Troféu do Mundial de Clubes.
Troféu do Mundial de Clubes.Cristobal Herrera-Ulashkevich/EPA

Mundial de Clubes fecha primeira edição com clima extremo, surpresas e final europeia

Torneio de 2025, nos EUA, expôs problemas de calendário, calor e equilíbrio maior do que o esperado entre continentes. PSG e Chelsea disputam o título este domingo, em Nova Jérsia, a partir das 20h00.
Publicado a

Paris Saint-Germain e Chelsea decidem neste domingo (13), a partir das 20h00, a final do Mundial de Clubes 2025, em partida a ser realizada no MetLife Stadium, East Rutherford, no estado de Nova Jérsia. O jogo marca o fim da primeira edição do novo formato do torneio, em sistema quase idêntico ao Mundial de seleções e também realizado de quatro em quatro anos.

Desde o dia 15 de junho, quando Al Ahly e Inter Miami deram o pontapé de saída no torneio, realizado justamente no país que também é sede do Mundial de 2026, o campeonato é visto como um "evento-teste" para o próximo ano. Como todas as novidades, o certame teve altos e baixos, dentro e fora de campo, e o DN apresenta uma lista dos pontos positivos e negativos do torneio.

1. Calor e tempestades dentro de campo

O maior inimigo do novo Mundial de Clubes não calça as chuteiras. Durante quase um mês, o calor sufocante e as tempestades inesperadas roubaram o palco, interrompendo jogos, esgotando jogadores e deixando no ar um claro aviso para 2026. Ao longo da competição, seis partidas foram paralisadas - algumas por quase duas horas - devido ao rígido protocolo americano para condições climáticas extremas, nomeadamente quando há registo de trovoadas.

As críticas vieram de todos os lados, mas a declaração mais dura veio de um dos finalistas. Enzo Maresca, treinador do Chelsea, não escondeu a insatisfação depois da vitória sobre o Benfica nos oitavos de final (4-1), num jogo que ficou quase duas horas interrompido por causa de uma tempestade. Na altura da paralisação, faltavam cinco minutos para o fim da partida quando caiu um raio a 17 quilómetros do estádio em Charlotte.

“Esta competição é fantástica. Todos os melhores clubes estão aqui. Mas seis, sete jogos suspensos? Quem decide isto deve ter uma razão, porque não é normal. No Mundial de seleções, quantos jogos vão ser suspensos? Zero. No Europeu? Zero”, disparou.

Paralisação no Estádio MetLife , em New Jersey
Paralisação no Estádio MetLife , em New JerseyFIFA

Para o italiano, as longas paragens transformam a experiência dos jogadores numa “piada”. “Como mantemos os jogadores focados durante duas horas? Lá dentro eles comem, riem, falam com a família. Não é futebol. Suspendem-se seis jogos, provavelmente este não é o local certo para se realizar esta competição”, avisou, deixando claro que espera mais da FIFA no próximo ano, no Mundial de seleções.

Os horários, pensados para agradar ao público europeu, só agravaram o cenário. Jogos ao meio-dia ou ao início da tarde em cidades como Miami, Nova Jérsia ou Pasadena colocaram os termómetros acima dos 35°C, com alta humidade. O impacto foi evidente: ritmo mais lento, substituições forçadas, jogadores exaustos.

Ainda assim, a FIFA não dá sinais de mudar a programação para o Mundial do próximo ano, apostando que o impacto será menor em estádios climatizados e com horários compatíveis com uma temperatura um pouco mais amenas. Para recordar: a cada raio "perto" dos recintos desportivos, a lei americana indica que deve a ver um adiamento de 30 minutos de eventos realizados ao ar livre.

2. Estádios: cheios para uns, desertos para outros

O novo Mundial de Clubes também escancarou um contraste nas bancadas: jogos com boa audiência e outros praticamente vazios. No geral, a competição superou a marca de um milhão de espetadores, impulsionada por clubes de maior apelo como Real Madrid, PSG, Chelsea e os brasileiros. Palmeiras, Fluminense e Flamengo estiveram entre s dez equipas com mais público do torneio, todos com médias acima de 35 mil espetadores por jogo.

No topo, a estreia do PSG contra o Atlético de Madrid bateu o recorde do Mundial: 80 619 pessoas no Rose Bowl, em Los Angeles. A meia-final entre Chelsea e Fluminense também encheu o MetLife Stadium com mais de 70 mil, mas por um motivo específico: com as vendas em baixa na véspera de uma partida decisiva, a FIFA teve que fazer um mega desconto, vendendo bilhetes por 13,40 dólares (11,46 euros), valor 97% mais barato do que o preço anunciado antes do torneio: 450 dólares (385 euros).

