"É verdade, tinha medo de andar de avião e de aterrar na Madeira"

Tiago, antigo médio de Benfica e FC Porto, recorda a polémica quebra de contrato com o Marítimo que o levou para a Luz. Aos 42 anos, espera fazer algo ligado ao futebol
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Tiago era um médio raçudo, conhecido por não dar nenhuma bola por perdida. Chegou a representar o Benfica e o FC Porto e nos dragões ganhou o campeonato, a Taça UEFA e a Taça de Portugal na época de 2002-03. Deixou os relvados em 2015, aos 40 anos, de novo ao serviço do Trofense.

Hoje, confessa ao DN que está à espera de um novo desafio, de preferência ligado ao futebol. "Não tenho feito grande coisa. Vejo jogos de futebol e essencialmente aproveito para passear com a minha filha e continuo a praticar desporto. Jogo futebol e futsal todas as semanas", revela, acrescentando. "Estou a aguardar, vamos ver o que pode acontecer ligado ao futebol, mas para já não tenho nada no horizonte. Uma coisa é certa, não ambiciono ser treinador", garante.

Aos 17 anos, Tiago já era titular no Trofense, na II Divisão B. "Na altura, sabia que estava a ser observado por Famalicão e V. Guimarães e acabei por optar pelo Famalicão, que na altura estava na I Divisão", revela. A estreia no escalão maior surgiu na temporada de 1993-94, com 18 anos, e dificilmente poderia ter corrido melhor. "Foi inesquecível, num empate a zero nas Antas. Além do bom resultado, estive bem individualmente e lembro-me de que fui muito elogiado nos jornais. Aliás, tenho os recortes dos meus jogos guardados em casa e ainda há pouco tempo encontrei o desse jogo", diz.

O jovem médio parecia talhado para altos voos e só aguentou duas épocas no Famalicão, tendo-se depois transferido para o Marítimo, onde garante ter sido muito feliz, a ponto de despertar o interesse do Benfica. A sua mudança para o clube da Luz, na segunda metade da época de 1996-97, foi bastante polémica - rescindiu o contrato alegando justa causa por um motivo que deu muito que falar.

A Comissão Arbitral Paritária começou por aceitar a sua argumentação, mas o clube madeirense conseguiu depois ganhar o processo no Tribunal do Trabalho. Uma das razões invocadas para a rescisão do contrato foi o medo de aterrar na estreita pista do aeroporto da Madeira. "É verdade, tinha mesmo medo de andar de avião e de aterrar na Madeira, não foi algo inventado apenas para obter a justa causa", garante ao DN, 21 anos depois.

A estreia no Benfica voltou a ser diante do FC Porto, "numa vitória marcante por 3-1, a contar para as meias-finais da Taça de Portugal". Tiago descreve a sua passagem de um ano e meio na Luz como "curta mas marcante" e não esquece Amaral, o brasileiro com quem fez melhor dupla no meio-campo ao longo de toda a carreira. "Tínhamos características idênticas e éramos considerados pelos adeptos como "jogadores à Benfica", pelo facto de não darmos uma bola por perdida. Foram bons tempos", reconhece, lamentando "o período conturbado que o clube atravessava, com muitas mudanças de treinadores, jogadores e até a nível da direção", o que tornou "muito complicado ter sucesso". Na altura, viveu o início da era Vale e Azevedo, mas pouco tem a dizer sobre o ex-presidente: "Os jogadores não tinham convivência com ele, dificilmente entrava no balneário e só dizia bom dia ou boa tarde."

Ganhou tudo no FC Porto

Depois de 16 jogos como titular no Benfica em 1997-98, Tiago mudou-se para Espanha, onde representou o Rayo Vallecano e o Tenerife, ambos do segundo escalão. Seguiu-se a União de Leiria, levado pelo treinador Manuel José, que já o tinha orientado no Benfica. Confessa que foi muito feliz no Lis, onde também trabalhou com José Mourinho, que na altura estava no início da carreira. "Já dava para perceber que era muito especial, nomeadamente pela forma como lidava com os jogadores e valorizava o grupo, pois para ele todos eram importantes, desde as grandes estrelas aos não convocados." E foi precisamente pela mão de José Mourinho que chegou ao FC Porto, na inesquecível temporada de 2002-03, em que os dragões conquistaram o campeonato, a Taça UEFA e a Taça de Portugal, com Tiago a cumprir 32 jogos oficiais. "Ganhámos tudo o que havia para ganhar. Na Taça UEFA o grande mérito foi de Mourinho, que nos fez acreditar que seria possível chegar à final, embora pensando sempre jogo a jogo." O antigo médio elogia também Pinto da Costa, "um presidente sempre presente e que estava constantemente a assistir aos treinos, nem que fosse 10 ou 15 minutos, transmitindo muitas palavras de conforto ao grupo".

Entre 2004 e 2007 representou o Boavista e regressou depois a Leiria, onde esteve entre 2007 e 2009. Aos 34 anos, voltou ao Trofense, onde tudo tinha começado. E se na altura lhe dissessem que só deixaria de jogar aos 40, não acreditaria. "Como consegui chegar até tão tarde? Essencialmente devido à paixão pelo futebol, independentemente da divisão em que estava [deixou os relvados no final da época de 2015-2016, competindo no Campeonato de Portugal]. Tive ainda a sorte de não ter tido qualquer lesão grave e de sempre ter levado uma vida regrada", sublinha. Nunca foi um goleador, mas curiosamente a sua época mais produtiva foi a última, ao marcar três golos nos 28 encontros que realizou.

Sobre a fama de jogador duro, o ex-médio reconhece que esse epíteto "era verdadeiro, mas no bom sentido, pois era uma agressividade sem maldade". Ainda assim, não deixa de reconhecer que alguns adversários "tinham medo de meter o pé" quando disputavam bolas com ele.

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