Luís Filipe Vieira: "É revoltante a pressão que fazem"
"Todos nós temos de estar unidos e pensar que é possível lá chegar. Só pode haver um responsável, sou eu. Na hora da derrota não vale a pena procurar fantasmas, sou eu", disse Luís Filipe Vieira na entrevista à Btv.
Sobre o descontentamento em relação ao treinador, Vieira recorda que houve adeptos que queriam a saída de Jorge Jesus após a perda do campeonato para o FC Porto na derrota aos 92 minutos, em 2013, e que depois obteve vários títulos.
"Logicamente que tem de continuar e cumprir o contrato. Toda a gente dizia que era o melhor treinador para o Benfica. Depois de ir ao Brasil [contratar Jesus] toda a gente, até das outras listas, defendiam o Jorge Jesus", afirma.
Depois de ter realçado a importância da estabilidade, desabafou: "É revoltante a pressão que fazem, este clube não pode ser vivido assim. Temos de estar unidos na derrota e na vitória, se não levam-nos de volta ao passado."
Mais à frente voltou a insistir no tema do descontentamento e das críticas que o presidente e a equipa técnica tem recebido. "É uma falta de respeito, para não dizer uma pulhice que fazem, a mim não que sou uma rocha, mas ao clube. Tentam denegrir-nos, um programa de [TV de] duas horas e meia a esfarrapar, a partir o Jorge Jesus. Quando ele estava no Brasil bajulavam-no."
Continuou: "Não me façam falar, isto não é para ser assaltado. A mim não me assustam, aquilo que faço pelo Benfica é por paixão. O que vier a seguir a mim, a família não tem descanso e vai passar por ladrão."
Para o presidente do Benfica o principal fator para os maus resultados foi a pandemia. "Que não sirva de desculpa a ninguém, o Jorge até se emocionou, e sei o que se passa naquela casa. Na semana em que tentámos adiar o jogo com o Nacional foi uma tempestade perfeita, 27 casos de covid", disse. Confidenciou também que o presidente do Nacional só aceitaria o adiamento da partida caso o Benfica emprestasse Diogo Gonçalves.
Para Vieira, o mês de janeiro foi a "componente principal" pelos insucessos, mas também reconheceu "situações de culpa".
"A única coisa que os benfiquistas não devem fazer é minimizar" a covid, e deu o seu exemplo, quando antes subia as escadas a correr e agora ainda não consegue: "Não está tudo resolvido, se não está para mim não está para os atletas. Os jogadores não corriam mais de 7 quilómetros quando antes corriam 11, 12 quilómetros. Quando não se pode, não se pode. Não é uma desculpa, é uma realidade. Tirando os lares nunca vi um caso assim."
O peso da covid já não é tão grande: "Aquilo que era a tal sombra está a aliviar bastante. Há jogadores agora a correr 10 quilómetros."
Sobre outros fatores, Vieira não quis alongar-se sobre a arbitragem, mas acabou por dizer que não sabe como é que o VAR não viu os penalties no jogo com o Moreirense, e adiantou depois que escreveu uma carta ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol para que no final da época se façam uns estados gerais sobre o futebol e lembrou que antes da introdução do VAR este era sentido como uma necessidade para resolver as controvérsias à volta da arbitragem, mas a tecnologia não foi solução. "O VAR complicou."
Também se referiu sobre a ausência do chamado "12.º jogador": "Esse público arrastava a equipa para as vitórias. Faz-nos muita falta o público nos estádios e não é só nos estádios, mas fora deles, influencia o comportamento dos jogadores."
Sobre a política de contratações disse que "há sintonia entre todos", ou seja, entre a SAD e a equipa técnica, e deixou um rasgado elogio a Rui Costa, sobre o qual informou trabalhar sem ordenado.
Três figuras do Benfica (Toni, Carlos Manuel e Bagão Félix) perguntaram sobre o ziguezague quanto à estratégia na aposta da formação. Vieira defendeu-se, tendo dito que "não é dono do clube" e que sabe ouvir e depois tomar as decisões, pelo que neste ano a aposta foi numa "mescla de experiência com juventude", com contratações de jogadores internacionais, à exceção de Gilberto.
"Se alguém aposta na formação sou eu. É ali que temos de investir. O Seixal é a menina dos meus olhos", afirmou, tendo lamentado as pressões recebidas para as saídas de Rui Vitória e de Bruno Lage, treinadores associados à promoção dos jogadores da formação.
A entrevista de Luís Filipe Vieira, de 71 anos, dá-se por ocasião do 117.º aniversário do Sport Lisboa e Benfica, e numa altura em que a equipa principal de futebol se encontra mergulhada numa crise de resultados e de exibições.
A somar aos fracos resultados, o descontentamento dos sócios e adeptos tem sido patente com a direção, com cartazes a surgirem por todo o país em oposição à direção de Luís Filipe Vieira.