de concentração. A nossa seleção tem tido a intenção de ter um lado estratégico que lhe permite adaptar-se ao adversário de jogo para jogo e nisso está implícita uma estratégia diferente para cada partida. Neste Europeu, a nossa seleção, entre aquelas que o querem vencer, tem sido a única que promove alterações estruturais. Compreendo o selecionador, mas os resultados mostram-nos que isso não tem sido positivo porque há jogadores que não se sentem muito confortáveis”, assinala.

“A Eslovénia joga num bloco baixo e não vai abdicar disso. É neste momento a equipa com menos posse de bola do Europeu (36,4%) e Portugal, em parceria com a Alemanha, é a equipa com mais (64,3%). A grande diferença é que precisamos de soluções para atacar a profundidade – ou seja, quando temos a bola não podemos ter tantos jogadores no apoio ao portador, é preciso gente para esticar a linha defensiva do adversário e circular a bola de forma muito mais rápida”, refere Nuno Presume, acreditando que vão existir alterações na partida de Frankfurt: “Creio que o jogo com a Geórgia foi o fim da linha de três. A história do lateral por dentro, um contexto de seleção, não pode ser. Isto não é coisa que se trabalhe em tão pouco tempo. Para mim, em relação à equipa titular, só há uma dúvida: quem vai jogar a partir da esquerda, se é Diogo Jota ou Rafael Leão, o resto acho que está definido, não há lugar para mais trocas. Vão jogar Diogo Costa, Cancelo, Rúben Dias, Pepe, Nuno Mendes, Palhinha, Vitinha, Bruno Fernandes, Bernardo e Cristiano e a tal dúvida. E podemos aproveitar o facto de o lateral esquerdo titular esloveno [Erik Janza] não poder jogar através do Cancelo e do Bernardo.”

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