Gana, um país parado à espera de uma vingança
Os ganeses estão muito entusiasmados com o Mundial 2022 e consomem futebol 24 horas por dia. Desde que a equipa se concentrou para a prova "o país parou" e só fala de futebol, sem esconder o entusiasmo à volta da seleção. "Tenho falado com muitos amigos e dirigentes do Gana e a expectativa é de que irão considerar um fracasso tudo o que seja menos do que chegar às meias-finais", atirou o português Mariano Barreto, que em 2004 orientou a seleção do Gana, adversária de Portugal no primeiro jogo (quinta-feira, às 16.00).
Os Campeões africanos em 1963, 1965, 1978 e 1982 conciliam disponibilidade física com qualidade técnica, na opinião do antigo selecionador: "O Gana praticará um futebol muito objetivo, com a finalidade de tentar jogar muito próximo da baliza portuguesa. É contra isto que certamente a nossa seleção vai ter de se preocupar. Eles não querem saber da posse, mas atacar e fazer golo quando ganham a bola."
Quando o sorteio colocou a seleção portuguesa no grupo dos ganeses, o jornalista português Pedro Cid, que vive no Gana, esperava por uma "avalanche de entusiasmo com Cristiano Ronaldo", até porque os ganeses são "consumidores acérrimos" de futebol inglês e Portugal tem muitos jogadores na Premier Legaue. Em vez disso percebeu que "só falavam do Uruguai e de como esperam vingar essa eliminação nos quartos-de-final do Mundial 2010", que os impediu de chegar às meias.
Segundo o jornalista que narra os jogos do Qatar 2022 em português para o continente africano através da Super Sport, só agora, mais próximo da estreia, é que começaram a pensar em Portugal e na importância de vencer o primeiro jogo. Segundo Pedro Cid, o povo ganês é capaz de fazer milagres no dia a dia e a seleção é um espelho dessa mentalidade: "Se Portugal marcar primeiro, eles vão ter dificuldade em reagir. Para evitar sofrer um golo cedo a estratégia pode passar pela marcação cerrada a Bernardo Silva e Bruno Fernandes, fazendo-se depois valer da velocidade e do porte físico para incomodar os portugueses e sem medo de meter o pé."
Para os ganeses, Portugal é lembrar esse duelo do Mundial 2014, quando os jogadores ameaçaram boicotar o jogo, exigindo receber o prémio de participação em dinheiro vivo. Um escândalo de dimensão mundial que obrigou o presidente da federação a voar para o Brasil com 2,2 milhões de euros numa mala. "Ainda hoje se sentem de alguma forma envergonhados pelo que se passou. Preferem esquecer e, até com os jornalistas que estiveram presentes, desviam o assunto", explicou Cid, recordando, que, para evitar que a cena se repita, jogadores, treinadores e dirigentes assinaram um código de conduta para o Qatar 2022.
A pior participação da história (em 23 ocasiões) na CAN, em janeiro, obrigou a federação ganesa a repensar o projeto e a fazer mudanças radicais. A começar pelo convite ao selecionador Otto Addo, que não tinha experiência como técnico principal, mas tinha trabalhado na prospeção do B. Dortmund e Mönchengladbach, e sabia que havia jogadores nascidos fora do Gana cujo potencial estava a ser ignorado. Caso de Iñaki Williams, a "maior estrela do momento", que nasceu em Espanha e joga no Athetic Bilbao (o irmão, Nico Williams vai representar a Espanha).
O Gana tem hoje oito naturalizados entre os 26 , em que se destacam Daniel Amartey (Leicester), Thomas Partey (Arsenal) e Mohammed Kudus (Ajax), e os irmãos Jordan Ayew (Crystal Palace)e o capitão André Ayew (Al-Sadd), e o benjamim Fatawu Issahaku (Sporting), cujos 18 anos ajudam o Gana a ser a seleção com a menor média etária presente no Qatar (24,7 anos).
A recente vitória sobre a Suíça (2-0) num jogo de preparação é o exemplo de quanto a equipa evoluiu, apesar de terem ficado sem o guarda redes titular (Joe Wollacott) por lesão.
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