Superliga. FC Porto e Sporting contra, Figo fala em ganância e Boris Johnson quer impedi-la
O presidente do FC Porto, Pinto da Costa, reagiu esta segunda-feira à embrionária Superliga Europeia de futebol, afirmando que o clube não deu "grande atenção", porque vai contra as normas da União Europeia e da UEFA.
"Primeiro, a União Europeia não permite que haja um circuito fechado de provas como há na NBA e, segundo, estando a nossa federação contra e fazendo parte da UEFA, ao abrigo desse quadro, não podemos participar em algo que é contra as regras da União Europeia e da UEFA", disse Pinto da Costa.
O líder portista, que admitiu terem existido alguns contactos informais de alguns clubes sobre a matéria, colocou ainda em dúvida que o projeto anunciado por 12 clubes vá para a frente. "Estamos na Liga dos Campeões e esperamos continuar a estar por muitos anos", adiantou o líder dos dragões, apontando o exemplo de alguns clubes de topo europeu, como o Bayern Munique, Ajax e Paris Saint-Germain, que estão fora do projeto.
Também Frederico Varandas, presidente do Sporting, assumiu-se contra a Superliga europeia, por ser contrária aos princípios de mérito que devem existir na modalidade.
"Com a informação recolhida até ao momento, esta Superliga vai contra todos os princípios democráticos e de mérito que devem imperar no futebol", afirmou Frederico Varandas, em resposta à agência Lusa.
Também o Benfica se mantém contra a criação de uma Superliga europeia, confirmou à Lusa fonte oficial dos encarnados, que recordou a posição defendida pelo clube, em novembro de 2020, pelo administrador da SAD Domingos Soares de Oliveira, em entrevista ao portal Off the Pitch, reconhecendo que um convite para a integração seria difícil de recusar. "A minha opinião é contrária, mesmo que o Benfica fosse um dos clubes representados na SuperLiga europeia. Se acontecer [o convite] quase nem é preciso pensar, mas preferia que não acontecesse", disse, na altura, Domingos Soares de Oliveira.
No domingo, AC Milan, Arsenal, Atlético de Madrid, Chelsea, FC Barcelona, Inter de Milão, Juventus, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Real Madrid e Tottenham "uniram-se na qualidade de clubes fundadores" da Superliga, indica um comunicado enviado à AFP. "A época inaugural (...) iniciar-se-á o mais brevemente possível", informam os subscritores do comunicado, sem precisar qualquer data, adiantando que a nova competição pretende "gerar recursos suplementares para toda a pirâmide do futebol".
Os promotores da Superliga adiantam que a prova será disputada por 20 clubes, pois, aos 15 fundadores - apesar de terem sido anunciados apenas 12 -, juntar-se-ão mais cinco clubes, qualificados anualmente, com base no desempenho da época anterior. A época arrancará em agosto, com dois grupos de 10 equipas e os jogos, em casa e fora, serão realizados a meio da semana, mas todos os clubes participantes continuarão a disputar as respetivas ligas nacionais.
O comunicado dos 12 clubes surge no mesmo dia em que a UEFA reafirmou que excluirá os clubes que integrem uma eventual Superliga europeia de futebol, e que tomará "todas as medidas necessárias, a nível judicial e desportivo" para inviabilizar a criação de um "projeto cínico".
O antigo futebolista internacional português Luís Figo criticou entretanto a "ganância" dos 12 clubes que anunciaram domingo querer formar uma Superliga europeia, uma competição que "não tem nada de super".
"Esta medida gananciosa e insensível traria o desastre para o futebol de formação e desenvolvimento, para o futebol feminino, e para a comunidade futebolística no geral", escreveu o antigo futebolista na rede social Twitter.
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Figo, que jogou em três dos 12 clubes proponentes, o Inter Milão, o Real Madrid e o Barcelona, descreve o torneio como algo que serve "apenas donos interessados em si mesmos, que pararam de pensar nos adeptos há muito, com total desrespeito pelo mérito desportivo".
O antigo futebolista usou ainda a palavra "trágico" para descrever a situação, antes de partilhar uma fotografia com uma tarja da UEFA que diz: "Nós queremos saber de futebol".
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já veio dizer que vai fazer "tudo o que puder" para impedir a criação da Superliga europeia de futebol, anunciada domingo e que inclui seis equipas inglesas.
"Vamos analisar tudo o que podemos fazer com as autoridades do futebol para garantir que a Superliga não aconteça como está planeada. Isto não é uma boa noticia para os adeptos nem para o futebol deste país. Não gosto da aparência desta proposta e farei tudo o que puder para que não aconteça", afirmou Boris Johnson aos jornalistas ingleses.
Além do primeiro-ministro, no Reino Unido várias vozes já se mostraram contra o projeto da Superliga, desde pessoas ligadas à política, como antigo jogadores e adeptos dos seis clubes ingleses envolvidos (Manchester United, Chelsea, Arsenal, Tottenham, Manchester City e Liverpool).
A Associação Internacional de Futebolistas Profissionais (FIFPro) manifestou preocupação com o possível impacto da criação de Superliga europeia, e lamentou que os jogadores sejam ignorados nas negociações e ameaçados de exclusão das seleções dos seus países.
"A chegada do futebol europeu a este ponto de possível rutura é reflexo de uma governação na qual alguns tem usufruído de demasiados poderes, e grupos como os jogadores, e os adeptos têm sido ignorados", refere a FIFPro, em comunicado.
A associação considera que as ameaças "de uma competição separada e as posteriores concessões para reformar as competições europeias condicionaram a tomada de decisões durante anos", e entende que esta decisão de alguns clubes "substitui os debates transparentes e inclusivos sobre a reforma das competições".
"Os jogadores continuam a ser usados como ativo e alavanca nas negociações. Isto é inaceitável para a FIFPro, para as 64 associações nacionais e mais de 60.000 jogadores que representamos", refere o comunicado, acrescentando: "Opomo-nos totalmente a medidas, de qualquer das partes, que retirem direitos aos jogadores, como, por exemplo, a sua exclusão das seleções".
O organismo manifesta-se disponível para trabalhar com todas as partes interessadas na tomada de decisões que "apoiem o futebol a todos os níveis e reparem os seus problemas atuais, tendo em conta os interesses dos jogadores e de toda a indústria".
"O futebol baseia-se num património social e cultural único, e para que este se mantenha é fundamentam uma cooperação sã e solidária entre as competições nacionais e internacionais. Uma nova competição que prejudique estes princípios pode causar danos irreparáveis", considera a FIFPro.