O adeus de Rossi, o piloto que marcou gerações e viveu grandes rivalidades
Com o título de campeão de MotoGP já atribuído a Fabio Quartararo, os holofotes do GP de Valência estavam hoje apontados para Valentino Rossi. O piloto italiano, de 42 anos, uma das maiores referências do motociclismo e ídolo dos pilotos mais jovens, vencedor de nove Mundiais (sete na principal categoria), despediu-se das pistas com um décimo lugar numa prova ganha pelo italiano Francesco Bagnaia e em que o português Miguel Oliveira foi 14.º. O adeus de Rossi surgiu precisamente no dia 14-11-21, algarismos que somados dão 46, o número icónico do italiano.
O anúncio tinha sido feito pelo próprio em agosto, revelando na altura que ia passar a correr em carros, mas sem adiantar grandes pormenores: "Penso que vou correr com carros a partir do próximo ano. Mas para já... ainda não está decidido. Sinto que serei um piloto para toda a vida. Por isso, apenas mudo da moto para o carro." Rossi, porém, vai continuar ligado ao motociclismo, pois é proprietário de uma das equipas: VR46 Ducati.
Aos 42 anos, Valentino Rossi deixa um legado invejável. Em 26 temporadas no motociclismo bateu inúmeros recordes desde que em 1996 se iniciou nas 125cc. Ao longo deste tempo, conquistou nove títulos mundiais, que incluem um de 125cc (1997), um de 250cc (1999) e sete de MotoGP/500cc (2001 a 2005, 2008 e 2009). Somou ainda 89 vitórias em MotoGP e 500cc, 14 em 250cc e 12 em 125cc, de um total de 115 triunfos.
Ao longo da carreira acumulou polémicas e grandes rivalidades. Recentemente, numa entrevista ao canal italiano Mediaset, recordou o episódio protagonizado com o espanhol Marc Márquez, quando o empurrou com a perna e o afastou da corrida no GP da Malásia - "nunca tinha visto um campeão a correr para que um rival perdesse e não para ganhar ele próprio".
"De 2015 guardo más recordações porque houve uma grande batalha com o Jorge Lorenzo e tive problemas com o Marc Márquez, que me fez perder. Falhei no GP de Valência porque caí, mas a situação com Márquez provocou-me mais dano. É uma má recordação porque não o esperava e, depois disso, nada foi igual", frisou.
Muito antes, em 2001, pegou-se com Max Biaggi no GP da Catalunha, depois de ter ganho a prova. Terá havido uma violenta discussão que terminou com Rossi a dar um soco no compatriota, que apareceu na conferência de imprensa com um corte no olho. "Deve ter sido um mosquito", justificou Biagi frente aos jornalistas. Rossi admitiu várias vezes que a maior rivalidade da sua carreira foi precisamente com Biagi.
Também travou duras lutas com Sete Gibernau, Casey Stoner e Jorge Lorenzo. Mas apesar das polémicas, foi sempre um piloto muito respeitado no circuito.
"O que perdes quando paras de fazer aquilo de que gostas é mais do que aquilo que perdes quando desistes de algo quando estás no topo. E nunca sabes se está mesmo a chegar ao fim. Em 2013 voltei à Yamaha e nessa altura já era dado como acabado. Mas se não me tivessem roubado o título de 2015, teria mais um campeonato, que seria o meu décimo. Não quero acabar em 12.º ou 16.º, claro, mas se quisesse abandonar estando no topo já o teria feito há alguns anos", revelou numa entrevista à Gazzetta dello Sport, onde assumiu alguma mágoa pela forma como desperdiçou o título mundial em 2016 - "aí desperdicei a chance de um título que podia ter ganho e que seria o décimo, mesmo ao terem-me roubado o de 2015".
Rossi também deixou a sua marca em Portugal, com cinco vitórias em 16 participações. O primeiro triunfo aconteceu em setembro de 2001, ao volante de uma Honda, iniciando uma série de quatro consecutivos, o último, em 2004, já na equipa Yamaha de fábrica. "A pista de Portimão é fantástica, foi uma das pistas mais divertidas onde já estive e acho que é um circuito perfeito para fechar o campeonato, sinceramente espero que mantenham o GP de Portugal para futuras épocas", afirmou há um ano.
Rossi nasceu em Urbino, Itália. Filho de Graziano Rossi, um ex-piloto de motociclismo, teve o seu primeiro contacto com as motos logo aos dois anos. Mas a primeira paixão foram os karts - chegou a vencer um campeonato regional. Só que as duas rodas eram mesmo a sua obsessão e começou a conciliar com as minimotos - antes do final de 1991, tinha ganho 16 corridas regionais. Entretanto, o elevado custo das corridas de kart fez o pai de Rossi repensar os planos para o filho. E ficou-se pelas motas. Foi somando êxitos como amador até chegar a profissional.
Rossi quer agora que a sua história seja contada num documentário, ao estilo do "The Last Dance", sobre a vida de Michael Jordan. "Temos imagens nunca vistas, algumas privadas, por isso nos próximos anos gostava de fazer um livro, mas principalmente uma série, para mim seria fantástico".