Arranca na madrugada de domingo (1h00, hora de Lisboa) o renovado Campeonato do Mundo de Clubes, uma competição que tem encontrado alguma resistência e que certamente vai gerar dilemas aos responsáveis das 32 equipas no que concerne à gestão física dos jogadores.Se por um lado está em jogo o prestígio, os milhões e um título, por outro há o risco de ficarem comprometidos os objetivos da próxima época. O Benfica, que por jogar numa liga periférica é dos emblemas europeus que mais necessita desta montra, que o diga. É que a próxima época arranca logo no início de agosto com a Supertaça (fim de semana de 2 e 3) e a 3.ª pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões (primeira mão a 5 ou 6). Mas antes há um Mundial de Clubes que, na melhor das hipóteses, terminará para os encarnados a 13 de julho, data da final - as meias-finais disputam-se nos dias 7 e 8, os quartos a 4 e 5, os oitavos entre 28 de junho e 1 de julho e a fase de grupos termina a 24 de junho.Ou seja, há a possibilidade de o último jogo da época 2024-25 e o primeiro de 2025-26 se realizarem no espaço de 20 dias, o que obrigará a uma complicada gestão do volume de férias e de pré-época até a bola começar a rolar novamente.Ainda por cima, as águias disputaram a final da Taça de Portugal a 25 de maio, uma semana após a conclusão do campeonato e, depois disso, tiveram 13 jogadores nas seleções nacionais: Trubin, Samuel Soares, Otamendi, António Silva, Dahl, Bajrami, Barreiro, Kökçü, Amdouni, Pavlidis, Aktürkoğlu, Schjelderup e Prestianni.Em pior situação só está, entre os participantes europeus, o Salzburgo, equipa austríaca que competiu até 24 de maio e vai entrar em campo na 2.ª pré-eliminatória da Champions a 22 ou 23 de julho.Um pouco mais folgado é o calendário do FC Porto, que terminou a época a 17 de maio e só começará a competir em 2025-26 no fim de semana de 9 e 10 de agosto, quando o campeonato iniciar, até porque os dragões estão já apurados para a fase de liga da Liga Europa. Além disso, apenas cinco jogadores estiveram recentemente nas seleções: Diogo Costa, Rodrigo Mora, Samu, Eustáquio e Deniz Gul.“Os jogadores vão pagar caro”No entender do experiente treinador Jesualdo Ferreira, 79 anos, esta densidade competitiva deverá prejudicar o desempenho dos jogadores na próxima temporada. “As competições são cada vez mais e os jogadores têm menos capacidade para as fazer. Há clubes que acabaram de competir agora e têm jogadores nas seleções. Que condições esses jogadores têm? Poucas, a meu ver. A pré-época [antes do Mundial de Clubes] vai suportar a próxima época. E quem vai pagar a fatura é o rendimento dos jogadores. Tive situações parecidas, mas nos últimos anos esta maratona de jogos tem sido insuportável”, disse o professor ao DN.Jesualdo, que já treinou os dois clubes portugueses que vão participar no Mundial de Clubes e também trabalhou em emblemas de África, Ásia e América do Sul, acredita mesmo que a fase do ano em que a competição decorre poderá dar azo a… surpresas. “Sou capaz de pensar que, para as equipas sul-americanas, isto é um desviozinho, porque estão em competição, e que qualquer equipa sul-americana poderá ter condições para ganhar o Mundial”, perspetivou o treinador, muito reticente quanto ao torneio: “Não sei se vai ser uma competição favorável ao desenvolvimento do futebol. Tenho a ideia de que vai ser criticável e os jogadores vão pagar caro. O problema não vai estar no Mundial. O problema vai estar no rendimento na próxima época.”Jesualdo adiantou que, se estivesse na mesma situação dos treinadores que vão participar no Mundial, daria apenas “alguns dias de férias” e teria de “fazer a recuperação física durante a competição, com cargas adequadas”, porque “quando chegar a competição, tem de se ganhar”. Quando começou a treinar, as pré-épocas duravam dois meses, período que começou a reduzir. “Hoje, ao fim de três semanas estão a competir. No Brasil nem tanto, faz-se a pré-época a competir. Começar com exigências altas não é bom. O ideal é uma exigência progressiva. No Egito o futebol não para. É uma aberração. Não havia férias, tinha de dar férias aos jogadores durante a competição. Como treinador tem de se ser um gestor muito competente, de recursos e rendimento, muitas vezes mais do que questões táticas”, analisou.Bolo de 926 milhões para distribuirA FIFA terá um bolo total de 926 milhões de euros para distribuir em prémios aos emblemas participantes no Mundial de Clubes, que se realizará nos Estados Unidos: cerca de 440 milhões consoante o desempenho desportivo de cada equipa, enquanto 486 milhões serão distribuídos à cabeça como prémio de participação. O valor máximo que uma equipa poderá arrecadar neste torneio é de 115 milhões de euros - caso seja uma equipa europeia a sagrar-se campeã.Apenas por se ter apurado para a competição da FIFA, cada clube europeu receberá um prémio que varia entre os 11,9 e os 36,3 milhões de euros, valor que é determinado por um ranking baseado em critérios desportivos e comerciais.Durante a fase de grupos, o prémio por vitória em cada uma das três jornadas é de 1,85 milhões de euros, enquanto o empate vale 920 mil euros.O apuramento para os oitavos de final vale 6,9 milhões de euros, a passagem aos quartos 12,15 milhões e atingir as meias-finais vale 19,4 milhões. O finalista vencido receberá 27,7 milhões e o campeão arrecadará mais 37 milhões.Refira-se que as 32 equipas estão distribuídas por oito grupos, sendo que o FC Porto está no A com Palmeiras, Al-Ahly e Inter Miami, enquanto o Benfica está no Grupo C, com Bayern Munique, Auckland City e Boca Juniors.