Ex-árbitros justificam erros com protocolo do videoárbitro

Pedro Henriques pede que juízes possam rever lances em caso de dúvida. Marco Ferreira quer jogadas reavaliadas na totalidade
Publicado a
Atualizado a

Decorrido praticamente um terço do campeonato, o videoárbitro (VAR) está cada vez mais na ordem do dia (a jornada deste fim de semana foi fértil em críticas apontadas por vários clubes). Dirigentes, treinadores, jogadores e adeptos não entendem o porquê de decisões erradas terem sido ratificadas, mesmo com recurso às imagens televisivas.

A contestação tem subido de tom, mas, para os ex-árbitros Pedro Henriques e Marco Ferreira, o balanço é positivo, embora admitam que a tecnologia não está a ir ao encontro das expectativas. "Se nos focarmos em lances que de outra forma teriam sido mal ajuizados, mas que foram corrigidos, o saldo é extremamente positivo. Mas se nos focarmos em lances em que o árbitro teve decisões erradas e o VAR não corrigiu, aí as pessoas questionam a intervenção do videoárbitro", considera Pedro Henriques, atual comentador televisivo. "O VAR foi vendido como uma fórmula milagrosa, e as expectativas estavam muito elevadas. O VAR não vai resolver os problemas da arbitragem nem eliminar todos os erros, e, embora seja muito positivo para a verdade desportiva, não está a ser visto dessa forma", corroborou o ex-juiz madeirense Marco Ferreira, 40 anos.

VAR não pode chamar à atenção

As falhas a que se tem assistido, para Pedro Henriques, devem-se às limitações do protocolo e à falta de estatuto de quem está no papel de videoárbitro. "Este é um processo pioneiro, a dar os primeiros passos em Portugal, e que está a acusar dores de crescimento. O protocolo do VAR não contempla dúvidas porque tem de haver plena certeza de que a decisão foi claramente errada. A minha crítica vai para esse aspeto. Há situações em que o VAR pode não ter a certeza, mas deveria chamar à atenção para o árbitro rever o lance. Falta permitir que o árbitro possa ver as imagens por indicação do VAR. Com as limitações do protocolo, o VAR agarra-se à premissa de que só deve intervir quando for claro", afirmou o oficial do exército, que defende a presença de ex-árbitros no papel de VAR.

Desautorização e desgaste

"Coloca-se muita responsabilidade no VAR, mas se o árbitro for internacional e o VAR não, em termos emocionais não é fácil desautorizar quem tem estatuto superior. Defendo que há vantagem em ter ex-árbitros como VAR, porque é necessária grande experiência e estar à vontade para lidar com um árbitro internacional. E sou insuspeito para falar sobre isto, porque não estou disponível e quero continuar pela comunicação social", explicou Pedro Henriques, retirado em 2010. "Também há a limitação de o VAR ir para o campo apitar as equipas, o que os desgasta duplamente. O presidente do Sp. Braga [António Salvador] colocou em causa o árbitro Rui Costa, porque foi VAR no jogo frente ao Sporting realizado no domingo em Alvalade e tinha sido árbitro no jogo anterior do Sporting em casa [frente ao Desportivo de Chaves]. O lote é só de 23, não dá para mais", reforçou.

Falta revisão total das jogadas

"É um sistema que veio para ficar, se bem rentabilizado. Mas há que lidar com calma com um sistema que é novo [foi incrementado esta temporada pela Federação Portuguesa de Futebol em todos os jogos da I Liga]. Temos visto situações em que, sendo bem utilizado, teríamos eliminado o erro. Num lance de grande penalidade, tal como num golo, toda a jogada tem de ser analisada. É o que está no protocolo, mas têm existido situações em que isso não acontece", esclareceu Marco Ferreira, clarificando que situações em que um golo ou a marcação de um penálti são anulados por uma falta no início da jogada não são repescadas, mas sim corretas.

"O protocolo não foi todo esclarecido, essa informação não passou para a opinião pública", aditou o árbitro retirado há dois anos. "É igualmente necessária uma formação adequada", reiterou.

Áudios geridos com pinças

No início da temporada, o Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tomou a iniciativa de divulgar alguns dos registos áudio das comunicações entre árbitro e videoárbitro. Contudo, hoje são os clubes - Belenenses, Benfica e Sp. Braga fizeram-o nos últimos dias - a exigir a divulgação das comunicações em lances controversos.

Para a dupla de ex-árbitros contactada pelo DN, a postura federativa não pode ser reativa. "Acho que o Conselho de Arbitragem e a FPF não podem andar a reboque, têm de ser proativos. O próprio CA deve olhar para os diversos casos que suscitam dúvida e ir publicando-os ciclicamente e de forma igual, para não ferir suscetibilidades", considera Pedro Henriques. "Publicar os áudios numa fase tão embrionária foi uma decisão errada do CA. Quando opta por mostrar, está a abrir caminho. Não faz sentido. Admito que os clubes que pedirem possam ter acesso, mas só nas instalações da FPF. Publicamente, as pessoas iriam ter emoções provocadas pela clubite", frisou Marco Ferreira.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt