"Muita coisa terá de ser feita" para manter Portugal em alta entre os paralímpicos
O orgulho e a satisfação com o desempenho nacional nos Jogos Paralímpicos (quatro medalhas de bronze e um total de 29 diplomas), não impedem que Rui Oliveira, chefe de missão portuguesa no Rio 2016, já aponte ao futuro. "Muita coisa terá de ser feita" para Portugal se manter entre a elite mundial no desporto paralímpico, alerta o responsável, esperançado de que o País passe a dar mais atenção e apoios a estas modalidades.
Hoje, pelas 12:05, deve aterrar no Aeroporto Humberto Delgado (Lisboa) a maior parte da comitiva que representou Portugal nos Jogos Paralímpicos, que decorreram até domingo no Rio de Janeiro (Brasil). Na bagagem, trará "um balanço muito positivo", nota o chefe de missão. "Tínhamos como objetivo inverter a tendência de ter cada vez menos medalhas de edição para edição, fruto do forte investimento dos países concorrentes, que já competem com muitos profissionais. Não só o conseguimos como ainda ultrapassámos o número de pódios de 2012 [três]. Estamos muito orgulhosos e muito satisfeitos", explica, em declarações ao DN.
No entanto, a festa pelo cumprimento de todas as metas fixadas pelo Comité Paralímpico de Portugal para este ciclo - "mais atletas, mais modalidades, melhores resultados e mais medalhas" - não ofusca a visão de Rui Oliveira. É preciso dar mais atenção ao desporto paralímpico, para que os atletas nacionais possam manter-se em alta, no contexto de crescimento da competitividade internacional dos últimos anos, frisa o responsável.
"Estes resultados - além das medalhas, também crescemos no número de diplomas em relação ao passado - servem para mostrar, à opinião pública e aos órgãos de comunicação social, o valor do nosso desporto para pessoas com deficiência. Há que encontrar formas de dar mais atenção e condições a estes atletas", defende Rui Oliveira, que também é secretário-geral do Comité Paralímpico de Portugal.
Faltam apoios para a preparação
A igualdade de tratamento é uma velha luta (e ambição por concretizar...). Por exemplo, enquanto as bolsas de preparação dos atletas olímpicos variaram, no último ciclo, entre os 900 e os 1375 euros, as dos paralímpicos apenas foram de 225 a 518 euros. "É uma diferança bastante grande. Mas o nosso desenvolvimento não passa apenas por essas verbas. É preciso dotar o desporto paralímpico de outras condições", observa o chefe de missão no Rio 2016 - de olho na profissionalização, que já se vai tornando regra entre os atletas das principais potências paralímpicas.
"É precisa uma alteração profunda nos apoios que são concedidos para a preparação dos atletas. Em desportos que exigem deslocações muito dispendiosas - seja por causa das embarcações (vela ou canoagem) ou dos cavalos (equestre), por exemplo - temos atletas bem posicionados nos rankings mas que não se conseguem qualificar, por terem de faltar a provas", revela Rui Oliveira - que, ainda assim, procura não entrar em polémicas.
"Temos de ter calma e trabalhar com a tutela, que está a par das nossas preocupações", diz o responsável, mostrando-se esperançado com a atenção dada pelo Governo à presença portuguesa no Rio 2016. "Tivemos cá o primeiro-ministro, o ministro da Educação e os secretários de Estado do Desporto e da Inclusão das Pessoas com Deficiência, que nos deram um apoio muito significativo e deixaram-nos com esperança de que haja uma nova oportunidade para criar condições, investir na formação, aumentar o valor das bolsas...", descreve.
O chefe da missão portuguesa no Rio 2016 aponta um caminho similar ao defendido pelos responsáveis das principais modalidades olímpicas, para mudar mentalidades num país (demasiado) focado no futebol. "Tudo começa nas escolas. Em vez de desinvestir, é preciso valorizar mais a disciplina de educação física e o desporto escolar. Só assim é que podemos agarrar mais jovens e trazê-los para a prática do desporto adaptado", refere Rui Oliveira.
Objetivo para 2020: melhorar
Ainda assim, o desporto paralímpico português já está a expandir-se - como prova a estreia de duas modalidades (tiro e judo) no Rio 2016. "Decidimos passar a ter os atletas integrados nas federações [destes e de outros desportos], que os acolheram de bom grado, e começaram a ter resultados", explica o dirigente.
Os dois estreantes (o atirador Adelino Rocha e o judoca Miguel Vieira) não fazem parte da lista dos portugueses que trouxeram quatro medalhas [ver lista em cima, à direita] e 29 diplomas destes Jogos Paralímpicos (entregues aos oito primeiros classificados de cada disciplina, incluindo os medalhados). Mas isso não impediu que os 37 atletas lusos deixassem o Rio de Janeiro "com um balanço obviamente positivo", como refere Rui Oliveira. "Mostrámos que, apesar das dificuldades temos atletas de grande valor. Foi o resultado de muito trabalho, apesar do amadorismo", frisa o chefe de missão.
Esse desempenho teve como "cereja no topo do bolo" a medalha de bronze conquistada por Manuel Mendes, na maratona T46, no último dia de competição. "Ele esteve muito bem, fruto da experiência. Foi uma corrida muito tática, em condições extremamente penosas [por causa do calor]", recorda o responsável. Essa foi a 92.ª medalha de Portugal desde que começou a ter participações regulares em Jogos Paralímpicos, a partir de 1984. A grande maioria dos pódios surgiu no atletismo (53) e no boccia (26) - modalidades que repartiram entre si os quatro bronzes do Rio 2016 (de Luís Gonçalves, Manuel Mendes, José Macedo e equipa BC1/BC2). E agora, "embora ainda seja naturalmente cedo" para apontar a Tóquio 2020, Rui Oliveira não baixa a fasquia: "o próximo objetivo será melhorar estes resultados".