"Não entrei na Fórmula 1 por interesses económicos"

O piloto Filipe Albuquerque vive, aos 32 anos, um dos melhores momentos da carreira.
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Integra duas equipas com hipóteses de vencerem as competições em que estão envolvidas e já assinou acordo válido para competir num dos mais prestigiados campeonatos do mundo a tempo inteiro na próxima temporada. Bastante satisfeito pela carreira que está a fazer, acredita que só interesses económicos o afastaram da possibilidade de competir na Fórmula 1, a categoria rainha do desporto automóvel.

Está a competir em duas frentes, na European Le Mans Series (ELMS), pela equipa United Autosports, e na North American Endurance Championship, pela Cadillac. Como está a correr a temporada?

Está a correr muito bem. No ELMS, comecei com uma vitória em Silverstone, mesmo com dois colegas inexperientes. Estamos em segundo lugar, o que é muito bom. Vai ser difícil conquistar o título, devido à desvantagem de 18 pontos, mas ainda temos hipóteses. No campeonato americano, estamos em primeiro lugar, e falta uma prova [neste fim de semana], numa competição que está a crescer.

A sexta e derradeira prova do European Le Mans Series realiza-se no dia 22, nas 4 Horas do Algarve, em Portimão. É o tudo ou nada e vai correr em casa...

Não estamos na melhor posição, mas vamos querer meter pressão nos nossos adversários [russos G-Drive Racing], que vão estar na defensiva, a evitar contactos, porque sabem que se não terminarem a prova perdem o campeonato. Em quatro horas pode acontecer muita coisa. Como português, é uma prova especial e quero ganhar em casa. Temos de ficar num dos dois primeiros lugares e depois ver em que posição é que eles ficam.

Quais são as características da pista do Circuito Internacional do Algarve?

É uma pista que se adapta melhor ao nosso carro, porque é mais sinuosa do que as das provas anteriores. São curvas atrativas e divertidas de guiar.

Espera contar com o apoio em massa do público português?

O povo português gosta de automobilismo. É o quarto ano consecutivo que temos o ELMS em Portugal e tem havido muita adesão. Nos três anos anteriores, no Estoril, foi mesmo das provas com mais adesão do campeonato.

Quais são as particularidades da European Le Mans Series em relação a outros campeonatos?

São provas baseadas no regulamento das 24 horas de Le Mans, que se realiza em junho. Como uma prova de 24 horas é dispendiosa, decidiram realizar um campeonato europeu com seis provas de quatro horas cada, com três pilotos a rodar entre eles.

O Filipe anunciou recentemente que na próxima temporada vai fazer a época completa nos Estados Unidos ao serviço da Action Express. Porquê esta mudança?

Está a haver uma grande mudança no desporto automóvel, com alterações de projetos dos grandes construtores dos campeonatos do mundo de resistência, e o mais apelativo é o americano. Vou fazer as dez provas do campeonato, a tempo inteiro. A seu tempo vou ver se consigo conciliar o projeto com o de outras equipas.

E vai ter um português na equipa, João Barbosa...

É uma coincidência muito agradável. Vamos ser dois portugueses num campeonato americano, logo numa altura em que o campeonato do mundo está cada vez melhor. É um feito para Portugal. E não há qualquer interesse comercial associado, é só pelo talento e pelo que temos feito.

Numa altura em que já tem 32 anos e leva mais de 20 a pilotar, que balanço faz da sua carreira?

O balanço que faço é muito positivo. Desde o tempo dos karts, estive nas melhores categorias e nos melhores campeonatos do automobilismo. Fui piloto da Red Bull Junior Team e estive próximo da Fórmula 1, mas não entrei por interesses económicos. Depois estive vários anos num construtor como a Audi e no campeonato alemão, que é o mais competitivo da Europa. E agora vou fechar contrato com uma equipa de topo. Tenho estado sempre ao mais alto nível.

O que falhou em concreto para não ter competido na Fórmula 1?

Foi uma questão de interesses. As equipas querem os pilotos mais competitivos e com mais qualidade, e há muitos pilotos com valor. Por isso, se houver pilotos chineses, indianos e oriundos dos países em que se realizam os grandes prémios, é melhor para os patrocinadores. E como Portugal não tem grandes empresas envolvidas nem acolhe grandes prémios...

Considera impossível um português correr na Fórmula 1 nos próximos anos?

Não vejo isso a acontecer tão depressa. Normalmente, as equipas olham para pilotos mais jovens e não temos algum na calha, num programa júnior. Preparar um piloto é um investimento a longo prazo.

Olhando para o seu percurso, que momento define como o ponto alto?

Tem vindo a ser... Tem sido o assinar de cada contrato, com construtoras como a Audi e a Cadillac. Ganhar uma prova como as 24 Horas de Daytona é especial, mas o ponto alto está a ser agora, em que participo pelo quarto ano consecutivo nas 24 Horas de Le Mans.

Já apanhou algum susto?

Alguns, e até cheguei a capotar, mas não foram grandes sustos. Os carros estão cada vez mais seguros.

E sei que já teve um episódio curioso envolvendo Michael Schumacher...

Na Corrida dos Campeões [2010], nas sessões de treinos, eu tinha chegado atrasado, e outro piloto que também estava atrasado era o Michael Schumacher. Bati durante o teste e, durante o jantar, entornei massa. Então ele disse-me "hoje não foi o teu dia". No dia a seguir ganhei, ele deu-me os parabéns e eu disse-lhe que aquele, sim, era o meu dia.

E já teve contacto com outras estrelas do automobilismo? Já fez equipa com o sobrinho de Emerson Fittipaldi, por exemplo...

A partir do momento em que andas num nível alto, esses nomes deixam de ser ídolos. Apenas admiro o trabalho deles, mas não os idolatro. São seres humanos normais.

Voltando ao tema da Fórmula 1, como tem acompanhado o campeonato deste ano? Vettel começou bem, mas agora é Hamilton que está bem encaminhado para conquistar o título...

O que vejo é que a Ferrari deu um enorme passo à frente neste ano. Acho que a Mercedes ainda é a equipa a abater, mas a Ferrari não a deixa ter a margem de erro a que a Mercedes estava habituada a ter nos últimos anos. Mas não têm cometido erros e em condições normais ganham o campeonato dos construtores.

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