"O apoio do governo é justo e o possível face à economia do país"

Quarta e última parte da entrevista DN/TSF a José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal e candidato único nas eleições de dia 23
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Que tipo de revisão propõe quanto aos critérios de atribuição das bolsas olímpicas? Já tem alguma garantia de que os apoios governamentais vão aumentar para o projeto Tóquio 2020?

Não. Não tenho quaisquer garantias, até porque está a decorrer um processo eleitoral, só há cerca de uma semana se sabe que há apenas uma lista candidata e portanto é perfeitamente natural que da parte da administração pública e do governo não se queiram iniciar conversações sem formalmente a próxima Comissão Executiva estar empossada e em exercício efetivo de funções. Os critérios de integração e as bolsas são matérias sobre as quais naturalmente temos de conversar e afinar com o governo. Mas devo dizer-lhe que, à partida, não vejo que o valor careça de revisão. Revisão sim merecerá a imputação fiscal que é feita às bolsas dos treinadores.

Como assim?

Como sabe, as bolsas dos atletas estão isentas de tributação fiscal, mas as dos treinadores não. É uma situação para a qual continuaremos a procurar sensibilizar as autoridades governativas no sentido de se alterar esta situação que nos parece profundamente injusta. E aí, sim, acho que deverá haver revisões.

Quanto ao resto, acha que se vão manter os mesmos apoios dos Jogos do Rio de Janeiro?

Vou aguardar para ver o posicionamento que o governo tem, tenho também de ouvir o posicionamento das federações desportivas, mas não creio que as questões sensíveis relativamente ao valor das bolsas seja um elemento determinante para que a nossa performance desportiva possa ser superior àquela que tem sido até à data. Aquilo que me parece oportuno introduzir no programa de preparação olímpica é a possibilidade de haver apoio às federações para aquele conjunto de atletas que não pertencendo às esperanças olímpicas e não estando integrados nos esquemas de preparação olímpica têm um histórico de valor desportivo que indicia a possibilidade de, a curto prazo, poderem integrar os esquemas de preparação olímpica. Mas para isso as federações precisam de recursos financeiros para garantirem os quadros competitivos. E há quadros competitivos que são extremamente avultados do ponto de vista financeiro, porque ocorrem em pontos do globo que obrigam a grandes deslocações, com os custos inerentes a essa circunstância.

Tirando essas exceções que referiu, considera que o apoio do governo é justo ou o é possível?

Não, acho que é um apoio justo! Quer dizer, é o possível face à economia do país. Nós estamos a falar de bolsas que estão isentas do ponto de vista da tributação fiscal e, por isso, se fizermos a imputação e compararmos com aquilo que é a remuneração de um trabalhador em circunstâncias do mercado de trabalho, são valores ainda com algum significado. Mas não creio que essa questão seja decisiva e central para sermos mais competitivos. Apesar de, naturalmente, qualquer atleta gostar de receber mais. E o presidente do Comité Olímpico também gostaria de oferecer mais. Mas aqui é preciso ter algum sentido de ponderação e equilíbrio face àquilo que são as possibilidades que o país tem de oferecer aos seus atletas mais condições do que aquelas que oferece. Mas procuraremos sempre melhorar, tendo presente que nessa melhoria há aspetos que me parecem mais decisivos do que propriamente as bolsas aos atletas.

Quando espera ver este dossiê e as conversas com o governo resolvidas?

Espero fechar este assunto no primeiro semestre de 2017. Nós vamos tomar posse a 3 de março e espero nos três meses seguintes ter este assunto completamente encerrado. Até para que, quer as federações, quer os atletas, quer os treinadores conheçam as regras do jogo. Sem prejuízo de chamar a atenção para o facto de no contrato anterior subscrevermos um conjunto de compromissos que permitem que não tenha havido qualquer paragem no processo de preparação. Portanto, quem obteve resultados transitou imediatamente para o projeto de Tóquio, está a receber as suas bolsas, os seus apoios, as federações também estão a receber e não houve nenhum interregno. Mas, como todo o processo precisa de ser reavaliado e afinado, importa fazê-lo o mais rapidamente possível.

Fala também no seu programa na necessidade de arranjar formas de apoio privadas. Que margem de crescimento vê para estes apoios?

Nós tivemos um grande crescimento neste ciclo olímpico. A presença da marca COP no relacionamento com o mercado e com os patrocinadores cresceu muito neste último ciclo e criou condições muito favoráveis para que agora se possa aprofundar e melhorar. Não imagina as dificuldades que tivemos em 2013-2014 para arranjarmos patrocínios. As portas estavam fechadas. É evidente que a situação que o país estava a viver também não era muito favorável. Mas havia outras razões do ponto de vista da avaliação que se fazia quanto ao posicionamento do Comité Olímpico na sociedade portuguesa. Creio que hoje essa avaliação é mais positiva. A minha própria decisão em recandidatar-me decorreu muito também dos estímulos e dos incentivos que recebi de uma série de patrocinadores do Comité Olímpico, patrocinadores importantes e personalidades importantes.

Então tem algumas garantias...

Não tenho garantias do ponto de vista de ter contratos fechados, mas tenho a convicção de que vai ser mais fácil do que foi no passado e oxalá essa facilidade se traduza também num volume financeiro ainda mais significativo. Nós partimos de um financiamento privado no último ciclo, no ciclo de Londres, da ordem dos 700 mil euros e agora chegámos a perto dos cinco milhões, quer em dinheiro quer em serviços prestados. E isto é muito significativo. Se nós conseguirmos manter este valor e, desejavelmente, se o conseguirmos subir seria muito bom para o Comité Olímpico.

Manter à volta dos cinco milhões já seria excelente?

Sim, seria excecional! Quatro anos, cinco milhões é excelente.

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