Mourinho fala em “ambição” e pede aos adeptos do Fenerbahçe que “sejam loucos”

Mais de uma hora e meia foi o tempo que durou esta segunda-feira a conferência de imprensa de apresentação de José Mourinho como treinador do Fenerbahçe, que levou mesmo o técnico português a dizer que aquela era “a mais longa” dos seus 20 anos de carreira.

Aos 61 anos, prepara-se para assumir o comando do décimo clube desta sua caminhada a solo iniciada em setembro de 2000. Mais maduro, não prometeu títulos num emblema que não é campeão da Turquia desde 2014, o que tem levado ao desespero os mais de 35 milhões de adeptos do emblema de Istambul.  Ainda assim, deixou como palavra-chave “ambição”. “Ambição é sentir a pressão de ter de ganhar todos os jogos para ser campeão e essa é a realidade do Fenerbahçe. Os adeptos têm sonhos e para mim aceitar este desafio significa ambição. O projeto teve impacto em mim e agora é a minha vez de ter impacto no projeto”, assumiu Mourinho, bem ao seu jeito.

E foi de forma direta que respondeu a uma das questões que abalam o dia a dia do Fenerbahçe: a forma como pensa ultrapassar a falta de paciência dos adeptos. “Ganhando.” Mais claro não podia ter sido e explicou a sua teoria: “Não se pode ensinar o que não pertence à cultura. O presidente, a direção, o treinador devem ter paciência, mas os adeptos não. Eles têm de ser loucos. Quero essa paixão, quero senti-la e acreditar em tudo. Quero que acreditem que podemos ganhar até aos 90 minutos, que joguem connosco, que sejam parte de nós.”

O treinador português deixou ainda a certeza que a sua nova equipa vai “ganhar mais vezes do que perder”, lançando desde logo mais uma mensagem para os adeptos: “Espero que marquemos golos nos últimos minutos para poder ir a correr para os nossos adeptos. Ainda consigo correr...”

A tarefa que espera Mourinho não é fácil, pois na época passada o Fenerbahçe fez 99 pontos e marcou 99 golos, mas o título foi para o rival Galatasaray, que fez 13 pontos. “Esta diferença para as restantes equipas não é boa, espero que na próxima época haja mais equilíbrio, com mais equipas a lutar pelas primeiras posições. O que quero é ganhar o título com menos de 99 pontos”, sublinhou, ao mesmo tempo que foi fintando as questões sobre novos jogadores, recusando desde logo dois seus ex-jogadores. “Falaram do Lukaku, do Dybala... Não quero nenhum deles. Mas temos de ter respeito pelas pessoas que vão sair”, disse, garantindo que irá ter conversas com o diretor desportivo Mário Branco (já desempenhou essas funções no Estoril e Famalicão) sobre aquilo que será o plantel para a nova época. 

A propósito das razões que levaram Mourinho a aceitar a proposta do Fenerbahçe, Mourinho voltou a ser direto quando questionado sobre se iria ser especial na Turquia: “Tenho é de chegar aos sonhos dos adeptos. Se eles estiverem felizes, serei especial. Não gosto de anos sabáticos, de férias e de trabalhar em clubes sem ambição, mas sei que para se ser especial é preciso dar alegrias aos adeptos, ganhando jogos e títulos.”

José Mourinho foi contratado num ambiente especial no Fenerbahçe, sendo trunfo de Ali Koç, atual presidente e candidato às próximas eleições.O treinador fintou a possibilidade de, em breve, ter de trabalhar com outro presidente. “Sou treinador do Fenerbahçe para os próximos dois anos e assinei contrato num momento em que o presidente é o senhor Ali Koç, o diretor desportivo é Mário Branco e a estabilidade, o projeto, a organização que pude confirmar nos últimos dois dias”, argumentou, procurando fugir à polémica.

Certo é que Mourinho tem entre mãos uma tarefa complicada de recolocar o clube no trilho do sucesso no campeonato turco, pois o jejum dura há 10 anos, período durante o qual Vítor Pereira falhou, tal como Jorge Jesus, que ainda assim conquistou uma Taça da Turquia o único motivo para os fanáticos adeptos festejarem. 

carlos.nogueira@dn.pt