Não houve ponte nem recordes, mas foi uma "grande corrida"
A tempestade Félix já se tinha anunciado como intrusa, obrigando a organização a cortar do programa a partida da Ponte 25 de Abril, pela primeira vez, e inviabilizando os planos de poder haver um ataque ao recorde do mundo. Mas nem por isso a meia-maratona de Lisboa deixou de ser uma "grande corrida", como a catalogou, no final, Carlos Móia, o homem que a põe na estrada há 28 anos. Erick Kiptanui, do Quénia, e Etagegne Woldu, da Etiópia, emergiram como os vencedores de uma edição mais uma vez dominada pelo grande contingente africano.
A sustentar a satisfação de Carlos Móia está sobretudo o nível competitivo das duas corridas de elite, masculina e feminina, onde a luta pela vitória foi alimentada por vários atletas. Entre os homens, por exemplo, e apesar de nenhum ter baixado da fasquia dos 60 minutos, foram 12 os corredores (todos africanos) a terminar entre a uma hora e 1:01.00, o que fez desta edição uma das melhores de sempre se atendermos ao nível geral do top 10. Na corrida feminina, foram sete as atletas a correr abaixo das 1:12.00 horas, com Woldu a encabeçar um pódio totalmente etíope.
"Houve uma corrida fantástica na elite masculina. Houve 12 atletas na casa dos 60 minutos. É fantástico, deve ter sido a melhor corrida da meia-maratona, apesar de não se ter feito nenhum tempo de 59 minutos. Daí o "se". Se não estivesse este vento, se calhar teríamos feito 58 minutos e alguns seguramente com 59 minutos", concluiu, voltando a defender a opção pelo plano B, que impediu a partida da Ponte 25 de Abril para a generalidade dos corredores amadores (a prova de elite já tinha partida de Algés).
"Muita gente ficou triste por não se ter atravessado a ponte e hoje poderíamos estar a falar de algum acidente. A alegria é importante, mas esta foi a melhor atitude que tomámos. O plano B foi o mais difícil de tomar. Mesmo com 28 anos de experiência, fazer alguma coisa pela primeira vez não é fácil", afirmou o organizador, na conferência de imprensa realizada na meta, diante do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
A chuva que se anunciava para a manhã até acabou por dar algumas tréguas, mas o vento, esse, foi uma constante e condicionou o ritmo nas passagens entre Belém e Alcântara. Por isso, os tempos registados pelos vencedores foram modestos. O de Erick Kiptanui, na prova masculina, foi o mais fraco desde 2008, ano em que a elite passou a partir de Algés, enquanto o de Etagegne Woldu, na corrida feminina, foi mesmo o pior de sempre.
O recorde do mundo masculino (58.23 minutos) do eritreu Zersenay Tadese, batido aqui em 2010, ficou bem longe - Tadese também esteve presente ontem, mas foi apenas sexto, com 1:00.29 -, mas ainda assim Kiptanui ficou motivado para o conseguir no futuro.
"Foi a minha primeira vez a correr a meia-maratona, mas estou feliz. Dei o meu melhor e venci. O tempo não estava bom, nunca tinha corrido com um vento forte como este. Posso chegar ao recorde do mundo e dentro de um ano vou tentar lá chegar. Mesmo hoje, se o vento não estivesse tão forte, podia ter batido o recorde do mundo. Sentia-me capaz de o bater", disse o vencedor.
Entre os portugueses, os melhores foram Bruno Paixão (Beja Atlético Clube) e Filomena Costa (Associação Jardim da Serra), ao ficarem no 22.º e no 10.º lugares das respetivas provas.
"Para mim foi um objetivo cumprido: ser o melhor português. Esforcei-me, tentei ter um ritmo forte. Vi que não tinha pedalada para os quenianos, mas tentei chegar com um tempo razoável. Não foi possível melhor devido às condições", referiu Paixão, de 33 anos, que completou os 21 quilómetros da distância em 1:07.17 horas.
Já Filomena Costa, que representou Portugal na maratona dos Mundiais do ano passado, conseguiu fechar o top 10 da corrida feminina (1:16.43 horas), apesar das dificuldades sentidas face ao vento forte. "Não me lembro de ter corrido uma prova assim. Senti-me bem, mas sabia que não po-dia arriscar com este vento", frisou, sublinhando: "É um orgulho, é a primeira vez que sou a primeira portuguesa e estou muito contente." Com Lusa