Djokovic foi libertado e já treinou. Mas a novela ainda não terminou

Juiz ordenou libertação do número 1 mundial. Mas ministro da Imigração vai analisar caso e tem poder para deportar o tenista. Família fala em maior vitória da carreira.
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Uma meia vitória de Novak Djokovic na novela em que se tornou a sua participação (ou não) no Open da Austrália. Um juiz australiano ordenou ontem a libertação do tenista que estava retido desde quinta-feira num centro de detenção em Melbourne após o seu visto ter sido revogado por não estar vacinado contra a covid-19.

Aparentemente, este podia ser o passo que faltava para Djokovic ser autorizado a participar no Open da Austrália, que arranca no dia 17. Mas ainda falta mais uma questão. Isto porque, contam os media australianos, o ministro da Imigração, Alex Hawke, tem o destino do jogador nas mãos, uma vez que depois de analisar a decisão do tribunal tem o poder para voltar a cancelar o visto de Djokovic. Se tal acontecer, o tenista tem de ser repatriado e fica impedido de entrar na Austrália durante três anos.

Certo é que ontem, mal saiu a decisão do tribunal, Djokovic deixou o centro de detenção e foi diretamente para Melbourne Park para se treinar. O anúncio foi feito pelo próprio nas redes sociais, num texto devidamente ilustrado com uma fotografia num court ao lado de elementos da sua equipa.

"Estou feliz e grato que o juiz tenha anulado o cancelamento do meu visto. Apesar de tudo o que aconteceu na última semana, quero ficar e tentar competir no Open da Austrália. Continuo focado nisso. Viajei para cá para competir num dos maiores eventos que temos perante adeptos fantásticos. Por agora não posso dizer nada mais do que obrigado por estarem comigo durante tudo isto e por me encorajarem a continuar forte", escreveu o tenista.

Horas depois de conhecida a decisão, a família de Djokovic (pai, mãe e irmão) deu uma conferência de imprensa em Belgrado, na Sérvia, onde falaram na maior vitória da vida do tenista e voltaram a deixar duras críticas ao governo australiano.

"Retiraram-lhe todos os direitos que tinha enquanto ser humano. Quiseram obrigá-lo a assinar uma extensão do visto para ser deportado para a Sérvia, que ele não assinou porque não fez nada de mal. Esteve afastado da equipa e sem telefone. Quando o recuperou falou com os advogados, que prepararam a defesa. Esta é uma vitória para o mundo livre, somos todos humanos e temos o direito de dizer o que pensamos sem consequências. Ele respeitou as leis do país e tudo o que eles pediram para que pudesse fazer o seu trabalho", atirou o pai Srdjan, deixando uma garantia: "Ele está fantástico. Tem uma força mental que esta situação não alterou em absoluto. Deu-lhe energia adicional. Mal pode esperar que o torneio comece. Ganhará os próximos 10 torneios."

O discurso da mãe foi mais pelo lado emocional. "Ele não fez nada de mal nem contrariou as leis australianas, mas foi maltratado. Houve um momento em que não sabíamos se ele estava bem, não conseguíamos falar com ele. Todas as mães entendem como eu estava preocupada. Esta é a maior vitória da sua carreira", considerou Dijana.

Também Rafael Nadal se pronunciou ontem sobre a situação do líder do ranking mundial. "Parece-me perfeito que Djokovic possa competir. Parece-me o correto. A justiça tem de falar neste caso e eu sou sempre um defensor da justiça. Montou-se um circo com muitas histórias, mas, aparte o que possa estar em desacordo com Djokovic, a justiça falou e ele tem direito a participar", disse,

Novak Djokovic, número um mundial, aterrou no aeroporto de Melbourne na quarta-feira à noite para participar no Open da Austrália, que decorre de 17 a 30 de janeiro. Após a chegada, as autoridades de imigração revogaram o visto por, alegadamente, não ter cumprido os requisitos de entrada que procuram prevenir a propagação da covid-19 no país, apesar de uma isenção médica que lhe permitia entrar no país sem vacinação.

A defesa de Djokovic, que se opõe à imunização obrigatória contra a covid-19, alega que o sérvio recebeu uma avaliação por correio eletrónico do Departamento de Assuntos Internos australiano, na qual se indicava que este era elegível para entrar no país sem quarentena, embora o Governo de Camberra argumentasse que tal não constituía uma garantia.

O sérvio acabou por ser retido num centro de detenção para refugiados, de onde só saiu ontem após um parecer favorável do tribunal.

Durante a conferência de imprensa, a família confirmou que Djokovic sabia que estava infetado a 16 de dezembro, dia em que recebeu o resultado positivo de um teste PCR. O que tem criado alguma polémica é o facto de o tenista nos dias a seguir, já infetado, ter participado em alguns eventos públicos e aparecido inclusivamente sem máscara. Esta pergunta foi feita aos pais de Djokovic, que resolveram terminar logo ali a conferência de imprensa, deixando a questão sem resposta...

nuno.fernandes@dn.pt

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