O risco de um Mundial sem Messi e as loucas contas sul-americanas
Se a qualificação para o Mundial 2018 terminasse agora, a Argentina de Lionel Messi ficaria de fora da competição da Rússia sem sequer ter possibilidades de disputar o playoff de acesso (contra a Nova Zelândia), na sequência do surpreendente empate (0-0) caseiro consentido na madrugada de ontem diante do Peru.
A uma jornada do final, o cenário para os argentinos não é de todo o mais agradável, num grupo de qualificação que está completamente indefinido - há seis seleções ainda com possibilidades matemáticas de lutar pelas três vagas diretas (o Brasil é a única seleção já apurada) e um lugar no playoff.
Despespero, descalabro, cataclismo, sofrimento, entre alguns impropérios, foram algumas das palavras fortes utilizadas pela imprensa argentina após o empate no La Bombonera diante do Peru. E há razões para alarme, pois a seleção de Messi e Di María não falha um Mundial desde 1970 e está neste momento no sexto lugar da Conmebol, ou seja, um posto abaixo do quinto lugar que dá pelo menos acesso ao playoff - tem os mesmos 25 pontos do Peru, mas perde na diferença de golos, o primeiro critério de desempate.
Agora é imperioso vencer fora o Equador (o que não acontece desde 1960) na próxima terça-feira para, pelo menos, atingir o quinto posto que dá acesso ao playoff (apesar de a derrota também poder dar acesso, mas para isso os argentinos estariam dependentes de resultados de terceiros). Isto num grupo que está completamente ao rubro, o Brasil já está apurado, o Uruguai (2.º classificado) muito bem lançado, até porque recebe na última jornada a Bolívia e tem uma boa margem de golos, mas depois Chile, Colômbia, Peru, Argentina e Paraguai vão lutar pelos restantes lugares.
Na ronda disputada na madrugada de ontem, a Colômbia perdeu uma excelente oportunidade para quase carimbar o passaporte para a Rússia, ao perder em casa com o Paraguai (1-2) depois de ter estado em vantagem até quase ao final, permitindo dois golos (Cardozo e Sanabria) no espaço de três minutos.
No final do jogo com o Peru, o selecionador Jorge Sampaoli (rendeu Edgrado Bauza em agosto) lamentou as oportunidades desperdiçadas, mas não atirou a toalha ao chão: "A equipa está cheia de raiva e pensa que se ganhar ao Equador vai estar no Mundial. Estamos calmos e seria muito injusto que um grupo de trabalho como este não marcasse presença no Mundial de 2018. Só dependemos de nós e isso dá-me uma enorme esperança. Os jogadores vão dar tudo. Podem e devem acreditar em nós", referiu.
Estrelas sem Mundiais
A verdade é que nesta altura da qualificação, Messi está em risco de falhar o Mundial. A edição online de ontem do jornal Olé (o maior diário desportivo da Argentina) lembrava isso mesmo em manchete, mas acrescentava ainda o nome de... Cristiano Ronaldo, dado que Portugal ainda não tem o apuramento garantido (faltam o jogo de hoje com a Andorra e o decisivo de terça-feira diante da Suíça, seleção que atualmente soma mais três pontos do que a seleção nacional).
Pontualmente existem grandes estrelas do futebol que falham fases finais de Mundiais devido ao fracasso das respetivas seleções nas fases de qualificação. Mas há outros que nem sequer participaram. Um dos casos mais mediáticos é o de Di Stéfano, grande glória do Real Madrid, e isto apesar de ter representado três seleções (Argentina, Espanha e Colômbia). Ryan Giggs, grande estrela do Manchester United, também nunca se conseguiu mostrar num Campeonato do Mundo de futebol, pois o País de Gales nunca se apurou para uma fase final desta competição. O mesmo se passa atualmente com Gareth Bale, mas está bem lançado para estar na Rússia. Mais atrás há também o caso de George Best, da Irlanda do Norte (o país em 1982, mas nessa altura já Best estava na fase descendente da sua carreira).
Em África existem vários casos, mas dois ganham relevância pela notoriedade dos jogadores em questão: Abedi Pelé, eleito três vezes Melhor Jogador Africano, que nunca conseguiu representar o Gana numa fase final; e George Weah, o primeiro e único futebolista africano a vencer o prémio de Jogador do Ano da FIFA, que representava a modesta Libéria.