Caso do beijo: Rubiales não se demite, governo quer suspendê-lo de imediato e MP investiga agressão sexual
O presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, reiterou esta sexta-feira a que não se vai demitir do cargo, depois de ter sido noticiado por vários meios de comunicação social espanhóis que iria apresentar a demissão, na sequência do beijo alegadamente não consentido que deu à internacional Jenni Hermoso.
O dirigente disse, perante a Assembleia Geral da RFEF, que o beijo "foi espontâneo, mútuo e consentido". "Tenho um ótimo relacionamento com todas as jogadoras e tivemos momentos muito carinhosos na concentração. No momento em que a Jenni apareceu, abracei-a e disse-lhe para esquecer o penálti, que fez um fantástico Mundial. Perguntei: 'um periquito?'. E aconteceu. Estão a fazer um assassinato social", afirmou.
"Os políticos referiram-se a esta ação como violência sexual, sem consentimento, agressão... estas pessoas estão a tentar assassinar-me publicamente e vou defender-me como todos os espanhóis, em tribunal. Tomarei medidas contra essas pessoas", reiterou, falando em "falso feminismo" que "não busca a verdade".
"Disseram-me para não me demitir e ser forte. Não me vou demitir! Não me vou demitir! Não me vou demitir! Um beijo consentido é para me tirar daqui? Vou lutar até ao final", atirou.
Rubiales, que foi eleito em maio de 2018, anunciou a decisão na assembleia-geral extraordinária da RFEF, que decorreu na sede do organismo, na Cidade do Futebol de Las Rosas, em Madrid.
Apesar de o dirigente se recusar demitir, o Conselho Superior do Desporto vai levar de imediato as queixas ao Tribunal Administrativo do Desporto, para que este suspensa Rubiales das suas funções, diz o As. Víctor Francos, secretário de Estado do Desporto, garantiu que as denúncias "são muito graves", o que significará que a decisão da suspensão surja rapidamente, não estando descartada a possibilidade que aconteça já esta sexta-feira.
Paralelamente, a denúncia de Miguel Galán, presidente do Centro Nacional de Formação de Treinadores de Futebol (Cenafe), contra Luis Rubiales foi admitida para tramitação pelo Ministério Público, por considerar que o beijo pode constituir crime de agressão sexual, indica também o As. Assim sendo, a Procuradoria de Madrid vai abrir um processo e enviá-lo para o Tribunal Nacional.
A polémica foi desencadeada pela polémica de domingo, em que Rubiales beijou a futebolista Jenni Hermoso, alegadamente sem consentimento da mesma, pouco depois de a seleção feminina espanhola ter conquistado o Mundial que decorreu na Austrália e na Nova Zelândia.
A reunião seguiu-se à petição feita pelas associações regionais do futebol espanhol, que manifestaram o apoio ao líder da RFEF.
Desde o incidente, Rubiales foi alvo de inúmeras críticas dos mais diversos quadrantes, desde o chefe do governo de Espanha, Pedro Sánchez, até várias figuras públicas e políticas, passando pela própria Jenni Hermoso, que, numa primeira fase, desvalorizou a situação, mas na quarta-feira recorreu ao sindicato das futebolistas espanholas (FUTPRO) para pedir sanções para Rubiales.
A Liga Profissional de Futebol Feminino (Liga F) apresentou igualmente uma denúncia ao Conselho Superior do Desporto, solicitando a inabilitação de Luis Rubiales, pelo "sujo e constrangedor comportamento".
Da mesma forma, a FIFA abriu esta quinta-feira um inquérito disciplinar ao presidente da RFEF, considerando que os factos "podem constituir uma violação das alíneas 1 e 2 do artigo 13 do código disciplinar" do organismo, aludindo ao facto de a conduta poder "prejudicar a dignidade ou integridade" de uma pessoa, em razão do seu sexo.
O gesto de Rubiales teve enorme repercussão e nas redes sociais surgiram outras imagens de críticas ao dirigente, que, um pouco antes, ainda na tribuna do estádio de Sydney, se agarrou aos genitais a celebrar o triunfo, a poucos metros da rainha Letizia e da filha.