Constantino e o número apurados para Paris 2024: "Está ligeiramente abaixo do que era estimável"

Presidente do Comité Olímpico de Portugal falou dos problemas de literacia motora e desportiva que podem atrasar o desenvolvimento do Desporto em Portugal. "Temos uma elite muito curta", lamentou.
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O presidente do Comité Olímpico de Portugal assumiu esta quarta-feira que o número de atletas apurados para Paris 2024 está "ligeiramente abaixo do que era estimável" e mostrou-se apreensivo por a missão nacional ter "uma elite muito pequena". "Por um lado, temos tido, neste percurso até aos Jogos, um conjunto de sinais muito positivos do ponto de vista dos resultados desportivos. Nós tivemos, no ano anterior, em modalidades olímpicas, cinco campeões do mundo. Não é brincadeira. Mas, ao mesmo tempo, o meu receio é sempre o mesmo: nós temos uma elite muito curta, muito pequena. Basta que aconteça qualquer coisa a este ou aquele atleta e lá se vão os resultados que eram expectáveis e não conseguem ser concretizados", notou.

José Manuel Constantino respondia assim a uma questão sobre as suas expectativas para os próximos Jogos Olímpicos, depois de ter sido distinguido com o doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa, numa cerimónia que decorreu hoje na Faculdade de Motricidade Humana, em Oeiras.

"Neste momento, a principal preocupação do COP é ter uma base mais confortável de atletas apurados [tem 21 quotas garantidas]. Essa é a nossa maior preocupação, porque, nesta altura, estamos ligeiramente abaixo do que era estimável. Resolvido esse problema, temos naturalmente depois de tratar da elite dos resultados", reconheceu.

O presidente do Comité Olímpico de Portugal gostaria que aquelas modalidades em que Portugal tem tido "resultados de topo", como o tiro com armas de caça, a canoagem ou o ciclismo, consigam confirmar essas performances em Paris 2024. "Também importante, a preparação está a correr bem. Não falta aquilo que é necessário para a preparação. Os atletas estão a estagiar onde entendem dever estagiar, estão a ser acompanhados por quem entendem dever ser acompanhados, e, portanto, do ponto de vista das condições que são oferecidas aos atletas para a sua preparação desportiva, tudo está a ser cumprido. Oxalá, depois também os resultados cumpram este desiderato", elencou.

"Honrado e grato". José Manuel Constantino recebeu hoje a atribuição do título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Lisboa. "Recebo esta homenagem na casa onde me graduei em 1975, muito honrado por tão elevado galardão, justificado muito mais pela vossa generosidade do que pelos meus méritos", disse o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP).

Numa cerimónia, presidida pelo Presidente da República, que concentrou individualidades do passado e presente do desporto nacional na Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa, em Oeiras, José Manuel Constantino descreveu o momento como sendo de "alegria" e depois de agradecer a Marcelo Rebelo de Sousa "o carinho" demonstrado.

"Uma alegria partilhada com todos os que acompanharam o meu percurso académico, profissional e desportivo, mas é também um ato carregado de enorme responsabilidade figurar na galeria de personalidades notáveis e nomes incontornáveis da nossa história a quem a Universidade de Lisboa atribuiu este grau, nomeadamente perante o Presidente da República do meu País, que saúdo e a quem penhoradamente agradeço a presença", disse.

Constantino confessou que chorou de emoção ao saber que lhe iria ser entregue o doutoramento Honoris Causa, numa escola onde fez "muitas tropelias" e por ainda "ter condições de a receber", devido aos problemas de saúde que tem enfrentado e que o obrigaram a apresentar-se em cadeira de rodas. "Eu estou numa situação pessoal muito fragilizada. Eu saí há duas horas do hospital e vou ter de regressar. Esse facto quebra-me emocionalmente. Qualquer coisa que me digam ou evoquem tem enorme emoção. Choro com facilidade. As palavras dele estão um pouco nesta linha, na linha de quem me tocou do ponto de vista emocional, da minha sensibilidade", referiu.

O contexto que está a viver neste momento, "numa situação de saúde crítica", fez com que Constantino ouvisse as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, que presidiu à cerimónia, "com um ânimo, como uma ajuda, como algo que alguém que está a viver o que eu estou a viver gosta de ouvir", concluiu.

No seu discurso, o mais alto dirigente do desporto português não esqueceu os problemas da situação desportiva nacional, "particularmente vulneráveis a um conjunto de ameaças que, de há longa data, enfermam o seu processo de desenvolvimento", notando que "o progresso, em diversos fatores de desenvolvimento, não se reflete no crescimento sustentado dos indicadores desportivos de referência", o que deve ser "motivo de preocupação e reflexão".

Para José Manuel Constantino, o desporto enfrenta "um futuro com elevado grau de complexidade", no qual pontificam desafios como a demografia ou "o défice de dados, informação e investigação atualizada". "Os problemas de literacia motora e desportiva, expressos na situação desportiva nacional, expõem a necessidade de construir uma matriz conceptual para o desporto, em Portugal. O desporto entendido como um bem público, cujos enormes benefícios se estendem bem para além do indivíduo que pratica [...]. Também, por isso, serei devedor de um tributo e passo agora a ter uma enorme responsabilidade: o de estar à altura de saber honrar esta distinção", concluiu.

Presidente do COP desde 2013, Constantino, que nasceu em 21 de maio de 1950, em Santarém, e licenciou-se em Educação Física no Instituto Superior de Educação Física, tem um longo percurso ligado ao desporto, mas também à administração pública.

Entre os cargos exercidos, destacam-se a presidência da Confederação do Desporto de Portugal, entre 2000 e 2002, a presidência do Instituto do Desporto de Portugal, entre 2002 e 2005, e, por inerência, a presidência do Conselho Nacional Antidopagem e a presidência do Conselho Nacional Contra a Violência no Desporto.

"Estamos perante uma pessoa invulgar pelo seu talento, rigor, responsabilidade, capacidade de liderança e um ser humano com grande grandeza nos princípios éticos, profissionais e relacionais", realçou Carlos Neto, responsável pelo Elogio a José Manuel Constantino, na cerimónia do 'Honoris Causa'.

Amigo e antigo colega do presidente do COP, definiu o homenageado como "uma figura de prestígio nacional", decisiva na evolução do desporto português, mas também "uma personalidade sensível e segura", com um "poder notável de empatia num mundo cada vez mais apático".

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