Homenagem a Diogo Jota e André Silva antes da partida entre Real Madrid x Borussia Dortmund. Partidas dos espanhóis tiveram bom público.
Homenagem a Diogo Jota e André Silva antes da partida entre Real Madrid x Borussia Dortmund. Partidas dos espanhóis tiveram bom público.SARAH YENESEL/EPA

Não foi possível fazer o mesmo noutras partidas, mesmo com promoções: em Orlando, apenas 3 412 pessoas assistiram ao jogo entre Ulsan e Mamelodi Sundowns, um estádio praticamente vazio. No Benfica-Auckland City, também em Orlando, a ocupação não passou dos 26%.

A FIFA avalia os números gerais como positivos, mas os estádios vazios em partidas menores acendem um alerta para 2026, quando o Mundial de seleções terá ainda mais jogos devido ao número recorde de seleções participantes: pela primeira vez na história estarão 48 países representados.

3. Repercussão: linha mais ténue entre o sul e o norte

O torneio ganhou grande repercussão fora das quatro linhas pelo embate que se gerou nas redes sociais e na comunicação social sobre as diferenças entre os clubes europeus e de outros continentes, especialmente os brasileiros. O Mundial reservou espaços para surpresas, como a vitória do Botafogo frente ao PSG ainda na fase de grupos, ou a do Flamengo diante do Chelsea na mesma fase. Mais adiante, Fluminense e Al Hilal despacharam, respetivamente, Inter Milão e Manchester City para avançarem para os quartos de final.

Ainda assim, o peso da Europa ficou evidente nas fases decisivas. Entre os quatro semifinalistas, três eram europeus: Real Madrid, PSG e Chelsea. O Fluminense foi o único sul-americano a resistir, mas acabou por cair diante da superioridade física e tática do Chelsea.

Jogadores do Fluminense comemoram golo marcado frente ao Al Hilal.
Jogadores do Fluminense comemoram golo marcado frente ao Al Hilal.EPA

No fim, fica a sensação de que a distância entre os continentes já não é tão grande quanto antes, embora evidentemente ainda exista - basta ver a final. O dinheiro, as estruturas e o nível de preparação dos europeus continuam a marcar uma diferença difícil de igualar para os clubes fora do eixo, mas nas questões do talento puro, é possível que a linha seja agora mais ténue.

Há quem justifique que os outros clubes sul-americanos estão a meio da época: ora, se considerar o último ano todo, os brasileiros, por exemplo, mal tiveram férias também devido ao Mundial do Qatar. Isso sem contar toda a logística que as viagens num país como o Brasil, de dimensão continental, requer mesmo em apenas meia temporada. Os sauditas estavam igualmente no fim da época. Se há uma grande lição do torneio é esta: o futebol existe e resiste muito além das fronteiras europeias.

4. As surpresas e deceções

Como já referido no ponto anterior, as equipas brasileiras protagonizaram boas surpresas no campeonato ao "baterem de frente" e até superarem os europeus. Além das grandes vitórias de Botafogo - que ficou à frente do Atlético de Madrid na fase de grupos -, Flamengo e Fluminense, o Palmeiras, outro representante do Brasil, também não desiludiu diante dos europeus.

A equipa de Abel Ferreira empatou com o Porto (0-0) no primeiro jogo e por pouco não levou o duelo com o Chelsea, nos quartos de final, para o prolongamento. Por falar no FC Porto, protagonizou precisamente uma das mais dececionantes campanhas deste Mundial.

A equipa, que durante o torneio foi treinada pelo argentino Martín Anselmi, entretanto já despedido, não conseguiu ganhar qualquer dos três jogos do seu grupo. Além do empate frente ao Palmeiras, foi derrotado pelo Inter Miami de Lionel Messi (1-2) e empatou com os egípcios do Al Ahly (4-4). Os dragões voltaram a Portugal sob protestos.

Quem surpreendeu foi o Benfica. Num grupo que tinha o poderoso Bayern Munique, os encarnados conseguiram passar em primeiro lugar, vencendo os alemães (1-0) na última jornada, em Charlotte, garantindo uma vaga nos oitavos de final com autoridade. Destaque para o facto de, mesmo tendo sido eliminado nos oitavos diante do Chelsea, Ángel Di María continua a ser o melhor marcador deste mundial com quatro golos.

Ninguém, no entanto, superou o Fluminense como surpresa. Visto como a mais fraca entre as equipas brasileiras na competição, o tricolor carioca, comandado pelo craque colombiano Jhon Arias, chegou às meias-finais, despachando os italianos do Inter Milão nos oitavos, os sauditas Al Hilal nos quartos, já depois de ter garantido o apuramento num grupo que incluía o Borussia Dortmund (o Flu foi superior mas empatou 0-0 com os alemães). A campanha coroou a equipa como a grande sensação do Mundial, mesmo sem conseguir chegar à final.

