Didier Deschamps não teve vida fácil para encontrar o seu onze ideal neste Europeu. O selecionador gaulês foi fazendo várias alterações até encontrar o sistema que melhor se adapta às características dos seus jogadores, o que só sucedeu na segunda parte do jogo com a Rep. Irlanda nos oitavos-de-final, quando a equipa conseguiu dar a volta à desvantagem com que chegou ao intervalo. Três jogos e meio foi assim a conta que Didier fez até encontrar a fórmula da poção mágica que levou os bleus até à final - que é como quem diz, um sistema em que Griezmann, em vez de desterrado num flanco, surge solto atrás e ao redor de Giroud (um pouco como Jonas faz no Benfica), e dois médios que tanto defendem como atacam com a mesma facilidade (Pogba e Matuidi) em vez de três (com N"Golo Kanté mais recuado) que andam a pisar os espaços uns dos outros..Foi assim na partida inaugural frente à Roménia. Griezmann e Pogba acabaram por ser "sacrificados" durante o encontro e o golo do triunfo só surgiu do génio de Payet no segundo minuto da compensação. Na ronda seguinte, perante a Albânia, o técnico "castigou" os dois craques, que colocou no banco, e fez a primeira aposta no 4x2x3x1, com Payet a jogar a 10 e Coman e Martial nas alas. Ainda assim, a coisa não foi exatamente bem-sucedida: a França ganhou, por 2-0, mas marcou o primeiro aos 90 minutos e o segundo ao sexto minuto dos descontos, quando os dois "castigados" já estavam em campo e o 4x3x3 regressado: Griezmann, aliás, foi o autor do golo que desfez a igualdade..Com a equipa já qualificada, o técnico optou por rodar o onze frente à Suíça. Ainda no 4x3x3, com Cabayé em vez de Kanté e Sissoko numa posição mais interior, os bleus não saíram do 0-0 - mas, diga-se, acertaram duas bolas nos ferros..O susto que tudo muda.Chegam então os oitavos. A Rep. Irlanda, apesar da entrega dos seus jogadores, parece um adversário fácil, mas marca bem cedo, de penálti, e é assim que o jogo chega ao intervalo. Já com um amarelo, Kanté fica nas cabinas, entra Coman para a direita e Griezmann flete para o apoio direto a Giroud. E é aí, em Lyon, que tudo muda: as movimentações do dianteiro do At. Madrid confundem a defesa contrária e este acaba por marcar duas vezes, primeiro de cabeça, depois após Giroud ganhar um confronto aéreo que o deixa com o caminho livre. O futebol francês torna-se mais fluido, como comprovaria a Islândia na partida dos quartos-de-final. Entrando de início no tal 4x2x3x1, os bleus marcam quatro vezes na primeira parte - um deles em mais uma excelente colaboração Giroud-Griezmann pela zona central - e na segunda ainda acrescentam mais um, mas também sofrem os dois primeiros golos sem ser de penálti. Apesar disso, Deschamps mantém essa linha defensiva e o sistema para a Alemanha: Lloris na baliza, Sagna à direita e Evra à esquerda, com Koscielny acompanhado por Umtiti, que "roubou" o lugar a um Rami que pareceu sempre ser o elo mais fraco (ou mais lento...) do setor..E perante um adversário do mesmo nível, a França leva a melhor. Não que tenha feito uma exibição de encher o olho. Mas soube aproveitar os erros contrários e contou com um Lloris em grande momento. A passagem à final foi conseguida com mérito, até porque o conjunto de Deschamps vai chegar ao jogo decisivo como o ataque mais realizador da prova (13 golos, seis de Griezmann, o primeiro jogador pós-Platini a passar a barreira dos cinco remates certeiros), a terceira equipa mais rematadora (103) e a segunda que mais vezes acertou na baliza (36, as mesmas de Portugal).