"Maccabi Haifa é o clube de Israel que mais cresceu em qualidade"

Orlando Sá, antigo internacional português que já jogou no país, traça o retrato do primeiro adversário dos encarnados na fase de grupos, a quem atribuiu total favoritismo no jogo desta terça-feira

Pela sexta vez na história da Liga dos Campeões, uma equipa israelita vai participar na fase de grupos da competição. Caberá ao Maccabi Haifa, que já lá esteve duas vezes (02/03 e 09/10), representar o país asiático que faz parte da UEFA desde 1991, devido aos conhecidos problemas políticos da região, e será o Estádio do SL Benfica a acolher o regresso dos "verdes" à principal competição de clubes do mundo. Num grupo particularmente complicado (além dos encarnados, defrontam Paris SG e Juventus), dificilmente os israelitas vão conseguir um feito inédito - nunca uma equipa local conseguiu chegar aos 16 avos de final nas cinco participações anteriores -, isto apesar do conjunto de Haifa contar no seu palmarés com um triunfo histórico, e logo por 3-0, sobre o Manchester United na época de estreia (na qual também bateram os gregos do Olympiacos).

Para a partida desta terça-feira, o favoritismo recai a 100 por cento sobre o Benfica, tal a diferença de forças entre as equipas. Ideia que Orlando Sá, antigo internacional português que jogou em Israel ao serviço do Maccabi Telavive (18 jogos, três golos e duas assistências), subscreve por completo ao DN.

"Perspetivo um encontro em que o Benfica é claramente favorito, sobretudo agora depois do fecho do mercado. Se já partia à frente, com os reforços que conseguiu é ainda mais favorito, até porque creio que o objetivo é ficar nas duas primeiras posições e passar à fase seguinte. Já o Maccabi será claramente o outsider, mesmo sendo o clube em Israel que, nos últimos anos, mais cresceu em termos de organização e qualidade", refere o antigo avançado.

Para isso, muito contribuiu o trabalho de Gal Alberman, o atual diretor desportivo. "Foi meu colega no Maccabi Telavive, onde era um dos capitães de equipa. É um líder e sabe perfeitamente quais as exigências para uma equipa para andar neste tipo de competições. Precisa de ser organizada, ir ao detalhe, ter jogadores de qualidade... Mas, neste momento, os dois plantéis são incomparáveis - isto já para não falar dos outros clubes do grupo -, mesmo sabendo que hoje em dia não há jogos fáceis", refere Orlando Sá, que depois de terminar a carreira enveredou pelo agenciamento de atletas, além de ainda fazer uma "perninha" como comentador da Eleven Sports, "um desafio pessoal", que serve para "partilhar um bocadinho do conhecimento" que foi adquirindo ao longo de uma carreira que passou por muitos países. "Às vezes até me esqueço de alguns", ri-se.

O Mourinho de Israel

Se o jogo da primeira volta em Lisboa é, em teoria, um desafio que os encarnados vão superar sem grandes problemas, Orlando Sá alerta para as dificuldades que o Benfica poderá encontrar na viagem a Haifa (e o clube lisboeta até já teve uma experiência desagradável em Telavive, quando perdeu 0-3 com o Hapoel local), "pelo ambiente no estádio de um clube que não vai à fase de grupos há largos anos": "O entusiasmo, por ser a primeira vez na última década que o clube tem esta oportunidade, terá de ser contrariado por um bom Benfica".

Outro dos artífices do ressurgimento do Maccabi Haifa é o seu técnico, Barak Bakhar. "É um treinador que joga um futebol moderno, sabe adaptar as equipas dele ao adversário. Na altura em que lá estive jogava em 4x3x3, se bem que a defender a equipa passava a 4x4x2. Conduziu o Hapoel Be'er Sheva aos anos de ouro do clube e foi mesmo duas vezes campeão. É bastante requisitado e com muito nome em Israel, podemos mesmo compará-lo ao José Mourinho na altura em que aparece no FC Porto, é o José Mourinho israelita", assinala o ex-jogador, acrescentando: "Em termos de resultados desportivos está muito à frente dos outros, o que ele conseguiu nos dois últimos clubes fala por si e não é para toda a gente. Lembro-me que ele preparava as suas equipas muito bem".

Para Orlando Sá, "o principal ponto fraco do Maccabi Haifa é a falta de experiência dos jogadores nas competições deste nível", sendo que a favor têm o facto de "o Benfica não conhecer tão bem a realidade israelita".

Miguel Vítor e o crescimento

No último fim de semana, o Maccabi Haifa triunfou por 2-1 em jogo da Ligat ha'Al, onde, tal como o Benfica em Portugal, está 100 por cento vitorioso ao fim de três jornadas. O adversário foi, curiosamente, o Hapoel Be'er Sheva, ex-clube do técnico e onde pontifica na sua sétima época o português, agora naturalizado (e internacional) israelita, Miguel Vítor (e também André Martins). Uma referência que Orlando Sá faz questão de elogiar: "Chegou no ano a seguir a eu ter lá estado no Maccabi Telavive e desde então fez um percurso incrível. Às vezes, por cá, devíamos enaltecer o que os jogadores portugueses fazem lá fora e o Miguel Vítor merece esse reconhecimento."

Sobre a qualidade do futebol de Israel, por onde já passaram também nomes como Adrien Silva, Ricardo Fernandes ou Rúben Micael, o antigo goleador considera estar a evoluir nos últimos anos mas com um problema: "Há melhor organização e jogadores mas o seu crescimento está limitado pelo número reduzido de jogadores estrangeiros que os clube podem contratar [atualmente são seis, sendo que só podem jogar cinco ao mesmo tempo]. Sem eles, que acrescentam qualidade, nome à liga, e visibilidade, vai ter sempre uma limitação. Apesar da Liga não ter a visibilidade de outros campeonatos periféricos, é uma prova com bastante competitividade e o jogador israelita é um jogador com qualidade, mesmo não sendo o mais regrado, disciplinado ou dedicado profissionalmente. Por isso, fazem falta jogadores com uma mentalidade diferente. Mas há muita competitividade entre clubes. E se não houvesse essa qualidade, os clubes não iam conseguir passar as eliminatórias e chegar à fase de grupos nas provas europeias".

De qualquer forma, Orlando Sá não se arrepende de ter passado por lá. "Adorei viver em Israel e a minha mulher ainda mais. Na altura, estive lá com as minhas filhas, que estudaram lá e gostaram muito do país. Ao contrário do que as pessoas pensam, Telavive é uma cidade extremamente segura, diria quase europeia. O Gal fala-me também muito bem de Haifa. Adaptei-me perfeitamente, Telavive é uma cidade incrível e recomendo que os portugueses a conheçam. Já a língua é outra história [risos], nem cheguei a tentar falar hebraico, que a par do chinês deve ser a língua mais difícil do mundo", finaliza.

De qualquer forma, Orlando Sá não se arrepende de ter passado por lá. "Adorei viver em Israel e a minha mulher ainda mais. Na altura, estive lá com as minhas filhas, que estudaram lá e gostaram muito do país. Ao contrário do que as pessoas pensam, Telavive é uma cidade extremamente segura, diria quase europeia. O Gal fala-me também muito bem de Haifa. Adaptei-me perfeitamente, Telavive é uma cidade incrível e recomendo que os portugueses a conheçam. Já a língua é outra história [risos], nem cheguei a tentar falar hebraico, que a par do chinês deve ser a língua mais difícil do mundo", finaliza.

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