Pedro Neto e Jhon Arias, dois dos melhores do campeonato, em disputa por bola nas meias-finais.
Pedro Neto e Jhon Arias, dois dos melhores do campeonato, em disputa por bola nas meias-finais.JUSTIN LANE/EPA

O Al Hilal, aliás, também merece menção, uma vez que poucos imaginavam a vitória sobre o Manchester City de Guardiola, num jogo épico, por 4-3. No entanto, os ingleses e o treinador catalão, diga-se, nunca pareceram de facto muito interessados no Mundial, mesmo com as das goleadas contra Al Ain e Juventus na fase de grupos.

5. Os finalistas

Surpresas e deceções à parte, duas equipas chegam para esta final com mérito de sobra. O Paris Saint-Germain confirmou o favoritismo com goleadas impactantes (4-0 ao Atlético de Madrid, na fase de grupos, Inter Miami nos oitavos, Real Madrid nas meias). A boa forma confirma um momento especial para os franceses, que vão construindo aquela que parece ser uma das equipas do século até agora.

A equipa de Luis Enrique parece jogar ao som de música. Na defesa, Donnarumma, Marquinhos, Hakimi e Nuno Mendes têm feito a vida dura para quem quer chegar à área protegida pelos parisienses. Os dois laterais, aliás, ora parecem defensores, ao impedir chegada dos avançados mais perigosos do mundo, ora são flechas a entrar pelas pontas ou até mesmo por dentro, chegando muitas vezes à área adversária para marcarem golos.

Jogadores dom PSG comemoram vaga na final do Mundial.
Jogadores dom PSG comemoram vaga na final do Mundial.JUSTIN LANE/EPA

No meio, João Neves, Vitinha e Fabián Ruiz vão se entendendo cada vez mais, enquanto o trio de ataque formado por Kvaratskhelia, Doué e Dembelé vai construindo números absurdos de golos e assistências. Isso sem contar Barcola e Gonçalo Ramos, outras opções ofensivas que, quando acionadas, correspondem invariavelmente.

Mesmo que seja o favorito, o PSG terá na final que superar uma das equipas mais consistentes deste torneio. Após conquistar a Liga Conferência e de alcançar o quarto lugar na Premier League na sua primeira temporada como treinador do Chelsea, o italiano Enzo Maresca já implementou de vez a sua ideia nos blues.

JUSTIN LANE

Após terminar a fase de grupos em segundo lugar devido à derrota por 3-1 com o Flamengo, os ingleses despacharam na fase a eliminar o Benfica (4-1, após prolongamento), Palmeiras (2-1) e Fluminense (2-0) para chegar à grande decisão deste domingo. Com uma defesa consistente e apenas um jogador (Reece James) que resiste da equipa que conquistou a Liga dos Campeões de 2021, que apurou a equipa para o torneio nos EUA, o Chelsea, tal como o PSG, também aposta na juventude.

Moises Caicedo (está em dúvida para a final) foi um dos melhores jogadores de todo o torneio, assim como o extremo internacional português Pedro Neto e o lateral-esquerdo espanhol Marc Cucurella. Enzo Fernández também esteve em grande forma, Cole Palmer apareceu nos momentos mais decisivos e o recém-contratado brasileiro João Pedro foi trunfo ao marcar dois golos ao Fluminense, a sua antiga equipa, para colocar os blues na final.

Seguramente, os ingleses irão para o confronto animados e com confiança de que é possível levantar o troféu. Resta saber se o campeão europeu PSG estará disposto a facilitar ou se entrará como tem sido habitual em quase todas as partidas: impondo seu estilo, marcando golos e não dando hipóteses ao adversário.

Onzes prováveis

PSG: Donnarumma; Achraf Hakimi, Marquinhos, Lucas Beraldo, Nuno Mendes; Vitinha, João Neves, Fabián Ruiz; Désiré Doué, Ousmane Dembelé, Kvaratskhelia.

Chelsea (provável onze): Robert Sanchez; Reece James, Tosin Adarabioyo, Levi Colwill, Marc Cucurella; Felipe Caicedo, Enzo Fernández, Christopher Nkunku; Cole Palmer, Pedro Neto; João Pedro.

Horário: 20h00 (Lisboa), com transmissão em direto na TVI e na app da DAZN

Local: Estádio MetLife, East Rutherford (New Jersey), EUA.

Arbitragem: Alireza Faghani (Austrália), Anton Shchetinin (Austrália) e Ashley Beecham (Austrália)

nuno.tibirica@dn.pt

Troféu do Mundial de Clubes.
Chelsea vence Fluminense e garante final europeia no Mundial de Clubes
Troféu do Mundial de Clubes.
PSG goleia o Real Madrid e está na final do Mundial de Clubes (veja os golos)
Diário de Notícias
www.dn.pt