Nova era traz ameaça da Ferrari ao domínio da Mercedes?
Sem o campeão mundial em título (Nico Rosberg, retirado), com uma revolução aerodinâmica que tornou os carros bem mais rápidos e perante uma expectativa reforçada quanto à capacidade da Ferrari em questionar a hegemonia recente da Mercedes, arranca neste fim de semana, na Austrália, a nova temporada de Fórmula 1.
Depois de três anos consecutivos de títulos conquistados pelos pilotos da Mercedes (dois para Hamilton e um para Rosberg), a marca alemã é, naturalmente, o alvo a abater - neste ano com o finlandês Valtteri Bottas no lugar que o campeão Nico Rosberg deixou vago com a surpreendente retirada após a conquista do título em 2016.
Mas, numa época marcada por essas grandes alterações aerodinâmicas - os carros tornaram-se mais largos, mais pesados e bem mais rápidos -, os testes de pré-temporada levantaram a expectativa de a Ferrari poder disputar esse trono da Mercedes e voltar a lutar realmente pelos títulos de pilotos e construtores como há muito não consegue. O último campeão do mundo ao volante de um Ferrari, registe-se, foi Kimi Räikkönen, em 2007, enquanto o último título de construtores surgiu na temporada seguinte.
José Miguel Barros, jornalista com vários anos de comentários televisivos de Fórmula 1 no currículo, lembra que "os testes de pré-temporada nunca revelam tudo", pelo que "qualquer previsão de início de época é bastante arriscada", mas concorda que "a Ferrari mostrou estar muito mais forte do que em temporadas anteriores", nas duas sessões de testes em Barcelona.
Sinal disso é que Kimi Räikkönen e Sebastian Vettel marcaram o ritmo desses treinos, no início de março, com os tempos mais velozes. A Mercedes não ficou longe e as flechas de prata da equipa alemã (com fábrica em Inglaterra) foram até os carros que rodaram mais voltas. No entanto, o tricampeão Lewis Hamilton não hesita em atirar para a Ferrari o favoritismo neste início de época, talvez reforçado até com a decisão de última hora da FIA, ontem, em obrigar Mercedes e Red Bull a alterar os sistemas de suspensão.
José Miguel Barros (e a generalidade dos adeptos da F1) espera que que se possa assistir a uma luta equilibrada na frente, juntando a Red Bull à discussão. "Vão ser as três equipas mais fortes. Não sei se a hierarquia vai manter-se, talvez não. Mas espero que estejam as três muito próximas", vaticina o jornalista especializado no mundo dos motores, para quem a maior importância da aerodinâmica nos carros desta temporada pode dar asas à equipa da bebida energética, "que costuma ser muito forte a esse nível".
Melhor espetáculo? Talvez não
Ora, como já se referiu, são várias as alterações regulamentares para este ano, quase todas pensadas para aumentar a velocidade dos carros e a exigência física aos pilotos. Os pneus, por exemplo, estão 25% mais largos, oferecendo maior aderência. As asas dianteira e traseira também alargaram e os bólides passam a atingir dois metros de largura, o que não acontecia desde a década de 1990, além de ficarem também 20 kg mais pesados (722 kg).
Esta revolução aerodinâmica, que deixou os carros uns bons 3 a 4 segundos por volta mais rápidos, não significa um melhor espetáculo, argumenta José Miguel Barros, que partilha o ceticismo já demonstrado também por Lewis Hamilton, entre outros. "Com os carros mais rápidos, vai ser mais difícil um piloto seguir outro. E como a velocidade em curva também aumenta, muitas curvas passam a ser feitas como se fossem retas, eliminando fatores de seletividade. O espetáculo não será melhor, certamente", lamenta.
Receios para confirmar, ou não, a partir deste domingo (06.00), quando arrancar o Grande Prémio da Austrália, primeira de 20 corridas do mundial 2017, cujas transmissões televisivas em Portugal regressam à SportTV e que ficará ainda na história como o primeiro da era pós-Bernie Ecclestone, o velho patrão da Fórmula 1 durante os últimos 40 anos, agora afastado pelos novos proprietários da Liberty Media. De resto, sobra uma certeza: a 26 de novembro, em Abu Dhabi, o campeão não voltará a ser Nico Rosberg.