Desforra com vista para os oitavos começou com aula genial de Bernardo

Portugal defronta hoje o Uruguai e um triunfo vale já uma presença nos oitavos-de-final. Conferência de imprensa ficou marcada pelas análises do médio português, que até levaram Fernando Santos a citá-lo várias vezes e a dizer que podia ser ele o treinador.
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Em caso de vitória sobre o Uruguai (19.00, RTP1), Portugal garante já hoje um lugar nos oitavos-de-final do Mundial, o que, a acontecer, seria a quarta vez em oito participações, num jogo onde a seleção tem contas a ajustar com os sul-americanos - foi diante do Uruguai que caiu no Rússia 2018, nos oitavos, com uma derrota por 2-1. Para a partida de hoje, são esperadas algumas alterações, mas a única confirmada por Santos foi a de Pepe no lugar do lesionado Danilo.

A conferência de imprensa de Bernardo Silva (que antecedeu a de Santos) foi tão rica em explicações táticas e momentos do jogo, que o selecionador, na sua abordagem, recorreu a vários exemplos, elogiando a "aula" dada pelo médio ofensivo: "Ele disse tudo. Podia ser o treinador, respondeu melhor do que eu. Bernardo Silva deu aqui uma aula, até a mim".

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Entre várias análises, Bernardo detalhou por que achou que fez um bom jogo com o Gana, explicando que os jogadores têm liberdade para ler o jogo e tomarem eles próprios as decisões, falando da importância da polivalência.

"Tenho de fazer o que o jogo pede. Se sinto que a equipa precisa de mim mais em fase de construção, apoio os centrais, é o que tenho de fazer. Se puder dar mais apoio à frente, também faço - tento puxar a malta da frente para fazer a ligação entre o ataque e as defesas, para que a pressão aconteça. Vou tentar dar coisas diferentes se o jogo pedir. Fiquei satisfeito com a minha atuação com o Gana, quando a equipa precisou estive lá. Se marco menos golos, tenho menos assistências, e menos cabritos e fintas, é pouco relevante. Quero é que Portugal ganhe", analisou.

Questionado sobre este assunto, da liberdade dos jogadores em campo, Santos confirmou que de facto existe, mas com regras.

"Têm liberdade total sabendo como reorganizar o jogo. Sem quintais, sem nome, nem número. Sabem que em posse é criatividade total. Não interessa quem está mais à direita ou ao centro. O que interessa é, nesta anarquia, não perder a bola de forma fácil e a capacidade de recuperar. E, quando o adversário tem posse, estarmos organizados defensivamente. É isso que pretendo, estamos a evoluir bem e a confiar nesse sistema", explicou.

Já depois de Bernardo ter dado a sua opinião sobre a seleção do Uruguai - "uma seleção difícil, muito agressiva" - e de ter chamado a atenção para jogadores como Darwin e Valverde, Santos confirmou que o jogo de 2018 ainda está bem presente na memória, mas que desta vez espera um desfecho diferente, perante um Uruguai que considera igualmente forte.

"Em 2018 ganharam, mas podiam ter perdido. Cavani e Suárez tinham menos cinco anos, era uma grande equipa, tal como agora. É uma equipa muito forte em termos de qualidade técnica, que sabe muito bem o que quer, que joga bem em ataque rápido e coloca bem a bola nas costas dos adversários. Temos de ter muita atenção, porque também chama os adversários com posse e pressiona forte. Deixa que o adversário se embale e adormeça, para poder apertar forte", analisou Santos.

O selecionador não abriu muito o jogo sobre a equipa que vai entrar em campo, deixando apenas uma garantia: dada a indisponibilidade de Danilo, Pepe vai a jogo. "Vai jogar amanhã, não haverá problemas. É um monstro. Se há alguém com um papel tão importante no balneário, é ele", atirou Santos em resposta a uma pergunta sobre a importância do central no seio do grupo, mantendo a dúvida em relação a Nuno Mendes e Otávio.

Ao contrário de todas as outras conferências de imprensa, Cristiano Ronaldo foi apenas tema numa questão colocada a Santos, sobre o peso da palavra e da cobrança de CR7 dentro do grupo devido ao seu estatuto e na qualidade de capitão. O selecionador admitiu que o avançado tem essa liderança, mas lembrou que treinou jogadores que eram bem mais agressivos na hora de falar.

"Já treinei jogadores com palavras mais fortes. Em todas as equipas há jogadores assim, autênticos patrões. Treinei-os no Benfica, no Sporting, no FC Porto, na Grécia. Há quem levante mais o braço, menos, mas o importante é o grupo saber lidar com essas questões. Temos de saber estar com todos. Há jogadores que ficam mais acanhados, outros que se dão bem com treinadores mais agressivos... O Ronaldo com 19 anos não era assim, o João Pinto, o Paulo Bento e o Pedro Barbosa tinham a palavra mais forte que ele", disse.

No último jogo com o Gana, Cristiano Ronaldo e João Félix marcaram, mas Rafael Leão entrou muito bem na segunda parte. Será impossível os três jogadores conviverem juntos no onze? A resposta surgiu mais uma vez com recurso a declarações feitas antes por Bernardo Silva. "Mas há alguma coisa impossível no futebol? Ninguém vem com rótulo de número 1, 2 ou 3. O jogo é que vai mandar. Se tem sistema mais híbrido, se não tem, não há jogadores que não podem jogar, que têm de jogar. A questão não pode ser colocada ao nível individual. Tenho de olhar ao todo, foi o que fizemos com o Gana. É como Bernardo disse", explicou o treinador.

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